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Caio Ribeiro: ‘Poderíamos desmistificar a palavra câncer e todos os medos e traumas’

Comentarista conta como se curar do linfoma de Hodgkin o tornou alguém mais emotivo

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Foto do author Adriana Moreira
Por Adriana Moreira e Caio Possati
Atualização:

Receber um diagnóstico de câncer não é algo fácil. Para Caio Ribeiro, ex-jogador de futebol e comentarista da TV Globo, que descobriu um linfoma de Hodgkin em julho, não foi diferente. Na travessia de três meses que enfrentou para tratar a doença, ele descreve que receber a notícia de que estava com câncer foi “a pior parte”. “Você nunca imagina que isso vá acontecer com você.”

O mesmo aconteceu com esta repórter: em fevereiro deste ano, descobri um câncer de mama e, desde então, trato do assunto no blog Tenho Câncer. E Agora?, aqui no Estadão. Na conversa – que teve ainda a participação do jornalista Caio Possati –, eu e Caio falamos das diferenças e semelhanças de nossos tratamentos: assim como eu, ele terminou recentemente o ciclo de quimioterapias, e está em fase de iniciar as sessões de radioterapia.

Caio Ribeiro comemora vitória contra o câncer Foto: Instagram/ Caio Ribeiro

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Para quem também está passando por algo semelhante, Caio manda um recado. “Se mantenha com a cabeça boa porque tem fim e tem cura. Então, vão ter dias mais chatos, vão ter dias mais fáceis ou menos chatos, mas existe um momento em que isso vai acabar.”

Mas, logicamente, a conversa não ficou apenas em torno disso. Enquanto torcia pelo Napoli – ele comemorou cada um dos três gols do time italiano durante a entrevista – Caio mostrou sua paixão pelo Caioba Soccer Camp, projeto de acampamento e futebol criado por ele e voltado para crianças.

Caio, quando você foi diagnosticado?

Descobri no começo de julho. Em uma sessão de fisioterapia para o joelho de prevenção, o fisioterapeuta foi alongar o meu pescoço e descobriu um “carocinho”. Ele sugeriu que eu comentasse com meu pai que é médico. Ele disse: “Filho, eu sou patologista. Eu sei quando uma coisa é muscular e quando é uma picada de inseto. E não é nada disso. Vai para o hospital amanhã”. Aí a gente descobriu. Então, eu detectei em julho e comecei o tratamento no começo de agosto, depois que acabou a Olimpíada.

Quando a gente tem um diagnóstico, a gente cai para trás, não é verdade?

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É a pior parte. Por mais que eu tenha descoberto no começo, a gente nunca imagina que vai acontecer algo assim. É uma porrada na boca do estômago. Eu não gosto de deixar as pessoas preocupadas. Então, eu falei (do diagnóstico) para o meu pai e para a minha esposa. Mas é duro você ver as pessoas sofrendo por sua causa. A minha mãe saiu da sala para chorar escondida. A minha esposa começou a chorar do meu lado. Então, você vê a cara deles e pensa: ou eu afundo ou eu enfrento. Então vamos levantar a cabeça e vamos enfrentar.

O diagnóstico é a pior parte. A gente nunca imagina que vai acontecer algo assim. É uma porrada na boca do estômago

Caio Ribeiro, comentarista e ex-jogador de futebol

Eu perguntei ao meu médico, Otávio Baiocchi, se eu conseguia enfrentar o tratamento sem ninguém saber. Eu perguntei por causa do meu filho, que vai fazer 11 anos e está na idade de perceber as coisas. Eu não queria que ele ficasse preocupado. Ele falou: “Caio, tem um risco pequeno mas como a gente descobriu no começo, e a medicação é leve, acho que você consegue passar por esse processo sem ninguém saber”. Mas, uma hora o cabelo começou a cair. Ai, liguei para a Globo. Eles foram muito gentis e me deixaram à vontade para decidir a forma como eu ia me comunicar com o público.

