Publicidade

Técnico português e jogo coletivo: entenda como o Flamengo chegou ao topo do Brasileirão

Jorge Jesus levou o elenco milionário do Rubro-Negro à liderança do Nacional e está perto da semifinal da Libertadores

PUBLICIDADE

Foto do author Raphael Ramos
Por Raphael Ramos
Atualização:

O técnico Jorge Jesus, em pouco mais de dois meses de trabalho no Flamengo, conseguiu transformar dinheiro em liderança do Campeonato Brasileiro. Elenco num time competitivo e coletivo. Na Libertadores, por exemplo, o grupo milionário do Rubro-Negro está muito perto de uma vaga para a semifinal, algo que não alcança há mais de 30 anos - na quarta-feira, o time enfrenta o Internacional no Beira-Rio com a vantagem de ter vencido a partida de ida por 2 a 0. Só um desastre tira a classificaçao do Fla.

O técnico português tem mudado alguns paradigmas no futebol brasileiro, e já é reconhecido nas ruas do Rio de Janeiro. Ele disse, por exemplo, não entender por qual razão valorizamos mais a Copa do Brasil do que o Campeonato Brasileiro. Para ele, com sua mentalidade europeia, o Nacional está à frente nesta opção. Ou deveria estar.  Quando ele assumiu o time da Gávea, a distância para o então líder Palmeiras era de oito pontos. Agora, é o time de Felipão que olha o Flamengo no topo da tabela, com três pontos a menos (33 a 30).

Jorge Jesus, técnico do Flamengo Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

PUBLICIDADE

Não é exagero afirmar que a força do Flamengo está no seu elenco, recheado de bons jogadores e alguns craques. Em 12 jogos no comando do Rubro-Negro, o Jorge Jesus mandou a campo 12 formações diferentes e, mesmo assim, a equipe manteve o fôlego para lutar pelos títulos tanto do Brasileiro quanto da Libertadores. Com o português no comando, o Flamengo já não depende tanto do talento individual dos seus grandes atletas e confia no jogo coletivo.

O melhor exemplo desse "novo Flamengo" foi o segundo gol da vitória por 3 a 0 sobre o Ceará, domingo, em Fortaleza. Em 1min15s de posse de bola, foram 20 passes até Gabigol estufar a rede adversária com uma "bomba" de dentro da área. Jogo coletivo, portanto.

É preciso destacar também a grande fase de Gabigol. No domingo, o atacante marcou o seu 12.º gol no Brasileirão, o 25.º no ano. Emprestado pela Inter de Milão, o jogador recebe R$ 1,25 milhão por mês de salário e tem correspondido ao alto investimento feito pela diretoria. Ele arrasta o torcedor para o estádio e dobra sua confiança nas vitórias. A média de público do Flamengo neste Nacional é a maior dentre todos os outros participantes, com  média de 47.477 pagantes por jogo. 

Não por acaso, os jogadores mais caros do elenco do Flamengo são aqueles que têm liderado o time na temporada. No início do ano, a diretoria desembolsou 15 milhões de euros (R$ 63,7 milhões) para comprar o uruguaio Arrascaeta do Cruzeiro, numa das transações mais caras entre clubes brasileiros. Antes, o Flamengo havia contratado o zagueiro Rodrigo Caio, do São Paulo. Pagou 5 milhões de euros (cerca de R$ 22 milhões) por 45% dos direitos econômicos.

Artilheiros do Flamengo no ano

Publicidade

Gabigol: 25 gols Bruno Henrique: 18 golsArrascaeta: 11 golsVitinho: 6 golsDiego: 4 golsÉverton Ribeiro: 5 gols

Com direito a gol de bicicleta de Arrasceta, o Flamengo derrotou o Ceará por 3 a 0 e assumiu a liderança do Campeonato Brasileiro Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

No meio do ano, o Flamengo reforçou as duas laterais com as repatriações de Rafinha (ex-Bayern de Munique) e Filipe Luís (ex-Atlético de Madrid). São jogadores renomados. Também comprou o meia Gerson por quase R$ 50 milhões da Roma. Todas essas contratações só puderam ser feitas depois de o clube passar por uma reorganização financeira. A Análise Econômico-Financeira dos Clubes Brasileiros de Futebol de 2018 promovida pelo Itaú BBA mostra que o Flamengo arrecadou R$ 536 milhões no ano. O clube só ficou atrás do Palmeiras, que teve receita total de R$ 654 milhões. Alviverdes e rubro-negros concentram 24% das receitas do clubes brasileiros.

Em entrevista ao Estado no mês passado, o consultor do Itaú BBA, César Grafietti, ressaltou que a tendência dos dois para os demais é aumentar. "Há um descolamento de Palmeiras e Flamengo, eles jogam uma liga diferente do ponto de vista financeiro. Há uma boa distância que deve aumentar nos próximos anos, porque o contrato da TV, por exemplo, fica maior por desempenho e número de jogos na TV aberta. Com o clube bem financeiramente, tende a aumentar o desempenho e, consequentemente, a quantidade de jogos transmitidos", afirmou.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A dívida do Flamengo vem caindo ano após ano. Está estruturada. Em 2013, ela era de R$ 750 milhões e fechou em R$ 418 milhões no fim do ano passado. "O Flamengo entendeu lá atrás que era fundamental reorganizar a gestão para não quebrar, e os outros continuaram com suas gestões amadoras e não levaram a sério que o futebol precisa se profissionalizar. O Flamengo se apropriava menos do que poderia antigamente. Hoje, é uma potência econômico-financeira", diz César Grafietti.

O Flamengo também aderiu ao Profut, programa de refinanciamento das dívidas criado pelo Governo em 2015, e destinou 15% do seu faturamento para abater dívidas. Assim, mesmo com contratações ousadas, a diretoria tem conseguido pagar em dia os seus compromissos. Baseado no que arrecadou em 2018 e em sua atual dívida, daria para afirmar que o Flamengo tem sua gestão financeira sob controle. Isso implica diretamente no futebol, nas equipes de qualidade, nas possíveis classificações e, claro, nas chances de brigar por títulos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.