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Cláudio e Michael, aliviados e felizes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Michael, 22 anos, encarava duas horas de condução, todos os dias, para poder treinar no time B do Palmeiras; Cláudio, 16, mora com outros 25 atletas num sobrado atrás do Palestra Itália - dorme numa beliche. Até semana passada, ser titular do Palmeiras era um sonho distante para ambos. Mas nesta quarta-feira, quem diria, foram decisivos na vitória por 2 a 1 sobre o São Caetano, no Palestra - o décimo jogo invicto de Emerson Leão. "Falei para eles que, do banco, você pode sair para o apogeu", disse o treinador, feliz com o desempenho de seus pupilos. "Banco não é para descansar. É para solucionar problemas. E agora, solucionou". Leão era de longe a pessoa mais orgulhosa no vestiário do Palmeiras. As demais - jornalistas, diretores, conselheiros - pareciam assustadas. Ainda estavam surpresas com o rendimento de Michael e Cláudio. Mas Leão, não. Leão sabia exatamente o que estava fazendo quando escalou os dois desconhecidos. "Não tenho medo nenhum de lançar um garoto", costuma dizer. Intimidados diante de tantas câmeras e microfones, Michael e Cláudio tentavam dar detalhes de suas experiências em campo - a primeira para ambos, diante da própria torcida, no Palestra Itália. O lateral-esquerdo ressaltou seu sangue frio. "Eu me senti tranqüilo para mostrar meu futebol". O atacante, que entrou no lugar do lesionado Warley, ainda no primeiro tempo, falou de seu estilo. "Gosto de tentar uma jogada individual, de ir para cima, de ?pedalar?. Esse é o Cláudio que a torcida vai ver sempre." Parecia um veterano falando. E só tem 16 anos. Da porta do vestiário até o sobrado onde mora - a chamada Casa do Atleta, numa rua atrás do Palestra Itália -, são menos de 100 metros. Com o uniforme de passeio do time e uma mala cheia de roupas, Cláudio percorreu o caminho olhando para os lados, temendo ser reconhecido. "Não sei ainda como vai ser lidar com a torcida, com o assédio. Acho que vai ser legal", disse o garoto, antes de se despedir dos jornalistas. "Desculpa, gente, mas preciso ir. Estou com dor de barriga e ainda quero ligar para minha mãe." A mãe de Cláudio está em Petrolina, Pernambuco. Em São Paulo, o atacante só tem um irmão, Berg. Aos 21 anos, ele saiu do Nordeste em fevereiro para tentar a sorte na capital paulista. "Ele ainda não conseguiu, está desempregado. É difícil arranjar trabalho", diz Cláudio. Michael também sabe disso. Um dos cinco filhos de uma família humilde de Mauá, cidade da Grande São Paulo, o lateral ralou muito para estar onde está. Todos os dias, levava duas horas entre um ônibus e um trem até chegar no CT da Barra Funda. Levava. Não leva mais. Desde esta quarta, Michael mora num apartamento alugado pela diretoria palmeirense, ao lado do Palestra Itália. Foi sua primeira noite de sono na confortável suíte do flat. Parecia um prêmio. "Não sei nem explicar a emoção de fazer um gol. Na hora, só quis saber de correr para a galera e comemorar". Seu próximo motivo para festejar deve ser uma renovação de contrato por mais três anos, que já vem sendo discutida pela diretoria. Cláudio está mais tranqüilo: tem contrato até 2007. "Meu sonho agora é ser titular", diz, esperançoso.

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