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Cotação dos meninos do Brasil dispara

Por Agencia Estado
Atualização:

Os craques brasileiros andam na contramão da economia mundial e cada vez mais são valorizados no exterior. Apesar da crise geral, os clubes do País lucraram com negociações milionárias em 2003 e apostam que, no ano que vem, o mercado pode ser ainda mais favorável. Todos no mundo do futebol - dirigentes e principalmente empresários -, ou até fora dele, já perceberam que, atualmente, melhor do que investir na bolsa, no dólar ou no ouro é comprar os direitos dessas jovens promessas, empresariá-las ou trabalhar para formá-las. A supervalorização dos atletas deve-se a alguns fatores decisivos, de acordo com os homens do esporte. Um, e muito importante, é o fato de estarem se adaptando mais facilmente à vida em países diferentes. Outro é conseqüência das boas campanhas da seleção. O Brasil vem ganhando tudo. Justamente por contar com os melhores jogadores do planeta. Há 10 dias, conquistou a tríplice coroa ao faturar o título mundial Sub-20, na vitória por 1 a 0 sobre a Espanha. Já havia levantado, também em 2003, o troféu do Mundial Sub-17 e, no ano passado, na Ásia, a Copa do Mundo, com Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e companhia. Wagner Ribeiro é um dos agentes mais assediados na atualidade. Não sem motivo. É procurador de dois badalados astros do País: Kaká e Robinho. A saída de Kaká para o Milan, no início de agosto, rendeu US$ 8,2 milhões ao São Paulo, que só teve despesas na sua formação: preparação física, trabalho de fortalecimento muscular, treinamento, alimentação especial - valor irrisório. Kaká foi titular por apenas dois anos e logo decolou rumo à Europa. Pagou as dívidas da agremiação e deu um importante alívio para o caixa. Graças ao astro de 21 anos, o São Paulo pôde fazer, até agora, seis contratações para a próxima temporada. "O São Paulo sempre foi um exportador, faz parte da história do clube", lembra João Paulo de Jesus Lopes, diretor de planejamento do clube. Wagner Ribeiro, no entanto, ficou de mãos vazias. O São Paulo recusou-se a dar sua comissão pela negociação. De acordo com a direção tricolor, ele não teve participação na transação. "Foi errado o que fizeram comigo, eu teria direito a uma porcentagem." O empresário não deve, porém, lamentar-se tanto. Em cerca de cinco meses de Europa, seu pupilo já se valorizou em torno de 400%. Não há, hoje, quem o tire do Milan por menos de US$ 40 milhões, diz a imprensa italiana. Kaká caiu nas graças dos milaneses. Fez gols importantes, vem jogando bem e adaptou-se rapidamente à nova vida, o que é fundamental. "Ele está muito bem lá, enturmou-se com facilidade e já fala italiano, embora ainda não escreva", comenta Bosco Izecson, pai do jogador. O ex-são-paulino vive, por enquanto, sozinho em Milão, mas sua família deve passar a acompanhá-lo a partir de janeiro. Comportamento melhor - Apesar do talento indiscutível, os craques brasileiros passavam certa desconfiança para os cartolas europeus até alguns anos atrás. Muitos deixaram o País, ganharam dinheiro no exterior e deram um jeito de romper o contrato para voltar rapidamente. Um dos casos clássicos e mais comentados é o de Viola, que ficou pouco tempo no Valencia por não ter se entrosado com a cultura espanhola. "Muita gente dizia que eu não havia gostado da comida de Valencia e, por isso, tinha de comprar bolacha. Não é bem assim, só não gostava da comida servida na concentração", tenta justificar o atacante. Na opinião de Gilmar Rinaldi, ex-goleiro e empresário de jogadores, como o lateral-esquerdo César, atualmente na Lazio, atitudes como a de Viola prejudicaram bastante a imagem da matéria-prima brasileira. "Por isso, é importante preparar o homem também e não apenas o atleta", observa. Ultimamente, contudo, essa impressão vem mudando, pois a maioria segue a cartilha corretamente e tem jogado bom futebol, como Gilberto Silva no Arsenal, Aílton no Werder Bremen, Kléberson no Manchester United... Quem pensa que Kaká foi a única grande fonte de renda do São Paulo na temporada se engana. Em julho, o volante Júlio Baptista, 22 anos, formado nas categorias de base do Morumbi, transferiu-se para o Sevilla por cerca de US$ 3 milhões. Mas não pára por aí. Kleber, que passou 20 dias nos Emirados Árabes com a seleção Sub-20 e retornou no último fim de semana, está sendo negociado com o Dinamo de Kiev