Copa do Mundo do Brasil impõe novos desafios à Rússia

Fifa exige de Vladimir Putin uma competição livre de discriminação

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Por Marcio Dolzan e Raphael Ramos
3 min de leitura

Os organizadores da Copa do Mundo de 2018 têm duas metas: convencer a Fifa a aceitar que o torneio seja disputado em 12 estádios – e não em dez, como a entidade deseja – e garantir boa receptividade aos turistas, uma das principais marcas da competição no Brasil. Com relação às arenas, os russos esbanjam confiança e a promessa é de que até 2017, na Copa das Confederações, todas serão entregues. O maior desafio está em repetir o sucesso de interação entre torcedores que foi o Mundial no Brasil.

Ao passar o bastão da organização da Copa de Dilma Rousseff para Vladimir Putin, no último domingo, momentos antes da final no Maracanã, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, avisou ao russo que era sua responsabilidade fazer um torneio que transmitisse ao mundo mensagens de união, paz e antidiscriminação, conectando as pessoas, assim com foi o Mundial no Brasil. Putin reconheceu que o futebol ajuda a solucionar problemas sociais e prometeu se esforçar para organizar o evento no mais alto nível.

O primeiro passo para atrair o público já foi dado. Em 2018, a Rússia terá um regime especial de vistos a fim de facilitar a entrada de estrangeiros no país. A intenção é que não apenas jogadores, árbitros e integrantes das comissões técnicas, mas também torcedores com ingresso possam entrar na Rússia apenas com o passaporte.

Copa do Mundo do Brasil impõe novos desafios à Rússia Foto: Duvulgação

Durante sua passagem pelo Rio, o diretor executivo do Comitê Organizador Local (COL) da próxima Copa, Alexei Sorokin, garantiu uma boa recepção aos turistas que visitarem a Rússia em 2018. "Hospitalidade será uma das principais características. Nós temos apoio do nosso povo para organizar a Copa do Mundo e, com certeza, hospitalidade é a prioridade máxima. Não com organizadores profissionais, mas com o povo russo."

A perseguição de torcedores a jogadores negros nos campeonatos locais é outro problema que os russos terão de resolver nos próximos quatro anos. O ex-lateral-esquerdo Roberto Carlos foi uma das vítimas de atos racistas no país. Em 2011, quando defendia o Anzhi Makhachkala, uma banana foi atirada em sua direção no gramado por um torcedor. Em protesto, o brasileiro abandonou o jogo.

No ano passado, torcedores do CSKA Moscou imitaram sons de macaco cada vez que o volante Yaya Touré, do Manchester City, encostava na bola durante um jogo da Liga dos Campeões. O clube foi punido pela Uefa e teve de enfrentar o Bayern de Munique com o seu estádio parcialmente fechado. O caso ganhou ainda mais repercussão depois que Yaya Touré enviou uma mensagem à Uefa ameaçando liderar um movimento para que jogadores negros boicotassem a Copa de 2018.

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Sorokin procurou minimizar o comportamento dos torcedores russos nos estádios e tratou o racismo como uma questão globalizada. "Isso é uma coisa que acontece no mundo todo, não apenas na Rússia, mas em muitos outros países. É uma coisa que devemos, juntos, lutar contra, com um esforço universal. E nós não somos diferentes", disse.

O dirigente também prometeu aplicar punições severas aos maus torcedores. "Estamos com materiais promocionais, e temos uma legislação com foco no comportamento dos torcedores. Mas não vamos apenas educar. Podemos impor restrições administrativas contra aqueles que não se comportarem ou se envolverem em confusão nos arredores dos estádios. Podemos até bani-los dos estádios."

POLÍTICATambém é motivo de preocupação entre os dirigentes da Fifa que os problemas políticos do país interfiram no desenvolvimento do futebol. Na última semana, a Uefa chegou a emitir um comunicado proibindo, por questões de segurança, que clubes da Rússia e da Ucrânia se enfrentem nas Eliminatórias da Liga dos Campeões por causa da disputa entre os dois países pelo território da Crimeia.

Durante a Copa do Mundo também houve tensão. O Centro de Comando e Controle de Segurança do Mundial classificou a partida entre Argélia e Rússia, em Curitiba, pela primeira fase, como um jogo de “alto risco” diante da possibilidade de protestos políticos nas arquibancadas da Arena da Baixada. O temor era de que torcedores russos levassem faixas de protesto ou apoio a Putin e que ucranianos protestassem contra a anexação da Crimeia ao território russo.

Na última segunda-feira, ao fazer um balanço da Copa no Brasil, Blatter deu nota 9,25 à organização do torneio, 0,25 a mais do que a avaliação do Mundial da África do Sul. Sorokin, no entanto, não quis se comprometer a receber uma nota superior daqui a quatro anos. "Não existe comparação. Cada Copa é única. Tenho certeza que a nossa será única em muitos aspectos."

A Rússia sediará o primeiro grande evento da Copa do Mundo de 2018 em julho do ano que vem em São Petersburgo, com o sorteio das Eliminatórias.