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Craques da seleção brasileira de futebol de cegos tocam na taça da Copa

Pela primeira vez, Fifa permite que outros, que não campeões mundiais ou chefes de estado, toquem no troféu

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Por Flavia Alemi
Atualização:

SÃO PAULO - O mundo ficou escuro para Ricardo Alves quando ele tinha 8 anos. Como a maioria dos meninos dessa idade, seu sonho era ser jogador de futebol, mas a dureza do diagnóstico do oftalmologista de Osório, litoral do Rio Grande do Sul, o levou para a realidade: ele ficaria cego para sempre."Quando perdi a visão, pensei que tudo havia acabado", diz Ricardo, hoje com 25 anos. Ele teve descolamento de retina aos 6 anos e passou por cinco cirurgias. Depois de dois anos de tratamento, marcados por altos e baixos na recuperação, os médicos entregaram o caso - já não havia mais nada a fazer. Quem não se entregou, no entanto, foi o garoto. Ricardo mudou-se para Porto Alegre e passou a frequentar uma escola que ensinava braile. Além disso, incentivava a prática esportiva - entre as modalidades, estava o futebol para cegos.O contato com a bola fez renascer o sonho de menino. "Com 10 anos, comecei a treinar na escolinha do colégio e, aos 15, fui para meu primeiro clube. No ano seguinte, estava na seleção brasileira de futebol de 5", conta. Hoje, Ricardo está prestes a completar dez anos na seleção brasileira. A modalidade é praticada no Brasil há pelo menos 50 anos, mas o primeiro Mundial só foi disputado em 1998, na cidade de Paulínia, Interior de São Paulo. Na ocasião, o título ficou com o Brasil.O futebol de cegos entrou para os Jogos Paralímpicos em 2004 e, desde então, apenas o Brasil conquistou o ouro. Tal notoriedade despertou a atenção da Fifa, que abriu exceção para que o time brasileiro de futebol de 5 pudesse conhecer e pegar nas mãos o troféu mais cobiçado do planeta, a Taça da Copa, que tem corrido o mundo em uma promoção de um dos patrocinadores da entidade."Levou alguns segundos para cair a ficha. Estávamos no nosso clube de treinamento e fomos chamados para ir até o ginásio. Tive a oportunidade de ser o primeiro a tocar na taça", narra Ricardo. "Já tinha ouvido a descrição dela, mas quando você é cego, nunca vai entender perfeitamente. Tocar é uma realidade bem diferente."FUTUROAlém das três medalhas paralímpicas, a seleção brasileira de futebol de 5 coleciona uma série de outras conquistas, como a Copa América de 2006 e 2009 e os Parapans de 2007 e 2011. Ricardo obteve várias conquistas individuais, entre elas o de melhor jogador do mundo em 2006, mas ressalta que nada teria sido possível se não fizesse parte de um ótimo grupo. "Estou num momento bom, mas sozinho não chego a lugar nenhum", diz o rapaz que conheceu a Taça da Copa com as palmas das mãos.

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