De Oberdan a Marcos, uma escola de goleiros que impõe respeito

Palmeiras virou referência ao longo das décadas por conseguir revelar grandes talentos debaixo das traves para o futebol brasileiro

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Por Daniel Batista, , Gustavo Zucchi e Diego Salgado
3 min de leitura

Se na maioria dos clubes a camisa 10 é o símbolo do craque do time, no Palmeiras essa responsabilidade é dividida com a 1 – ou com a 12. O Alviverde sempre teve grandes goleiros que marcaram época e uma tradição inegável de revelar jogadores excepcionais para defender o gol palmeirense (contrastando com a raridade em jovens talentos em outras posições). "O Palmeiras teve quatro dinastias de goleiros excepcionais: na década de 1940 com Oberdan Cattani, na primeira academia com Valdir Joaquim de Moraes, comigo nos anos 70 e com o Marcos", diz Emerson Leão, que honrou a tradição da camisa 1 de 1968 a 1978 e depois voltou em 1984 e 1986. Como afirmou Leão, a tradição de goleiros do Palmeiras começou ainda na época de Palestra Itália. Oberdan, famoso por suas mãos enormes, foi talvez o principal ídolo Alviverde nos anos 40, justamente na transição para o novo nome motivada pela 2.ª Guerra Mundial.

Um dos líderes da Segunda Academia, Leão disputou 617 com a camisa do Palmeiras, tornando-se o terceiro maior jogador com mais partidas Foto: Arquivo/Estadão - 03/09/1972

Mas, se existe um responsável pela continuidade da escola de goleiros no Palmeiras, é Valdir Joaquim de Moraes. Como jogador compensava sua pouca estatura (cerca de 1,70m - para efeito de comparação, Marcos tem 1,93m) com muita impulsão. Fora de campo foi o precursor da preparação exclusiva para a posição, que ajudou a revelar não apenas o titular no título mundial brasileiro em 2002, mas também outros craques, como Velloso. 

"Eu tive a felicidade de iniciar o trabalho de preparação de goleiros no Palmeiras, em 1970. Foi fundamental. Não existia isso naquela época. Isso ajudou a revelar os goleiros no clube. Iniciei uma profissão que não existia", relembra. Leão chegou ao Palmeiras em 1969, um ano depois de Valdir encerrar a carreira de goleiro. E deu sequência à tradição. "Uma coisa que o Valdir ensinava para mim já me ajudava a melhorar, mesmo que eu fosse melhor que ele", diz Emerson Leão. Logo no fim dos anos 80 surgiu Velloso para o gol Alviverde. Este ficou no clube por quase 10 anos (com pequenas saídas por empréstimo para União São João e Santos). Titular na conquista da Copa do Brasil em 1998, só perdeu posição para Marcos, o último grande ídolo Alviverde debaixo das traves. "Vi muito o Velloso jogar. Era meu ídolo. Votaria nele como o melhor de todos os tempos. Lembro vagamente do Leão. Mas eu lembro mais do Velloso. Mas Oberdan, Valdir e Leão também merecem destaque", disse o craque que consagrou a camisa 12 no clube, justamente por virar titular sendo o reserva de Velloso na temporada.SEGREDO Mas qual é a fórmula mágica para o Palmeiras revelar tantos craques para vestir a camisa 1? Por que o Alviverde tem tanta facilidade em encontrar bons jogadores para proteger seu gol? "Acho que a escola de goleiros do Palmeiras vem muito daí, da orientação e do prazer que nós tínhamos de representar bem o antecessor. Isto foi feito até o Marcos. Depois parou. Ou não acreditaram naquilo que eles tinham ou não souberam elevar o moral para que eles se tornasse mais um. São bons goleiros, mas pararam no limite", explica Emerson Leão. "Antes de eu parar de jogar já pensava em fazer esse trabalho específico com os goleiros. Fui aplicando minhas ideias aos poucos", diz Valdir. 

Hoje o titular do Palmeiras é Fernando Prass, que mais velho chegou com uma carreira já consolidada ao clube. Para continuar a tradição da escola de goleiros, Leão dá a fórmula: "O Palmeiras precisa contratar hoje dois goleiros jovens que já têm certa experiência mas que precisam aparecer e deixar que compitam entre si. Não pode ter preguiça de procurar. O time precisa voltar a ser uma família".