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Com roteiros de superação, jogadoras de Palmeiras e Corinthians decidem Brasileirão feminino

Depressão, incerteza, renúncias e até inspiração em craques como Ronaldo Fenômeno inspiraram jogadoras em derby decisivo

Por Toni Assis
Atualização:

Luta contra o preconceito e pioneirismo. Inspiração em jogadores consagrados, problemas com depressão e ainda uma hermana que já se declarou apaixonada pelo Brasil. Esses são alguns dos caminhos percorridos pelas atletas que, neste domingo, representando Palmeiras e Corinthians, vão dar início à decisão do Campeonato Brasileiro de futebol feminino em São Paulo. Considerado por muitos como o clássico mais tradicional do Estado, corintianas e palestrinas fazem o primeiro jogo no Allianz Parque às 21h.

O equilíbrio é a tônica que marca essa final e apimenta a rivalidade entre as equipes tal qual acontece na modalidade masculina. Na fase de classificação, somente um ponto separou o líder Corinthians (38) do segundo colocado Palmeiras (37). O aproveitamento dos rivais também deixa boa impressão. Em 15 confrontos nesta etapa, o alvinegro teve apenas uma derrota e somou 12 vitórias. As palmeirenses terminaram o classificatório de forma invicta com 11 triunfos e quatro empates.

Atual campeão, Corinthians superou a Ferroviária na semifinal do Brasileirão Feminino Foto: Marco Galvão / Agência Corinthians

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No único embate que tiveram até aqui pelo Brasileiro, o clássico terminou empatado em 1 a 1. Bruna Calderan abriu o placar para o Palmeiras enquanto Vic Albuquerque deixou tudo igual em campo.

Agora, em um clássico que vale a taça, os holofotes naturalmente vão estar voltadospara essa partida. Porém, mais importante do que título e rivalidade, são os roteiros escritos por algumas dessas atletas que fizeram sacrifícios e renúncias em nome do sonho de jogar futebol.

INSPIRAÇÃO NO FENÔMENO

O enredo que norteia a trajetória da atacante Adriana é digno de um folhetim de horário nobre.Eleita a craque do Brasileirão e peça fundamental para ajudar o Corinthians a levar o título do torneio em 2018, a jogadora viu sua vida dar uma guinada no ano seguinte.

 Convocada para disputar a Copa do Mundo da França, ela sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo no clássico contra o Santos. Com a rotina transformada, passou por uma cirurgia e teve que conviver com a solidão do processo de recuperação.

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Junto com a depressão, veio a saudade de casa e a vontade de desistir. “A ficha não caía. Doía demais quando via as mensagens no Instagram. Chorava e não sabia se teria forças para superar isso”, afirmou a jogadora.

E foi em Ronaldo Fenômeno, que Adriana encontrou forças para driblar a incerteza. Nas redes sociais, a jogadora corintiana disse que "assistir aos vídeos do pentacampeão" foi fundamental para a volta por cima.

Como a atacante corintiana, o ex-centroavante de Barcelona e Real Madrid também teve a carreira marcada por sérias contusões e delicadas cirurgias no joelho. Após ficar longo tempo parado, Ronaldo confirmou a sua recuperação em grande estilo: ganhou a Copa de 2002 e terminou o Mundial como artilheiro do torneio.

“Hoje eu me olho no espelho e me acho uma guerreira. Eu venci com muito esforço, dedicação e apoio da família e amigos. Não foi fácil, mas foi feito”, disse Adriana em depoimento ao site do clube.

PIONEIRISMO NA ITÁLIA

Imagine uma viagem onde o ponto de partida seja Tabocal Grande, no interior do Piauí, e uma das paradas seja a badalada cidade de Turim, na Itália. Pois a atacante Maria Alves, uma das armas do Palmeiras para superar o Corinthians nesta final de Nacional, cumpriu esse trajeto.

Veloz e habilidosa, acabou se tornando a primeira brasileira a vestir a camisa da Juventus. Mais do que isso, ganhou o apelido de “Flash 2.0” pelas suas arrancadas em direção ao gol adversário.

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Palmeiras bateu o Internacional na semifinal do Brasileirão feminino Foto: Fábio Menotti / Agência Palmeiras

 Antes, porém, de brilhar na Itália, ela teve que superar o preconceito ainda na infância. “Sempre tinha confusão porque eu estava me destacando no meio dos meninos. E por jogar com eles, acabei aprendendo a entrar forte também.”

A força de vontade e o sonho a fizeram superar também umacerta discriminação na família. Falou mais alto a força de vontade e Maria Alves seguiu em frente. Do Piauí, a atacante aportou na casa de uma prima em Brasília e ali começou a dar sequência na carreira.

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 Passou pelo futebol pernambucano e mineiro, mas foi em São Paulo que a visibilidade se amplificou. Pelo time do Centro Olímpico, em 2013, foi campeã brasileira e jogou ao lado de feras como Cristiane e Érika. No São José, deu sequência a sua fase vitoriosa em 2014 com mais títulos. Tanto brilhochamou a atenção do Santos, última parada antes de seguir para a Europa.

