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Criador da Amarelinha é fã do Uruguai

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Por Agencia Estado
Atualização:

O criador do ícone que melhor representa a seleção brasileira - o uniforme canarinho - vai torcer pelo Uruguai no jogo de quarta-feira. Trata-se, portanto, de um grande "vira-casaca". A situação é curiosa, mas ele a encara numa boa. Aprendeu, com o tempo, a rir da ironia de ser um brasileiro que tem mais simpatia pelo Uruguai. Ele é Aldyr Garcia Schlee, o gaúcho que, na década de 50, concebeu o uniforme que Pelé, Garrincha, Zico e os Ronaldos vieram a imortalizar com o tempo: camisa amarela com gola e punhos verdes, calção azul com faixas brancas nas laterais e meiões brancos com 2 listras verdes e amarelas. Antes de falar da "traição" de Aldyr, é preciso contar a história do uniforme: após a Copa de 1950, o jornal Correio da Manhã bolou um concurso para criar o novo fardamento da seleção. O antigo, todo branco, foi considerado azarado após a derrota para o Uruguai. Mais de 300 se inscreveram. Aldyr, que tinha 19 anos e era desenhista em Pelotas (RS) - onde mora hoje -, também resolveu participar. Fez mais de 100 rascunhos até chegar ao desenho vencedor. Como prêmio, além de ver sua criação desfilando pelos gramados do mundo, ganhou um estágio no Correio da Manhã, no Rio. Na estréia do uniforme, em 14 de março de 1954, no Maracanã, o Brasil fez 1 a 0 no Chile. Com o tempo, a camisa amarela se tornou um símbolo nacional. Na Olimpíada, os torcedores vestem a "canarinho" do futebol para torcer pelas equipes de basquete e vôlei, por exemplo. Os brasileiros cobrem-se de amarelo quando querem parecer patrióticos. Isso poderia ser motivo de orgulho para Aldyr. Mas o fato é que ele sempre se identificou mais com o Uruguai. "Nasci em Jaguarão, separada do Uruguai por uma ponte. Ali, na minha juventude (anos 40), estávamos mais perto de Montevidéu que de Porto Alegre. As rádios que sintonizávamos eram de Montevidéu e os jornais uruguaios chegavam mais rápido. Era natural que criássemos identidade maior com o Uruguai", justifica ele. Hoje, aos 70 anos, Aldyr é um escritor pouco conhecido no Brasil, mas famoso no Uruguai. Alguns de seus livros foram escritos em espanhol. Um deles é sobre bola. "Escrevi ?Cuentos de fútbol? (Contos de futebol) em 95. É uma ficção. Eu me imagino ainda garoto, jogando bola ao lado de Ghiggia", conta. Ghiggia foi o autor do gol da vitória uruguaia na final de 50. É um grande vilão da história do Brasil, portanto. E Aldyr, inventor de um dos maiores símbolos nacionais, se imagina brincando com ele? "Tem gente que tira sarro, critica, não entende. Mas o que posso fazer? Eu me identifico mais com a raça uruguaia que com o estilo brasileiro", garante.

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