Corinthians repudia ação da PM ao deter torcedor que criticou Bolsonaro na arena

Por meio de nota, clube classificou o ato como 'grave atentado às liberdades individuais'

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Por João Prata
Atualização:

O Corinthians se manifestou na manhã desta terça-feira sobre o caso do torcedor corintiano que foi detido por gritar palavras contra o presidente Jair Bolsonaro durante o clássico com o Palmeiras, domingo, na arena em Itaquera, pela 13.ª rodada do Campeonato Brasileiro.

"A Arena e o Sport Club Corinthians Paulista vêm a público repudiar o episódio que resultou na prisão do torcedor Rogério Lemes Coelho", informou o clube. "O clube historicamente reitera seu compromisso com a democracia e a defesa do direito constitucional de livre manifestação, desde que observados os princípios da civilidade e da não violência", prosseguiu. 

Arena Corinthians. Foto: Divulgação/ Ag. Corinthians

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A nota classificou o ato dos policiais militares que estavam dentro do estádio do Corinthians como "grave atentado às liberdades individuais no Estado Democrático de Direito". Rogério Lemes Coelho publicou na segunda-feira, nas redes sociais, Boletim de Ocorrência no qual mostra que foi detido por criticar o presidente Jair Bolsonaro durante o jogo.

O torcedor também divulgou imagens dos punhos machucados pelas algemas dos policiais. "Hoje entrei na Arena Corinthians expondo minha opinião contra o atual governo e olha o que aconteceu: fui preso, humilhado e algemado", escreveu no post.

Ele contou que logo que gritou palavras contra Bolsonaro, recebeu um mata-leão pelas costas e não teve forças para reagir. Em seguida, outro policial o algemou. Levado a uma sala dentro da Arena Corinthians, disse que permaneceu lá quase até o fim do jogo. "Entravam policiais e gritavam coisas do tipo: 'e aí, você não é valentão, quem mandou xingar o nosso presidente?'. Foram vários que entraram e gritaram frases para me intimidar", disse em entrevista ao Coletivo Democracia Corinthiana - nas redes sociais uma plataforma que tem como objetivo "aglutinar irmãs e irmãos corinthianos que lutam pela democracia, pela justiça, pela liberdade e pela universalização de direitos".

Depois, o torcedor foi levado, segundo ele próprio, até a sala da delegacia do estádio onde conversou com a delegada. "Só me liberaram faltando dez minutos para o fim da partida. Vi cinco minutos da partida, mas já sem cabeça para isso. É um terror psicológico muito grande, muita maldade."

Em nota enviada ao Estado, a Secretaria de Segurança Pública disse que a Polícia Militar tentou preservar a integridade física do torcedor no estádio. "A SSP esclarece que todas as polícias de São Paulo são instrumentos do Estado Democrático de Direito e não pautam suas ações por orientações políticas. Entre as atribuições da Polícia Militar estão: proteger as pessoas, fazer cumprir as leis, combater o crime e preservar a ordem pública. No caso em questão, a conduta foi adotada para preservar a integridade física do torcedor, que proferia palavras contra o presidente da República, o que causou animosidade com outros torcedores, com potencial de gerar tumulto e violência generalizada. A pasta informa que não houve prisão, mas a condução dele por policiais militares ao posto do Juizado Especial Criminal (Jecrim), instalado dentro da Arena Corinthians, onde foi registrado boletim de ocorrência não criminal e depois liberado para voltar a assistir à partida de futebol."

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Confira a íntegra da nota do Corinthians:

A Arena e o Sport Club Corinthians Paulista vêm a público repudiar o episódio que resultou na prisão do torcedor Rogério Lemes Coelho durante o jogo ocorrido no último domingo (04) contra o Palmeiras na Arena Corinthians, após sua manifestação contra o Presidente da República. O clube historicamente reitera seu compromisso com a democracia e a defesa do direito constitucional de livre manifestação, desde que observados os princípios da civilidade e da não violência. A agremiação lembra que diferentes autoridades, entre elas o presidente do clube, já foram alvo de manifestações da torcida durante os mais variados eventos esportivos realizados no local e o episódio caracteriza-se como um grave atentado às liberdades individuais no Estado Democrático de Direito.

Recentemente, no jogo do Palmeiras contra o Vasco, no Allianz Parque, e com a presença do presidente da República, alguns torcedores do time mandante discutiram depois de um deles provocar Bolsonaro. Desta vez, no entanto, nenhum torcedor foi detido, mas um deles foi retirado do tumulto por policiais. Na ocasião, não houve mais confusão.

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