
23 de dezembro de 2017 | 11h17
O veredicto anunciado na sexta-feira contra José Maria Marin, ex-presidente na CBF, na Corte do Brooklyn, em Nova York, culpando-o por seis das sete acusações contra ele, terá consequências para o futuro de Marco Polo Del Nero, atual mandatário da entidade no Brasil, mas que foi suspenso temporariamente pela Fifa de qualquer atividade ligada ao futebol por 90 dias.
+ Culpado, Marin pode pegar até 120 anos de prisão
Aos 85 anos, Marin foi considerado culpado pela juíza Pamela Chen e poderá pegar até 120 anos de prisão. Ele era acusado de sete crimes e acabou sendo condenado em seis. Em praticamente todas as provas apresentadas contra o ex-presidente da CBF, os procuradores americanos e as testemunhas deixavam claro que ele não havia atuado sozinho – Del Nero, então seu vice, fazia parte do esquema e teria, de acordo com a acusação, solicitado um aumento nos pagamentos de propinas. Os advogados de Del Nero negam qualquer irregularidade na conduta do dirigente e dizem que ele prestará os devidos esclarecimentos à Fifa no momento oportuno.
Essa ligação entre Marin e Del Nero no caso que ficou conhecido no mundo como ‘Fifagate’ complicará a defesa do atual presidente da CBF. Na prática, Del Nero ficará oficialmente fora do futebol até o dia 1.º de maio de 2018, que vai afetar sua ideia de convocar novas eleições em abril. Caberá à entidade avaliar nos próximos meses se suspende de forma definitiva o brasileiro ou se lhe impõe apenas uma multa. Del Nero ainda poderá recorrer ao Tribunal Arbitral dos Esportes. Mas, para se defender, terá de viajar até a Suíça, o que seria mais convincente em sua defesa, mas isso também o implicaria em sua prisão e eventual extradição aos EUA. Desde 2015 ele não deixa o Brasil.
ANÁLISE
Fontes do departamento legal na Fifa confirmaram ao Estado que aguardavam o veredicto em Nova York sobre Marin para tomar uma decisão sobre Del Nero. Se o brasileiro preso nos EUA fosse inocentado, o caso contra o presidente afastado da CBF perderia força. "Mas a condenação de forma tão clara praticamente enterra as chances de Del Nero de ser inocentado ou voltar ao cargo", disse um dos especialistas que acompanha o caso.
A defesa de Del Nero tem até o início de janeiro para enviar seus argumentos para a Fifa. Mas a percepção é de que, na entidade, uma decisão de "rifar" o brasileiro já foi tomada e que, a partir de agora, a meta é a de fazer o caso avançar o mais rapidamente possível para que possa ser levado ao Tribunal Arbitral dos Esportes (TAS, em Lausanne).
Ali, a esperança é de que uma decisão não tenha considerações políticas e que as evidências possam ser consideradas apenas por sua perspectiva legal.
Enquanto isso, porém, a relação entre a CBF e a Fifa se azeda e, segundo alguns cartolas, está em seu pior momento em décadas. Entre os aliados de Del Nero, o clima é de que há "uma guerra declarada" entre as duas entidades. Gianni Infantino, presidente da Fifa, é acusado nos bastidores por sul-americanos de traição em relação ao brasileiro, que estrategicamente o apoiou para as eleições de 2016.
Ao longo dos últimos dois anos, Infantino manteve uma relação cordial com Del Nero, o visitou no Rio, inaugurou uma placa na sede da CBF e até autorizou que os pagamentos à entidade brasileira fossem liberados. Mas a pressão dos advogados em Nova York forçou o suíço a abrir mão de sua aliança com o brasileiro e, assim, resguardar sua posição na Fifa. Para muitos, a mudança política de Infantino não será esquecida pela cúpula da CBF.
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