Aí fui conversar com meu filho. Falei que não ia morrer, que não ia ser internado. Falei que estava com uma doença que não era leve, e que estava no meio do tratamento. Eu mostrei o meu cabelo para ele e sugeri: “Vamos passar máquina?”.

Você mostrava que estava bem, animado e comentava os jogos. Isso acaba dando forças para o público. Você foi procurado por outras pessoas que estavam em situações parecidas?

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Nós retomamos o Caioba no final de setembro. Teve um recorde de crianças. E teve uma mãe, que me emocionou um pouco mais. Ela e o marido esperaram ao lado do palco a apresentação do evento se encerrar. Na hora que acabou, o marido me deu um abraço. Ela falou: “Caio, eu vi seu vídeo e estou com a mesma coisa (linfoma de Hodgkin) que você”. Eu comecei a me tocar e descobri por conta do seu vídeo. O que você está achando de mim?” Eu falei: “Você está linda!”. Ela falou: “Eu estou careca, isso é uma peruca, porque eu não queria assustar os meus filhos, e eu vi que você teve a mesma preocupação.”

Então, talvez eu esteja passando uma mensagem legal, de apoio, de força. E, a partir dessa onda de amor que eu recebo até hoje, veio uma segunda remessa de mensagens de pessoas passando pela mesma situação que a gente, Dri. Você percebe que não é só um problema meu e seu. Tem tanta gente passando por isso. Então, se a gente pudesse desmistificar um pouco a palavra “câncer” e todos os medos e traumas que a gente recebe na hora do diagnóstico, talvez a gente tenha tornado a vida dessas pessoas um pouquinho menos difícil.

Em uma autoanálise, você vê um Caio antes e outro depois da doença?

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Como eu recebi muito carinho, então acho que estou mais sensível. Eu falo sobre isso (câncer), eu choro; eu vejo filme e choro. Talvez no Caioba tenha acontecido uma mudança que vou contar para vocês. A gente tem cinco anos de projeto, mas, o nosso sonho sempre foi fazer um Caioba 100% social. Não é barato. Só que recebemos tanto carinho nesse período que a gente falou: “É o mês das crianças, vamos fazer uma edição especial? Vamos tentar devolver para as famílias que não poderiam estar com a gente porque é caro?”. Então, pela primeira vez, fizemos um Caioba para 170 crianças na edição “Dia das Crianças” deste ano. E dessas 170 crianças, 70 são de comunidades. Foi a maneira que a gente encontrou para devolver o carinho que a gente recebeu e dar de presente para essas crianças que não poderiam estar lá. Uma metade é do projeto do Edmilson (ex-jogador) e outra metade é da CUFA (Central Única das Favelas).

Vamos falar um pouco sobre a seleção? Apesar da boa vitória contra o Uruguai, a equipe sofre com questionamentos. Estamos bem colocados nas Eliminatórias em função da falta de seleções mais fortes na América do Sul?

Eu acho o trabalho do Tite muito bom. Se analisar os números, ter 10 jogos, nove vitórias e um empate é muita coisa. Mas também temos que olhar para os adversários e entender que a única que faz frente com o Brasil é a Argentina. A outra questão é que, a partir do momento que você alcança essa classificação para a Copa, é a hora de soltar esse time. Não só jogar pelo resultado, mas ter um rendimento melhor, encantar, ter um time mais leve. Acho que essa mudança passa muita pela seleção olímpica e pela oxigenada que o Tite deu nos últimos jogos. Alguns jogadores já bateram no teto. Já participaram de alguns ciclos de Copas e você sabe que não vai acontecer mais nada. Então, é melhor olhar para a seleção olímpica e ver Antony, Arana, Bruno Guimarães, Pedro, Raphinha. Eles são jovens, talentosos e não sabemos qual o limite deles. Eles precisam de oportunidade e sequência.

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