Na Itália, a piauiense de Tabocal Grande aprendeu a se virar. Superou a solidão, o clima frio e teve de aprender inglês e italiano. Mas a realização de um sonho também acabou se concretizando. Um encontro e uma foto com Douglas Costa, à época um dos destaques do time masculino. “Tenho características parecidas com as dele. É uma das minhas referências.”

GOL OLÍMPICO E HOMENAGEM DA RAINHA

Balançar a rede em clássicos é sempre emocionante. Mas, e se esse gol for olímpico? E ainda por cima contra o maior rival? Pois foi esse o feito da volante corintiana Ingryd Lima.O lance aconteceu em novembro do ano passado, pelas semifinais do Brasileiro na vitória sobre o Palmeiras por 3 a 0. Pela façanha, ela ganhou uma placa dada pela atacante Marta.

“Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Tive sorte que a batida na bola foi boa. E receber essa homenagem da Marta é muito especial. Ela é nordestina e representa muita coisa.”

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Natural de Maceió, Ingryd deu seus primeiros chutes no futebol de salão do União Desportiva Alagoana. Depois veio a transição para o campo e o destaque aumentou. Passou pelo futebol baiano, brilhou no Sport Recife, onde ganhou dois estaduais e a Copa do Nordeste. Pela equipe do Parque São Jorge, ela levantou a Libertadores.

XERIFE ARGENTINA TEM FARO DE GOL

A máxima de que o melhor ataque é a defesa pode ser levada ao pé da letra se a personagem em questão for a zagueira argentina Agustina. Pilar do sistema defensivo palmeirense, ela também vai bem quando se arrisca na área adversária. Com cinco gols marcados é a maior artilheira do Allianz Parque considerando o elenco atual .

Agustina é figura obrigatória nas convocações da seleção de seu país. Fã de esportes, por muito tempo se dividiu entre o futebol e o basquete. Quando pequena já sentia a força do preconceito machista na Argentina e pedia à mãe para estar sempre com o cabelo curto.

“Queria que cortasse meu cabelo para não ficar escutando gritos dos pais dos meninos durante as partidas. Eles não aceitavam ver uma menina jogando no meio dos garotos”, lembrou tempos mais tarde.

Antenada também com o futebol masculino do clube, Agustina é amiga de um outro xerife palmeirense: Gustavo Gómez. Assim como o jogador paraguaio, também levou o prêmio de melhor zagueira do Campeonato no Brasileiro do ano passado.

Com rodagem internacional, Agustina já atuou pelo AFC Fylde, da Inglaterra, e o Madrid CFF, da Espanha. Por aqui, antes de defender o Palmeiras, vestiu as camisas da Ferroviária, do Corinthians/Audax e Osasco/Audax. Agora no Palmeiras, a zagueira se declarou fã da cultura e costumes do Brasil.

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“É um país que independentemente da situação nunca esquece de ser feliz. Tem a alegria da música, a culinária. Temos uma boa troca de cultura com as meninas”, disse em entrevista ao site do clube.

TURMA DO FUNDÃO COMANDA PRÉ-JOGO NO PALMEIRAS

Esqueça a tradicional roda de samba com os jogadores tocandoinstrumento no ônibus enquanto a delegação se encaminha para o estádio. No Palmeiras, é uma caixa de som comandada pela atacante Ottília e a meia-campista Ary Borges que diverte o restante do grupo.

Na playlist, os ritmos mais pedidos são o funk, o “piseiro” e o sertanejo. As vezes tem espaço para um pedido de música gospel e até os integrantes da comissão técnica costumam entrar na diversão sugerindo canções.

 DESCONTRAÇÃO MARCA PREPARAÇÃO CORINTIANA

Nada de ambiente tenso, fisionomias sisudas ou clima pesado em dias de jogos do Corinthians. Em meio à rotina de almoço, preleção e preparação para a partida, o que se vê é um clima mais solto para não se prender às responsabilidadesde uma partida antes de o apito iniciar a partida.

No elenco tem as jogadoras responsáveis pela batucada, mas não é sempre que o samba embala o trajeto corintiano. A cantoria está liberada tanto no ônibus como no próprio vestiário. Brincadeiras, dancinhas e conversas sobre temas variados é a forma que o elenco encontra paraaliviar a pressão de um jogo importante até entrar em campo.

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CAMPANHA DO CORINTHIANS

Fase de Classificação

Jogos: 15

Vitórias: 12

Empates: 2

Derrotas: 1

Aproveitamento: 84,4%

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Quartas de final

Avaí 1 x 4 Corinthians

Corinthians 6 x 0 Avaí

Semifinal

Ferroviária 1 x 3 Corinthians

Corinthians 3 x 1 Ferroviária

CAMPANHA DO PALMEIRAS

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Fase de Classificação

Jogos: 15

Vitórias: 11

Empates: 4

Aproveitamento: 82,2%

Quartas de final

Gremio 2 x 1 Palmeiras

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Palmeiras 4 x 1 Gremio

Semifinal

Internacional 0 x 1 Palmeiras

Palmeiras 4 x 1 Internacional

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