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‘Deve ser São Pedro chorando’, diz Temer sobre chuva

Presidente só anunciou ida ao velório após desembarque dos caixões e justificou demora por questões de segurança

Foto do author Gilberto Amendola
Por Daniel Batista , Gilberto Amendola e enviados especiais a Chapecó
Atualização:

O presidente Michel Temer foi recebido na Arena Condá com indiferença. As temidas vaias não vieram, mas tampouco aplausos foram ouvidos. O presidente, que chegou ao estádio por volta do meio-dia, foi citado apenas uma vez durante o velório dos atletas, jornalistas e dirigentes da Chapecoense. A ida ao local da cerimônia foi cercada de mistério. A decisão em participar, segundo o próprio Temer, teria sido mantida em segredo para não criar desconforto para torcedores e familiares.

Temer chegou às 8h50 no Aeroporto de Chapecó. A presença do presidente foi alvo de bastante polêmica. Alguns familiares reclamaram do fato de precisarem ir até o aeroporto “encontrar o presidente”. Quem vocalizou essa insatisfação foi o pai do zagueiro Felipe Machado, Osmar Machado, no gramado da Arena Condá, na sexta-feira.

Temer não recebe vaias, mas tampouco aplausos na Arena Condá Foto: Niltson Fukuda/ Estadão

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A indecisão sobre a presença ou não de Temer na Arena Condá durou até o fim do desembarque dos caixões no aeroporto. “Não disse antes que iria ao estádio porque se eu dissesse a segurança iria colocar pórticos ao redor do estádio e revistar as pessoas que entram. Só comuniquei que vou lá agora para poder facilitar a vida de todos.”

Às 9h05, o presidente entrou em uma área reservada do aeroporto para conversar com as famílias das vítimas do acidente. No local, cerca de 50 pessoas receberam as condolências do presidente e de toda sua comitiva. Quem participou do encontro garante que não houve nenhum tipo de desconforto ou reclamação por parte dos parentes das vítimas.

Enquanto o presidente cumprimentava os familiares em uma sala privada, foram dadas várias informações conflitantes sobre a ida dele ao estádio. A assessoria da Chapecoense informava a ida do presidente à Arena Condá. Mas, ao mesmo tempo, a assessoria da presidência não confirmava a informação. Foi um parente de uma das vítimas quem avisou aos jornalistas que Temer teria afirmado que iria ao velório no estádio.

Quando o primeiro avião chegou trazendo os corpos das vítimas, os familiares saíram do encontro com o presidente e se dirigiram para uma área externa, perto da pista. O clima era de muita comoção. Chovia muito forte e o presidente declarou: “Quando vejo essa chuva penso que deva ser São Pedro chorando a morte desses jogadores.”

Os caixões desembarcaram um a um. Às 9h59, o caixão com o corpo do atacante Thiaguinho foi o primeiro a deixar o avião da FAB.

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Os caixões passaram por um corredor de oficiais da cavalaria perfilados ao som da marcha fúnebre. Cada corpo foi conduzido por seis oficiais do Exército.

Como os caixões estavam identificados com o nome das vítimas, os parentes caiam em prantos ao vê-los passar. O primeiro e o último caixões foram recebidos por Temer, além de uma salva de três tiros.

O presidente chegou na Arena Condá sem alarde. A torcida cantava o hino do clube e quase não notou a presença de Temer (ele sequer foi anunciado quando entrou no local da cerimônia). Mais tarde, por volta das 15h, Temer e comitiva aproveitaram um momento em que a arquibancada gritava “Dá-lhe, Chape” para se despedir e deixar o campo. Foi uma saída à francesa.

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