As recentes tentativas da China de emergir como uma séria nação de futebol assumiu contornos curiosos. Um dos mais recentes é visível – ou melhor, invisível – na Copa Asiática. As temperaturas no torneio, que está sendo disputado nos Emirados Árabes Unidos, podem ser sufocantes, fazendo com que a visão de alguns jogadores chineses vestindo camisetas de manga comprida por baixo de suas camisas pareça intrigante.
A resposta está em um decreto semioficial de autoridades esportivas chinesas emitido no ano passado proibindo tatuagens que sejam visíveis durante as partidas. A diretiva aplica-se à equipe nacional, mas também aos jogadores chineses em competições domésticas, como a Superliga chinesa.
O futebol é atualmente uma prioridade nacional do presidente Xi Jinping, e as autoridades de futebol da China esperam que os melhores jogadores do país promovam valores positivos para a próxima geração de atletas e seus pais, alguns dos quais continuam receosos em permitir que seus filhos pratiquem um esporte que pode ser perigoso ou, pior, frívolo. De certa forma, a regra de coibir tatuagens é um microcosmo da interminável luta que o governo central enfrenta com suas lealdades às vezes em conflito com a modernidade e controle.
A regra pode ser mais onerosa para alguns jogadores do que para outros. É o caso do zagueiro Zhang Linpeng. A maior parte de seu corpo, incluindo a totalidade de ambos os braços, é fortemente tatuada. Ele vem jogando com uma camisa de compressão por baixo de sua camisa nacional na Copa da Ásia, embora tenha evitado cobrir as marcas na perna direita e no pescoço.
Outros jogadores têm menos trabalho; uma parte traseira ou panturrilha tatuada é geralmente coberta pelo uniforme de um jogador, enquanto uma parte menor de um desenho pode ser escondido sob um adesivo. (Zhang e outros conseguiram uma pausa: cobrir tatuagens não é obrigatório para as sessões de treinamento.)
A Federação Chinesa e os organizadores do torneio não querem falar sobre o assunto. Em uma coletiva antes do jogo com a Coreia do Sul, uma autoridade esportiva tentou encerrar uma pergunta sobre as tatuagens antes que o técnico italiano da seleção chinesa, Marcello Lippi, pudesse responder.
Depois que a questão foi reformulada, Lippi deu uma curta resposta diplomática, dizendo que não estava preocupado com o edital. O capitão da equipe, Zheng Zhi, sentado à direita de Lippi, reprimiu uma gargalhada, mas se recusou a comentar a questão. “Isso é apenas um detalhe; eu realmente não quero falar sobre isso”, disse Lippi.
Zhang, considerado um dos melhores jogadores da China, não atuou em dois jogos da seleção nacional após a proibição da tatuagem ter sido estabelecida. O motivo oficial foi uma lesão, mas fãs furiosos especularam na mídia social que a China havia sido arrasada o em partidas contra o País de Gales e a República Checa porque foi forçada a jogar sem Zhang, suspeito de ter sido afastado por causa de suas artes corporais.