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Centenário da seleção brasileira vira festa para rival de 1914

Exeter City, time inglês da 4ª divisão, programa viagem ao País com excursão da torcida e jogo no mesmo estádio do confronto histórico

Por Ciro Campos
Atualização:

A seleção brasileira não precisa ganhar a Copa para ter o que comemorar em julho. No próximo mês, a equipe pentacampeã mundial completa 100 anos de sua primeira partida. Mesmo sem nenhuma comemoração anunciada para a data, se quiser, pode se juntar a uma festa já agendada. O anfitrião é o primeiro adversário do Brasil, que se mobiliza para o centenário do jogo com o mesmo empenho de Felipão e seus comandados na busca pelo hexa.

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O Exeter City, time da 4.ª divisão inglesa, orgulha-se de ter enfrentado a recém-formada seleção brasileira em 21 de julho de 1914 e estará de volta ao mesmo local da partida, o Estádio das Laranjeiras, no Rio, agora para enfrentar o Fluminense. O encontro será dia 20 de julho.

Felizes pela simples oportunidade de voltar ao Brasil, os ingleses não se abalaram com as recusas do Brasil em marcar um novo jogo. A CBF garantiu estar focada na disputa da Copa e prometeu organizar algum evento para celebrar a data, mas não deu detalhes.

A vinda do Exeter terá a companhia de cerca de 120 torcedores fanáticos, que já têm presença confirmada para acompanhar a viagem. Ao embarcarem, vão trazer a ansiedade por reviver o momento mais glorioso da história do Exeter City. O time do sudoeste da Inglaterra jamais conquistou títulos importantes e se orgulha tanto de ter sido o primeiro adversário da seleção que o principal canto da torcida é: "Vocês já jogaram contra o Brasil?".

"Vamos levar várias camisas, cachecóis e itens do clube para vender no Rio. Queremos aproveitar a cidade ao máximo", disse o chefe da excursão, o funcionário público aposentado Neil Le Milliere, de 60 anos. Fanático pelo clube, no ano passado ganhou o prêmio de torcedor do ano da Liga de Futebol e ainda foi premiado pelo príncipe William em uma festa no Palácio de Buckingham pelos 150 anos do futebol.

O próprio elenco também está empolgado. Não é sempre que um time da 4.ª divisão inglesa consegue a regalia de fazer a pré-temporada no Brasil, ainda mais com tantos elementos diferentes. "Contra o Fluminense, o pontapé inicial do jogo será com a mesma bola usada em 1914. Vivemos a expectativa de reviver a história", contou o diretor comercial do clube, Bruce Henderson. O dirigente esteve no Brasil em maio para cuidar de detalhes da excursão e negociar amistosos com outros possíveis adversários, como o Madureira, o Tupi, de Juiz de Fora (MG), e o Brasil, de Pelotas (RS).

As comemorações na Inglaterra, porém, já iniciaram. No ano passado, o clube promoveu a festa de 99 anos e, entre as ações, lançou uma camisa amarela em homenagem ao Brasil. Pela primeira vez na história o Exeter deixou de lado o vermelho e branco, e a estreia com a nova cor foi em um jogo que teve até presença de escola de samba.

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Ainda que a cidade de 120 mil habitantes viva a expectativa pela data, o clube lamenta não poder tirar mais proveito disso. "Somos um time pequeno e temos de ser justos com os torcedores. Se lançarmos vários produtos pelo centenário do jogo, eles não vão poder comprar e talvez até fiquem sem dinheiro para ir aos jogos", explicou o vice-presidente do Exeter, Julian Tagg.

PARTICIPAÇÃO ARGENTINA

A ligação entre o Brasil e o time inglês teve a Argentina como intermediária. A federação local havia convidado uma equipe britânica para amistosos em Buenos Aires. O Exeter, então na 3.ª divisão, aceitou a aventura de viajar de navio depois da recusa do Tottenham.

Quando já estavam na América do Sul, os ingleses receberam o contato da Federação Brasileira de Sports (FBS). O convite era atracar no Rio para três amistosos. O primeiro, contra um time de ingleses, o segundo, diante de uma equipe local, e por fim, o "Brasileiros XI", escalado com atletas cariocas e paulistanos.

Durante a agenda de partidas no Rio, os jogadores ingleses ainda se envolveram em confusões. "Alguns acabaram presos por conduta indecente, porque foram à praia sem camisa. Na delegacia, horas de negociação para serem libertados, até um tradutor vir para ajudar", contou o historiador da Universidade de Exeter, William Barrett.

A partida terminou com a vitória brasileira por 2 a 0. Ao longo desses 100 anos, a equipe acumulou títulos, mas se afastou de seu primeiro adversário sem perceber o quanto continua a fazer felizes os ingleses de Exeter./ COLABOROU ALMIR LEITE

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