por US$ 2,2 milhões. A diretoria não pensou duas vezes para dizer sim aos interessados. Afinal, a oferta de R$ 6 milhões por um atleta que nem sequer é titular absoluto se mostra quase irresistível. Aos 20 anos, o atacante, que se criou no São Paulo, só começou a firmar-se no segundo semestre, principalmente após boas atuações na Copa Sul-Americana. Crescimento assustador - O grande exemplo de valorização financeira não sai, no entanto, do Morumbi, mas de Porto Alegre. Trata-se de Nilmar, uma das revelações do Internacional no Campeonato Brasileiro. O atacante, de 19 anos, teve seus direitos adquiridos pelo Inter, no fim de 2000, por R$ 40 mil, valor que pagou, na ocasião, ao Matsubara, do Paraná. Há pouco mais de um mês, o Chelsea, da Inglaterra, ofereceu aos gaúchos aproximadamente US$ 7,5 milhões para contratá-lo - cerca de R$ 20 milhões -, o que representa valorização de quase 50.000%. O negócio, contudo, acabou não sendo concretizado. "O jogador brasileiro tem grande destaque, é o mais valorizado do mundo", opina Dick Law, americano que gerenciou a Hicks Muse no Brasil na época da parceria com o Corinthians. Atualmente, intermedia transações de brasileiros sobretudo com a Inglaterra. "O pentacampeonato mundial aumentou a procura pelos brasileiros", acrescenta o empresário espanhol José Fuentes. Sabendo do prestígio dos brasileiros, Fuentes direcionou sua atenção para o País nos últimos anos. É, hoje, procurador de Luís Fabiano, atacante do São Paulo, além do zagueiro Edmílson e do meia Juninho Pernambucano, ambos do Lyon, da França. Seu cliente Luís Fabiano, por sinal, é um que está bem cotado para sair no segundo semestre de 2004. Fuentes, no entanto, diz que, se ele não melhorar seu comportamento, vai ver muitas portas fechadas. "As imagens das brigas e das expulsões do Luís vão para o mundo todo. Não basta jogar bem para ir à Europa, é importante, também, ter disciplina." Os santistas Robinho e Diego, formados na Vila Belmiro, explodiram em seis meses. Quase ninguém os conhecia até julho de 2002. O excelente desempenho no Campeonato Brasileiro, porém, os tornou famosos. O título foi fundamental. Neste ano, mantiveram a boa média de atuações e, com isso, a cotação não parou de subir. A dupla, que recebia cerca de R$ 1.500,00 há dois anos, fatura, agora, R$ 80 mil mensais. E a multa rescisória de ambos foi estipulada em US$ 50 milhões para negociações com o exterior. O clube já sofreu assédio algumas vezes e a oferta mais tentadora ocorreu há alguns meses: foi do Tottenham Hotspurs, da Inglaterra, que ofereceu cerca de US$ 9 milhões livres por Diego. O presidente Marcelo Teixeira recusou. Acha que pode pegar bem mais pelo jovem meia, de 18 anos. O Brasil negociou dezenas de jovens craques no ano. Daniel, lateral-direito do Vitória, por exemplo, foi para o Sevilla. Liedson deixou o Corinthians para ir a Portugal. Kleber, seu colega de Parque São Jorge, transferiu-se para o Hannover, da Alemanha... Mas é importante ressaltar que, apesar do grande volume de transações e da valorização dos brasileiros, os números estão caindo em relação à última década. Não dá para imaginar que um zagueiro - de razoável para bom - seja vendido por US$ 10 milhões como aconteceu em 2000 com Edmílson, que foi para o Lyon. Ou que algum europeu ofereça aproximadamente US$ 30 milhões por um astro do País, como foi em 1998 com Denílson, que se mudou para o Bétis. Outro lado da moeda - Garimpar jovens no Brasil é, sem dúvida, um trabalho que pode se tornar bastante rentável. Mas não dá para se dizer que é ganho certo e garantia de milhões no bolso. "A gente aposta em muitos jogadores para um ou outro apenas dar certo", ressalta Wagner Ribeiro. Milhares de garotos passam anos num clube, crescem, aprendem, treinam, mas não conseguem se destacar profissionalmente. Acabam, então, encerrando a carreira e não dando retorno. É o caso do atacante Renatinho, que surgiu em 2001 como uma das grandes revelações do São Paulo. Destacou-se em várias edições da Copa São Paulo de Juniores e chegou à equipe principal com pompa. Começou bem, mas se perdeu no meio do caminho e desapareceu. "Quando saiu do São Paulo, eu o levei para o Náutico. Não deu certo. Depois para o São Caetano e ele também não se firmou. Agora, não sei o que anda fazendo. Acho que está morando com a família em Poços de Caldas", conta Wagner Ribeiro, seu ex-agente.

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