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Copa Rio, Academia e profissionalismo: como os técnicos estrangeiros revolucionaram o Palmeiras

Na expectativa por Abel Ferreira, clube se apega às conquistas históricas lideradas por Ventura Cambón e Filpo Núñez

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Por Ciro Campos
Atualização:

O técnico português Abel Ferreira vai estrear pelo Palmeiras nos próximos dias com a expectativa de defender uma longa tradição do clube em ter bons resultados com treinadores de outros países. Antes dele, outros 22 estrangeiros (sete deles europeus) assumiram a equipe alviverde e alguns até foram capazes de transformar a história e conquistar títulos importantes.

A presença de estrangeiros no comando do Palmeiras teve início ainda na década de 1920. O clube formado por imigrantes italianos recorreu a vários compatriotas para comandar a equipe. "A escolha por treinadores italianos espelhou a busca por um trabalho de profissionais que pudessem trazer um ganho tático e físico para o futebol brasileiro, que ainda não era tão desenvolvido. O curioso é que assim como hoje, havia um conceito lá atrás de que os estrangeiros mereciam ter oportunidade", explicou o historiador do Palmeiras, Fernando Galuppo.

Argentino Filpo Núñez fez história no Palmeiras na década de 1960 Foto: Arquivo/Palmeiras

Por isso, os dirigentes do então Palestra Itália buscaram na Europa treinadores renomados para dirigir elencos formados por jogadores amadores. O choque cultural gerou até mesmo situações inusitadas, como a enfrentada pelo italiano Attilio Fresia em 1921. O exigente treinador acabou demitido por brigar com os atletas. "Ele veio com a missão de implementar treino físico para um time que havia acabado de ser campeão paulista. Os jogadores eram amadores e não queriam ter mais treinos. Só queriam jogar", contou o historiador.

A escolha por treinadores italianos espelhou a busca por um trabalho de profissionais que pudessem trazer um ganho tático e físico para o futebol brasileiro, que ainda não era tão desenvolvido

Fernando Galuppo, Historiador do Palmeiras

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Além de italianos, a história alviverde teve somente uma outra nacionalidade europeia à frente do time. Dois húngaros foram técnicos entre 1929 e 1932. O mais famoso deles foi Eugênio Medgyessy, o Marinetti. "Existia o conceito de que o futebol húngaro era o futebol científico e tinha os melhores treinadores, com conceitos modernos", afirmou Galuppo. Duas excursões do tradicional Ferencvaros pelo Brasil em 1929 e 1931 ajudaram a reforçar a imagem positiva do futebol húngaro.

Os dois maiores técnicos estrangeiros do Palmeiras vieram da América do Sul. O uruguaio Ventura Cambón venceu o Campeonato Paulista de 1950 e no ano seguinte liderou a equipe na conquista da Copa Rio, considerada pelo clube uma das taças mais importantes da história. Cambón foi ainda jogador do time na década de 1930 e é até hoje o treinador que mais vezes assumiu o Palmeiras, seja de forma interina ou efetiva.

Humberto Cabelli (de terno à esquerda) foi tricampeão paulista com o Palestra Italia em 1932, 33 e 34 Foto: Arquivo/Palmeiras

Na década seguinte, o argentino Filpo Núñez foi o comandante de um time fortíssimo e conhecido como Academia de Futebol, termo lembrado até hoje com orgulho pelos palmeirenses e utilizado para batizar o centro de treinamento do clube. Nomes como Valdir de Morais, Djalma Dias, Djalma Santos, Julinho, Ademir da Guia e Servílio faziam parte do elenco.

Núñez teve tamanho sucesso com o Palmeiras que chegou a dirigir a seleção brasileira em uma partida em 1965 e até hoje é lembrado no clube pelo estilo boêmio e pela expressão "pim, pam, pum, gol", utilizada para explicar ao elenco o estilo de jogo com toques de primeira e com proposta ofensiva.

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O (Filpo) Núñez foi o maestro da Academia. O time tinha muitos craques, mas ele conseguiu organizar todos para atuarem em um estilo de jogo fluído, organizado e ofensivo

Fernando Galuppo, Historiador do Palmeiras

"O Núñez foi o maestro da Academia. O time tinha muitos craques, mas ele conseguiu organizar todos para atuarem em um estilo de jogo fluído, organizado e ofensivo. Todos os gols mais rápidos da história do Palmeiras foram na época dele, graças ao estilo vertical de jogo", contou Galuppo. Outro estrangeiro vitorioso foi o uruguaio Humberto Cabelli, tricampeão paulista com o Palestra Italia em 1932, 33 e 34.

Prisão e boxe

Por outro lado, a presença estrangeira no comando do Palmeiras nem sempre deu certo. Em 2014, o argentino Ricardo Gareca durou só 13 jogos no cargo e foi demitido após maus resultados. Outro treinador a ter problemas foi o italiano Caetano De Domenico, mas por outro motivo. Apesar de ter sido campeão estadual em 1940, o técnico trabalhava paralelamente como sapateiro e se tornou uma figura conhecida do governo por causa do futebol. Anos mais tarde, no auge da Segunda Guerra Mundial, o treinador acabou preso por ser natural de um país que era rival do Brasil no conflito.

Último estrangeiro antes de Abel Ferreira, Gareca teve passagem rápida pelo Palmeiras em 2014 Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras

Outros técnicos palmeirenses chegaram ao clube com bagagem adquirida em outros esportes. O uruguaio Ramon Platero e o argentino Jim Lopes haviam atuado no boxe. Lopes, inclusive, foi o responsável por iniciar a montagem do time que venceu a Copa Rio em 1951. 

ESTRANGEIROS NO COMANDO DO PALMEIRAS

Argentinos: Jim Lopes, Abel Picabéa, Armando Renganeschi, Filpo Núñez, Alfredo Gonzalez, Ricardo GarecaHúngaros: Emeric Hirche, Eugênio MedgyessyItalianos: Adriano Merlo, Attilio Fresia, Dante Vagnotti, Renzo Mangiante, Caetano De Domenico Paraguaio: Fleitas SolichPortuguês: Abel FerreiraUruguaios: Ramon Platero, Humberto Cabelli, Carlos Viola, Ventura Cambon, Conrado Ross, Felix Magno, Segundo Villadoniga, Ondino Vieira

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