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Opinião|Corinthians no paredão

Tiago Nunes tem de entender que o Corinthians não é o Athletico-PR

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Foto do author Robson Morelli
Atualização:

A pré-Libertadores é uma armadilha para os times brasileiros. Sempre foi. A necessidade de se classificar diante de, quase sempre, rivais desconhecidos ou de menor expressão na América do Sul coloca um fardo extremamente pesado nas costas dessas equipes. O Corinthians se vê nesta situação. Perdeu de 1 a 0 para o Guaraní, do Paraguai, em Assunção, e agora está pressionado para se classificar em casa na partida de volta, quarta.

A competição sul-americana fez com que o técnico Tiago Nunes escalasse um time misto para enfrentar a Inter de Limeira em Itaquera, ontem. Perdeu de novo por 1 a 0, jogou muito mal e já sente na pele a pressão de uma eliminação precoce na temporada.

Robson Morelli é editor de Esportes e colunista doEstadão Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Se for eliminado em casa antes mesmo de chegar à fase de grupos da Libertadores, o Corinthians terá de administrar sua primeira crise em 2020. A torcida vai cobrar e a convivência com ela será um inferno, que pode esquentar ainda mais se fracassar nos torneios do ano. O primeiro deles é o Paulistão.

Tiago Nunes sabe, ou deveria saber, onde pisou. Com todo respeito ao seu último emprego, o Corinthians não é o Athletico-PR. Em São Paulo, ele tem de se classificar na pré-Libertadores e também ganhar da Inter de Limeira.

Contra o time do Interior, o Corinthians teve 68% de posse de bola e não conseguiu furar o ferrolho do rival. Não passou nem perto disso. Teve nove escanteios e deu 607 passes. Mesmo assim, não foi melhor nem imponente.

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Esse Corinthians que invade fevereiro, portanto, com um mês de preparação, começou enchendo seu torcedor de esperança, mas já caiu numa mesmice tática e técnica a ponto de sofrer as primeiras cobranças de seus seguidores, que dão de ombros para o fato de o time estar ainda se entrosando.

Tiago Nunes parece não beber da mesma água do flamenguista Jorge Jesus, que na temporada passada nos ensinou que é perfeitamente possível usar os mesmos jogadores nos jogos de domingo e quarta. As desculpas vão aparecer, mas já me antecipo a elas dizendo que não colam. Jogadores cansados, pernas “amarradas” pela carga de exercícios, desgaste com as partidas.

O fato é que esse Corinthians começou a derrapar. Jogou razoavelmente bem contra a Ponte Preta e Guaraní e não conseguiu vencer. Jogou mal diante da equipe de Elano ontem e perdeu.

Em campo, faltam jogadas. Vimos um festival de bolas alçadas na área, com bem poucas tramas de penetração e tabelas. Dribles e velocidade, na verdade, vimos mais no adversário de Limeira. A bronca da torcida teve motivos. Cada um em suas condições, os times brasileiros poderiam ousar mais. Talvez fosse isso que a torcida do Corinthians queria ver desde o início do ano. O modelo mostrado por Flamengo e Santos em 2019 ficou no imaginário de todos nós, e era isso o que esperávamos ver nos times em 2020.

De certa forma, houve um sentimento generalizado de que o exemplo a ser seguido era o dessas duas equipes, não por acaso, primeira e segunda colocadas no Brasileirão.

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Não me refiro à qualidade propriamente dita dos jogadores, mas a coragem de jogar, a ousadia de enfrentar seus oponentes, a paixão durante os 90 minutos, a dedicação e o empenho, menos medo de perder.

Até agora, esse Corinthians de Tiago Nunes passa longe desse modelo. E não é o único dos grandes de São Paulo a dobrar a esquina da mesma forma que terminou o ano passado. O Palmeiras deixa a desejar em alguns momentos das partidas, erra demais na defesa e tem seus momentos de apagão e apatia. O São Paulo, de Fernando Diniz, continua o mesmo de 2019. Não muda. Teve alguns momentos de mais lucidez neste ano antes de voltar a entrar em parafuso, com os mesmos defeitos técnicos e táticos, com jogadores que não funcionam e grupo que não reage.

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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