
17 de outubro de 2019 | 10h53
Quando Vanderlei Luxemburgo assumiu o Vasco, em maio, o que se desenhava no horizonte do torcedor era mais uma temporada difícil, daquelas de salvar a pele e nada mais no Campeonato Brasileiro. Lanterna da competição, com um ponto em três jogos, o time de São Januário tinha poucas perspectivas. Sem dinheiro em caixa, com pouca torcida nas arquibancadas e desmotivado após perder duas vezes para o maior rival, o Flamengo, nas finais do Carioca, o que se vislumbrava era um time que jogaria o Nacional tentando evitar a terceira queda para a Série B nesta década. O elenco também não era dos melhores. Para surpresa e alegria do torcedor cruzmaltino, porém, a história está sendo escrita de outra forma.
Ao vencer o clássico com o Botafogo nesta quarta-feira, por 2 a 1, o Vasco chegou aos 34 pontos e tem tudo para terminar o Brasileirão sem maiores sobressaltos – quatro vitórias nos últimos 12 jogos que lhe restam na temporada devem ser mais do que suficientes para evitar qualquer risco de degola. A situação talvez nem preocupe mais o treinador e os jogadores. A situação é tão confortável que Luxemburgo começa, inclusive, a pensar em metas mais condizentes com o tamanho do clube. Hoje, o Vasco tem vaga assegurada na Sul-Americana do ano que vem, uma competição internacional, portanto.
"A cabeça de quem trabalha no Vasco é uma cabeça de grandeza. Tem de ser assim. Começamos agora a olhar para cima. Estamos a oito pontos da zona (de rebaixamento) e a sete do G-6, que vale Libertadores. Temos de olhar para onde estamos mais perto", disse o técnico após a vitória por 2 a 1 sobre o Botafogo. Foi a nona vitória da equipe.
O discurso é coerente com o que o técnico vem pregando desde que assumiu a equipe, o de recuperar a "cultura de grandeza" do clube. E isso que precisou convencer torcida e diretoria de que era uma boa opção. Pentacampeão nacional, Luxemburgo vinha em baixa e estava sem treinar desde que deixara o Sport, em 2017. Só foi levado ao Vasco após o presidente Alexandre Campello ouvir recusas de Jorge Jesus, Dorival Júnior e Diego Aguirre. Era uma combinação também. Luxemburgo poderia ajudar o Vasco e o Vasco tinha tudo para resgatar o treinador no futebol brasileiro.
O início em São Januário foi ruim, mas a partir da vitória por 2 a 1 sobre o Internacional, na oitava rodada do Nacional, o time engrenou. Os bons resultados coincidiram com o retorno da torcida às arquibancadas. Elenco e torcida voltaram a sorrir. Com média de 19 mil pagantes por jogo, o clube tem 65% de taxa de ocupação em seu estádio, a quarta melhor entre os 20 clubes que disputam o Brasileirão. Perde só para Flamengo (82%), Corinthians (73%) e Palmeiras (69%), todos no alto da tabela.
"Jogar em São Januário é muito difícil para o adversário quando a torcida está assim, empolgada. Não com território hostil, mas jogando conosco", comentou Luxemburgo. Claro que só na base do grito o time não teria o desempenho satisfatório deste Brasileirão – é o melhor dos últimos sete anos. Dentro de campo, o Vasco também tem jogado (bom) futebol, e muito por causa de jovens jogadores como Talles Magno, Ricardo Graça, Henrique, Andrey, Marrony e Tiago Reis.
O mais badalado deles é Talles Magno, de apenas 17 anos. Convocado pela seleção para o Mundial Sub-17, o atacante tem sido o diferencial técnico do time cruzmaltino. Na semana passada, ele ganhou as manchetes após dar uma "lambreta" em Gabriel Dias, do Fortaleza, que o marcava na lateral do campo. O drible – também conhecido como "carretilha" e que se tornou quase que marca registrada de Falcão no futsal – fez com que o marcador optasse por uma falta, que lhe rendeu expulsão.
Talles Magno é tratado como joia no clube cruzmaltino. E Luxemburgo tem também muito a ver com seu rendimento. Recentemente, o treinador disse que o "moleque" pratica o futebol brasileiro. Referia-se à ginga mais vista no passado e que muitos times deixaram para trás em troca da dedidação de marcar e apostar nas formações táticas. Num rápido resumo desse Vasco que sobe a colina no Brasileirão, daria para apontar um elenco esforçado com um talento entre eles, Talles, um treinador que voltou a se encontrar, uma torcida empolgada e bons números na competição.
Após duas vitórias em sequência, o Vasco agora busca se aproximar ainda mais do G-6 diante do Inter, seu próximo compromisso e o mesmo rival que representou ponto de virada da equipe carioca neste Brasileirão.
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