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Diego Souza: ?Japão me deu maturidade?

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Por Agencia Estado
Atualização:

Diego Souza recebe o repórter da Agência Estado após treino no CT do Palmeiras. A conversa é franca. Ele não foge das perguntas. Trinta minutos depois, uma repórter de TV pede uma exclusiva. "Qual é o tema?", pergunta Diego. "Jogadores na balada", responde a repórter. Diego chia: "Ah, não! Isso de novo, não!". O meia sabe que a fama de "baladeiro" pegou. Ele tem encontrado dificuldades para se desvincular dessa imagem. Afirma estar mudado, diz que o período de três meses no Japão o fez "acordar". Seus colegas elogiam seu novo comportamento, o técnico Leão fala que ele é "um dos melhores meias do Brasil". Mesmo tendo apenas 21 anos, Diego sabe: esta pode ser sua última chance. Agência Estado - Os jogadores falam que você está diferente, o Leão elogia. O que acha disso? Diego Souza - Não posso mais desperdiçar chances. Não voltei do Japão à toa. Quero agarrar a chance com unhas e dentes. Já tive problemas demais. Estava ruim até para minha família. Eu não sentia tanto, mas minha mãe e meu pai ficavam abatidos. AE - Ano passado você teve até que chamar a polícia para tirar a torcida da porta da sua casa... Diego Souza - Aquilo foi horrível. Não quero isso para a minha família. Mas já não tenho mais medo. Continuo morando na mesma casa. Vou dar a volta por cima, a torcida vai ver. AE - Nos treinos você não brinca mais. É essa a principal mudança? Diego Souza - Continuo brincalhão, mas aprendi a hora certa de brincar. Sou extrovertido e tenho intimidade para brincar com todos, mas sei que preciso ser mais concentrado. AE - Como foi a mudança? Diego Souza - Eu estava no Japão, país onde não sabia nem como pedir água. Ia para o treino, entrava mudo e saía calado. Não tinha como brincar. AE - Foi boa a experiência? Diego Souza - Ótima! As duas primeiras semanas foram muito difíceis, eu estava sozinho e morando numa casa enorme. Mas depois isso me ajudou a refletir. Estou mais maduro. AE - E a rotina na casa? Se sentia sozinho? Diego Souza - Demais! Não tinha com quem conversar. Aquilo não era uma casa, era uma mansão. Cinco suítes, uma banheira enorme, uma sacada. Só usava dois cômodos. O resto ficava trancado. AE - Não havia o que ver na TV? Diego Souza - Dei sorte, porque tinha a Globo Internacional. O problema era o fuso. AE - E a relação com os jogadores? Diego Souza - Era legal. A japonesada gosta muito de brasileiro. Na minha apresentação havia 50 mil pessoas no estádio! Foi fabuloso! E eles achavam legal as roupas de brasileiros, as chuteiras. O que mais me chamou a atenção foi que, antes dos treinos e dos jogos, eles entravam naquela banheira quente. Ofurô, né? Eles ficavam lá um tempo. Se a gente fizer isso aqui, entra morto em campo, ficaria pregado. AE - Você não entrava no ofurô? Diego Souza - Não! De jeito nenhum! AE - Se gostavam tanto de brasileiros, por que você teve de voltar? Diego Souza - Quando o Leão saiu do time (Vissel Kobe), assumiu um checo (Pavel Horvath), que começou a afastar os brasileiros e mesmo os japoneses que falavam português. Dispensou o Kazu, que era ídolo. A diretoria gostava de mim, até tentou comprar 40% dos meus direitos. Mas o checo não queria nem me ver. Peguei meu dinheiro e voltei. AE - A rescisão foi tranqüila? Diego Souza - Eu havia recebido vários conselhos de que não se deve brigar com japoneses. Eles odeiam brigar. Era melhor ouvir a proposta deles. Dessa forma, a rescisão me tomou algumas semanas, porque, no começo, eles queriam pagar 80% do que me deviam. Os outros 20% viriam depois. Não aceitei, porque quem queria rescindir eram eles. Me pagaram e eu voltei. AE - Se arrepende de alguma coisa no Palmeiras? Diego Souza - De ter brigado com o Estevam, sem dúvida. Esse negócio que falam de balada é besteira. Se eu estivesse jogando bem, ninguém falaria nada. Me arrependo mesmo é de ter brigado com o Estevam. Ele sempre me ajudou. Aquele negócio (ser substituído após entrar no segundo tempo) pode acontecer, é normal. Mas o que eu fiz (bater boca com Estevam) é que foi errado. AE - Você voltou a falar com ele? Diego Souza - Estou tentando. Falei com o Vágner Ribeiro (agente de jogadores), que tem boa relação com ele, para armar um jantar entre nós. Não tenho mágoa dele e não quero que ele tenha mágoa de mim. O Estevam é um técnico novo e eu só tenho 21 anos. O mundo dá voltas e a gente pode acabar trabalhando junto um dia. AE - E com a torcida, como você acha que será a relação? Diego Souza - Como eu falei, se eu estivesse jogando bem, ninguém pegaria no meu pé. Mas eu estava numa má fase danada, e calhou de alguém falar que me viu na balada. Isso pegou e era quase impossível acabar com essa imagem. Mas o tempo no Japão me deu maturidade. Todos me dizem que eu tenho qualidades; quero mostrar isso. Quero voltar a vencer.

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