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Clubes: tempo para virar empresas

Por Agencia Estado
Atualização:

A atenção dos torcedores estava concentrada na preparação da seleção brasileira para o jogo contra a Bélgica, pelas oitavas-de-final da Copa do Mundo, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso surpreendeu com um gol de placa ao assinar a medida provisória que modificou sensivelmente os rumos do futebol. Foi uma surpresa ? chamada pelo próprio presidente de "Lei de Responsabilidade Esportiva" a MP, assinada no dia 14, provoca uma íntima mudança na forma de organização ao obrigar clubes e entidades esportivas, entre outras mudanças, a se transformarem em sociedades comerciais. "Hoje, a impunidade ainda existe mas tem muita gente que precisa tomar cuidado, senão vai parar na cadeia", comemorou Caio Luiz de Carvalho, ministro do Esporte e Turismo, lembrando de um dos principais itens da medida, que responsabiliza os dirigentes pela qualidade de sua gestão nos clubes. Isso significa que eles poderão ser demitidos em caso de irregularidades financeiras e até seus bens podem ser penhorados em caso de processo contra o clube. A medida não tem efeito retroativo e está em vigor desde o dia 17. As mudanças foram recebidas com felicidade e um certa reserva pelos envolvidos. "A MP veio em boa hora e os clubes precisam demonstrar que querem as alterações", afirma José Carlos Brunoro, ex-diretor de Futebol da Parmalat e atual consultor de diversos clubes. "Mas era preciso estabelecer uma trégua, um tempo para que todos possam se adeqüar corretamente." O suspiro foi concedido: a conquista do pentacampeonato sensibilizou o governo, que acenou com um prazo de seis meses para adaptação às novas regras. "É o mínimo que precisamos para transformar o clube em uma S.A.", comenta Fábio Koff, presidente do Clube dos Treze. No dia em que a seleção desfilou em Brasília, o deputado Ronaldo César Coelho (PSDB-RJ), relator da medida, anunciou que o projeto de conversão da MP deverá incluir uma proposta de ampla renegociação dos débitos dos clubes com o governo, principalmente com o INSS. Ele discutiu pessoalmente com FHC e Caio Luiz de Carvalho os limites das concessões. Os clubes, porém, deverão aderir ao regime de transparência na gestão, uma das principais exigências da Medida Provisória. Segundo Brunoro, o governo precisa promover incentivos, como facilitar o pagamento de impostos (especialmente os atrasados) ou a criação de novas linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "A responsabilidade principal é dos dirigentes, mas é preciso um voto de confiança do governo", comenta ele. "Só assim é possível resgatar a credibilidade necessária para atrair investimentos estrangeiros." Uma das propostas de incentivo, que é apoiada tanto por Brunoro como pelo presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva, é a criação de um fundo de amparo aos clubes que investirem em ao menos um esporte olímpico. "Essas modalidades podem morrer porque o futebol é a prioridade dos clubes por ser a principal fonte de receita", comenta Silva. O apoio é necessário, pois, como observa Antônio Roque Citadini, ex-vice-presidente de Futebol do Corinthians, "agora todos os clubes vão ter de mostrar o buraco de seus caixas". A situação, garante alguns, não é lamentável para todos. O presidente do São Paulo, Marcelo Portugal Gouvêa, por exemplo, acredita que o clube não enfrentará problemas ? segundo ele, o São Paulo tem uma auditoria externa que controla suas contas. Já os principais interessados nas melhorias previstas pela MP, técnicos e atletas, esperam que finalmente a profissionalização de fato seja uma realidade. "Esse pode ser o ponto de partida para a salvação do futebol", comentou Osvaldo de Oliveira, técnico do São Paulo. A fase de adaptação será atribulada, mas o choque será necessário, acredita o senador Geraldo Althoff (PFL-SC), autor de algumas das propostas da MP. "A medida não terá uma eficácia imediata, mas a médio prazo", reconhece. "É o tempo para começar a colocar as coisas em seu devido lugar."

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