30 de maio de 2016 | 03h00
Pois então, Cuca teve uma proposta interessante para o clássico de ontem à tarde com o São Paulo. O treinador armou o Palmeiras teoricamente com quatro atacantes como titulares, logo de largada – Gabriel Jesus, Roger Guedes, Alecsandro e Dudu. Este último, digamos, com a função de ser também um meia, sem radicalizar. Na marcação deixou, Thiago Santos e Jean, com a ajuda frequente do inoxidável Zé Roberto.
A estratégia estilo “Galo doido”, que ele usava no Atlético-MG campeão da Libertadores, funcionou por 10 minutos, esticando o cronômetro com boa vontade. O início palestrino teve velocidade, atrevimento, finalizações. Denis deve ter imaginado que seria outra jornada de muito trabalho e dor de cabeça sob as traves tricolores. (Dor que veio, literalmente, num choque com Alecsandro, no segundo tempo, e que lhe valeu alguns pontos na testa.)
O São Paulo contrabalançou com Ganso, meia de estirpe antiga, aqui entendida como elogio e não como função anacrônica. Ou seja, o sujeito que pensa o jogo, toca de primeira, faz lançamentos precisos e preciosos, deixa os companheiros de frente para a meta adversária. Que tem intimidade com a bola. E, se houver oportunidade, ele próprio arremata... e marca. A chance apareceu, Ganso não a desperdiçou. Aos 11 minutos e para garantir o placar.
Esse foi o tempo que em que se sustentou a presunção verde. Não se trata de arrasar uma postura ousada – estas sempre devem contar com simpatia e estímulo. Porém, mais do que quantidade conta a qualidade, para recorrer a chavão adequado. O Palmeiras teve, no papel, uma blitz; na prática, passou quase meia hora sem um chute sequer ao gol. Denis quase dormiu em campo.
Não foi muito diferente no segundo tempo, pois o goleiro são-paulino apareceu com uma defesa e a trombada com Alecsandro. Cuca desfez a ideia original, no intervalo, ao voltar com Moisés e Rafael Marques, nas vagas de Thiago Santos e Roger Guedes. Não adiantou grande coisa. O São Paulo, estilo quadradão e funcional de Edgardo Bauza, continuou a mandar no meio-campo, sob a regência de Ganso.
O jogador que mais trabalhou e suou a camisa foi Fernando Prass. Outra vez, impediu vexame, por baixo com quatro intervenções daquelas de prender o fôlego dos torcedores, os do time dele e os do rival. O São Paulo merecia diferença maior; resultado que não condiz com o que cada equipe jogou.
Mesmo assim, a turma tricolor mostra que, aos poucos, apreende a estratégia pragmática do argentino e se torna estável. Bom lembrar que um dos segredos do sucesso nos campeonatos por pontos corridos está na regularidade.
Característica ausente no Palmeiras, até aqui só com extremos: perde ou ganha. Cuca não precisa mandar o impulso inovador pra escanteio; basta dosá-lo. E que falta lhe faz um “maestro” para o meio-campo. Seria Cleiton Xavier; pelo visto, herdou as contusões crônicas de Valdivia...
SEM PIEDADE
Tite sabe que não se pode vacilar diante de rival instável; um pecado mortal a destruir planos para conquista. Nas duas últimas rodadas, o Corinthians seguiu o roteiro ao pé da letra. Assim, primeiro bateu a Ponte Preta (3 a 0, no meio da semana). Repetiu a dose no final da manhã de ontem, com os 2 a 0 no Sport, em Recife. Recupera fôlego e se reequilibra. No entanto, carece no meio do ataque. Luciano, substituto de André, de novo não foi bem.
QUEDA NA VILA
O Santos perdeu longa invencibilidade em casa, com o 1 a 0 para o Inter; isso é detalhe. O problema foi o futebol frágil do campeão paulista. Já o Colorado saltou para a ponta, dividida com o Grêmio. Há muito não se via o futebol gaúcho na liderança. Muito bacana.
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