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Desempregado, Muricy curte dias livres com a família

Com tempo livre - 'sou desempregado' - desde a demissão no Palmeiras, ele se encarregou de tarefas domésticas, como abastecer a despensa ou aventurar-se na cozinha

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Por Wagner Vilaron e Antero Greco
Atualização:

Quando era adolescente, Muricy Ramalho madrugava para ajudar nas tarefas do pai, que tinha um box no Mercado Municipal de Pinheiros. Na época, o programa insólito o aborrecia. Com o tempo, passou a fazer parte de seus hábitos. Ir às compras se transformou em lazer e terapia - e hoje mais do que nunca virou frequentador de supermercado. Com tempo livre - "sou desempregado" - desde a demissão no Palmeiras, se encarregou de tarefas domésticas, como abastecer a despensa ou aventurar-se na cozinha. "Sou curioso no fogão", advertiu. "E às vezes ajudo a lavar a louça".A rotina de Muricy mudou em 18 de fevereiro, menos de 24 horas depois de o Palmeiras levar surra de 4 a 1 do São Caetano, pelo Campeonato Paulista. A sova fechou seu curto ciclo no Palestra Itália, interrompido aos sete meses, período no qual acumulou 13 vitórias, 11 empates e 10 derrotas. A saída inglória o incomoda, tanto que faz poucas referências ao clube. Mas lhe devolveu a chance de ficar um tempo a mais em casa, seu passatempo favorito.O que é um martírio para muitos treinadores, para Muricy é motivo de descontração. "Ainda não senti falta do dia a dia do futebol", admitiu. "Curto este momento. Vejo técnicos que saem de um clube para o outro e entendo, pois não têm muita paciência de ficar em casa. Mas adoro minha casa. Saio só para acompanhar minha mulher", contou, entre cafezinhos que acompanharam a entrevista exclusiva ao Estado em uma padaria da região do Morumbi, bem perto de sua casa.Aliás, é por ali, nas alamedas próximas ao estádio onde passou os melhores momentos de sua carreira como técnico tricampeão brasileiro pelo São Paulo, que Muricy aproveita o tempo livre. Entre as atividades diárias que mais o entretêm estão os passeios com suas cadelas, a yorkshire July e a maltês Tuti. Toda manhã, tarde e início de noite Muricy é visto na principal praça do bairro em companhia das duas. "Estão mais famosas do que eu", divertiu-se.Bola rolando. Muricy está sem clube, não tem pressa de voltar, mas não esquece da bola. A televisão é companheira fiel e alimenta o vício pelo futebol. Não são raros os dias em que o dono de casa assiste a três, quatro jogos. "Fico ligado em tudo mesmo, Série A, Terceira Divisão, futebol europeu. Além de ser meu trabalho, eu gosto muito de futebol, ao contrário de muitas pessoas que estão por aí", afirmou, sem esquecer das famosas cutucadas. "Além disso, o telefone da gente não para. Toda hora tem alguém ligando para trocar informações (detalhe: o celular de Muricy é programado para receber resultados dos jogos. A cada gol, uma mensagem é recebida)".O convívio mais próximo com a mulher Roseli e com os filhos Fabíola, de 27 anos, Muricy Júnior, de 20, e Fábio, de 15, tem feito bem para a saúde de Muricy. "Estou casado há 30 anos e muito bem!", avisou. Mais magro, bronzeado, o treinador também aproveita as férias prolongadas para cuidar da saúde. Os exercícios físicos voltaram a fazer parte de sua programação diária. "A gente tem de se cuidar. O futebol tem muita pressão, é muito estressante, difícil mesmo", ponderou. "Lembro de um período do seu Telê (Santana), quando ele ficou meio abandonado. Agora a gente vê o Ricardo Gomes levando um susto. Não dá para brincar com isso".Depois de passar nove anos fora do Brasil, Muricy voltou quatro anos atrás, tempo que ainda não considera suficiente para compensar o período de ausência. "Minha mulher, que é a chefe de tudo por aqui, já disse que minha presença fez diferença para os filhos. Ficarem felizes. A gente tem de considerar essas coisas quando toma decisões tão importantes", explicou. Para manter o contato mais próximo com os familiares, o treinador já decidiu que não irá para fora em 2010.O sossego e a privacidade não são interrompidos nem por propostas de trabalho. Muricy garante que não atende o telefone quando a chamada é de número não identificado. "O que posso dizer é que vou trabalhar no Brasil nesta temporada. Mas não tenho pressa. Pode ser agora, depois da Copa do Mundo, tudo bem", disse. "O que apareceu para mim até agora foram ofertas menores. A questão principal da proposta não é dinheiro. Vou trabalhar em um clube que me ofereça estrutura de trabalho e de elenco que possibilitem disputar títulos. Eu sobrevivo de resultados. Nada mais!"

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