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Cartolas abandonam a seleção brasileira no Chile

Cúpula da CBF e chefe da delegação ficam longe dos atletas

Foto do author Almir Leite
Foto do author Gonçalo Junior
Por Almir Leite , Gonçalo Junior e enviados especiais a Santiago
Atualização:

Marco Polo Del Nero, o presidente, não apareceu nem pretende aparecer. João Dória Jr., o chefe da delegação, vem para os jogos da equipe e volta correndo para seus negócios no Brasil. Walter Feldman, o secretário-geral, também vive no vai e vem, preocupado com o torpedeamento da CBF, com a CPI e com a medida provisória do refinanciamento da dívida dos clubes. Suporte de dirigente é algo que a seleção brasileira que disputa a Copa América não tem.

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No caso da suspensão de Neymar não havia dirigente por perto durante todo o processo. O diretor jurídico, Carlos Eugênio Lopes conduziu a estratégia de defesa desde o Rio, com informações passadas pelo jogador e pela comissão técnica.

Além disso, não teve ninguém atuando para tentar atenuar a pena. É fato que o julgamento do craque coube ao Tribunal Disciplinar da Conmebol, que agiu com rigidez. Mas, nessas situações, um "papo" descompromissado num café, por exemplo, ajuda a amolecer corações. E mostrar força política no futebol também é quesito importante, mesmo em épocas de cartolagem fragilizada.

Desde que a seleção chegou ao Chile, é raro ver algum dirigente brasileiro junto com a delegação. Nos treinos, não aparecem. No hotel em que o grupo se concentra, não participam da maioria das atividades do elenco (refeições, reuniões).

Nos jogos, passam pelo vestiário, mas é mais fácil serem vistos nas tribunas, com cartolas de outros países - os que aparecem, porque muitos também optaram por não dar as caras depois que o escândalo de corrupção na Fifa veio à tona.

É um comportamento bem diferente do que acontece tradicionalmente. Até recentemente, inclusive na administração de José Maria Marin, era comum ver o chefe de delegação, normalmente gente ligada ao futebol, junto dos atletas. Alguns também tratavam de assuntos de interesse da seleção. Marin e Del Nero estavam sempre presentes.

AGORA, NÃO

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A agenda de Doria Jr. e Feldman tem compromissos com autoridades, diplomatas, visitas de cortesia. Também tem encontros com dirigentes, mas tudo de maneira muito formal.

Até o contato com eles anda complicado. Desde segunda-feira o Estado pede entrevista com Doria. Sem sucesso. Na quinta e na sexta-feira ligou ao menos oito vezes para o celular de Feldman, igualmente sem sucesso.

Nos primeiros dias de treinos para a Copa América, quando a seleção ainda estava em Teresópolis, Feldman havia defendido a nomeação de Doria Jr. - feita antes de explodir o escândalo. "Confiamos plenamente nele, o presidente está seguro da decisão. Faz parte de sua política de abertura, de participação", disse o secretário-geral, ele mesmo um "estranho no ninho" no ambiente da seleção.

Tal posição ainda é mantida oficialmente. E o "ida e volta’’ do empresário Dória Jr. já estava acertado, garante Feldman. 

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No entanto, um frequentador da concentração, que há pelo menos uma década acompanha a seleção, diz que o chefe da delegação não agrada tanto assim. "Já ouvi dizerem que ele só quer saber de assistir os jogos e depois some’’, revelou ao Estado. "Claro que a seleção já teve muito chefe inútil, mas que ao menos se mostrava presente."

Del Nero estaria arrependido de nomear Doria Jr., por sua falta de traquejo em momento tão delicado. Foi por isso, e por não poder deixar o Brasil durante a crise, que colocou Feldman para ajudar o empresário. Mas o fato é que Dunga está desprotegido. A rigor, só ele se expõe, porque até o coordenador Gilmar Rinaldi anda avesso ao contato com a imprensa.

Os jogadores procuram não dar importância à ausência dos cartolas. Questionado sobre a ausência de Del Nero, o volante Fernandinho disse: "Se o presidente vier nos visitar, ótimo. Se não vier, estaremos pensando só no jogo (com a Venezuela)."

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