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Cuca leva o Goiás a dar a volta por cima

Por Agencia Estado
Atualização:

O Campeonato Brasileiro ganhou uma atração inesperada: O time do Goiás, que durante 80 dias ocupou a lanterna absoluta com 24 pontos, deu a volta por cima. Subiu para a 11ª posição (53 pontos) e o time fadado ao rebaixamento agora é o de melhor desempenho no returno. Se os pontos corridos fossem contados em separado, o Goiás seria o líder absoluto (33 pontos em 15 jogos) do returno graças às 10 vitórias, 2 empates e 3 derrotas. O time tem mais saldo de gols, por exemplo, que o São Caetano que está melhor classificado. Mas, o que chama atenção no Goiás é a evolução rápida. Desconhecido para a maioria dos brasileiros, Alexi Stival, o Cuca, de 39 anos, que assumiu o comando do time há três meses, quando o consagrado Candinho desistiu, é tido como o responsável pela reação: "O Candinho pediu demissão durante uma entrevista coletiva", relembra o presidente-executivo do clube, Raimundo Queiroz. "Na época o time não se entrosava, em 10 jogos somou nove pontos, e o Cuca aceitou o desafio", diz. "Aceitei sim, só não imaginava que seria tão difícil", afirma Cuca, referindo-se aos primeiros jogos, onde a lenta recuperação limitou seus projetos. Tudo porque havia uma pedra na chuteira chamada ansiedade. "Era o grande problema", relembra Cuca. "O time jogava bem mas não tinha tranqüilidade para concluir", disse ele. Soco no quadro - "Houve dias em que me rebelei contra a derrota dando socos num quadro dentro do vestiário, até fiz calos nos dedos, quebrei o quadro, só não chutei o rabo do cachorro", diz Cuca. "Quando tudo parecia ter naufragado a equipe afinal se recuperou", diz o treinador. A reação começou, segundo ele, pela união dos jogadores em torno da equipe e de objetivos. Aconteceram sobressaltos, como a lanterna persistente, mas o time recuperou a alegria de jogar e a força de vencer. "Ficamos oito jogos sem perder, porém sem deixar a lanterna", relembra Pedro Goulart, diretor de futebol. "Os jogadores ainda saiam de campo com aquele olhar de peixe morto", contou Cuca; "Faltava para nós pegada e confiança", analisa Araújo. A partir daí, Cuca aprimorou a parte física com ajuda de Cukinha, auxiliar-técnico. A psicóloga Susi Fleury Rego, com uma palestra, ajudou a levantar a cabeça. "No tipo de doença que acometeu o Goiás um técnico tem poderes muito limitados", avaliou o treinador. "Não adianta psicólogos porque as coisas só melhoram quando a bola começa a entrar". Ao grupo foram somados outros jogadores atrevidos, como o lateral Esquerdinha, o centroavante Grafite e o volante Simão. O grupo se uniu, o ambiente ficou descontraído. O próprio Cuca passou a levar ao clube as filhas Natasha (11 anos) e Maiara (14 anos) e a sua mulher Rejane. A cadelinha Shaquira, de 1,5 ano de idade, virou mascote. Surgiram lideranças positivas dentro de campo, como a do goleiro Gilmar. "Com ele nada passa batido", diz Cuca. "Conversa com os companheiros, alerta-os sobre as falhas, corrige os erros", afirma. "Aprendemos a dar o máximo para progredir", afirma o volante Simão. "Somos como uma família", garante Gil Baiano. "Aqui ninguém é melhor do que ninguém", alerta o meia Josué. Dimba acredita que o time se levantou quando veio uma ajuda inesperada dos céus: "Deus nos abençoou e tudo o que fizemos em campo deu certo", comenta. Afinal, o time bateu o recorde de 16 jogos sem perder. Começou com o Vitória (1x1), na 17ª rodada, e terminou 72 dias depois na partida contra o Flamengo (1x1). Foram 8 empates e 8 vitórias. Resultado que atraiu de volta os torcedores, que antes lançavam pipocas, lanternas e até galinhas sobre os jogadores. Nascido em Curitiba, o apelido de Cuca foi dado pela mãe, Nilde, e tirado do "Sitio do Pica-Pau Amarelo porque ele, quando criança, tinha medo do personagem homônimo. Desde 1998, quando estreou como técnico, passou por 10 clubes entre eles o Internacional e o Uberlândia. Trabalhando no Paraná, deu iniciou a uma boa campanha no Brasileiro: "Quando deixei o clube, o Paraná estava na 6ª colocação", disse Cuca. Tática Avestruz - Cuca vive num amplo apartamento, próximo do horto e do zoológico, um dos lugares mais bonitos e valorizados de Goiânia. Zoólogo de orelha viu pela janela um avestruz, que inspirou o sistema tático: "Quando o avestruz abre suas asas as penas vão todas para frente deixando o dorso descoberto; quando fecha as asas o corpo é rapidamente encoberto pela plumagem", observou. "Então, trocando em miúdos, o time ataca em bloco e se defende em bloco", diz. É claro que além da "piada do avestruz" que ele conta como inspiração, o Goiás tem jogadores que em nada lembram o estômago da ave que ingere qualquer coisa, mesmo inadequada.

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