Diretor da 777 Partners explica planejamento para novo Vasco e elogia modelo de empresa da Red Bull

Em entrevista ao "Estadão", Juan Arciniegas diz que intenção é tornar o clube carioca uma referência de projeto na América do Sul com aporte financeiro de R$ 700 milhões

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Por Pedro Ramos
Atualização:

O ano de 2022 pode ser um marco na história do Vasco. Em fevereiro, a diretoria acertou um acordo com o conglomerado 777 Partners para um investimento de R$ 700 milhões por 70% das ações de uma futura Sociedade Anônima do Futebol, que ainda precisa ser aprovada dentro do clube. Ao Estadão, o diretor da empresa americana Juan Arciniegas apresentou seu planejamento para o time carioca, revelou admiração ao modelo de times da Red Bull pelo mundo e contou ser favorável à criação de uma liga de clubes no Brasil, já em marcha para 2025.

A 777 Partners busca clubes históricos, de grandes cidades e com tradição esportiva. Hoje é sócio minoritário do Sevilla, da Espanha, mas virou dona do Genoa no segundo semestre do ano passado. O discurso da companhia é pensar no projeto a longo prazo e o Vasco passa a ser sua referência no futebol sul-americano.

Juan Arciniegas, diretor da 777 Partners, empresa que será dona do Vasco Foto: 777 Partners

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O clube realizará em breve quatro votações: uma para a constituição da SAF e outra sobre a venda para a 777 Partners. Mas as duas propostas precisam passar separadamente tanto pelo Conselho Deliberativo quanto pela Assembleia Geral de sócios. A dívida do clube atualmente gira em torno de R$ 700 milhões.

Um empréstimo da 777 Partners de R$ 70 milhões foi aprovado na última semana pelos conselheiros do clube e o dinheiro já foi transferido, sendo direcionado para sanar pendências salariais com funcionários. O restante do montante será destinado para quitar dívidas emergenciais. O clube não deve usar parte do valor para investir em reforços para a temporada. Caso a SAF seja aprovada, em breve, o valor de R$ 70 milhões será debitado do total dos R$ 700 milhões.

A entrada da 777 Partners no futebol é algo recente. Como entrar em um mercado sem tanto conhecimento e experiência?

Eu não diria sem muito conhecimento. Muitos de nós gostamos de futebol desde que nascemos, especialmente eu que nasci em Bogotá, na Colômbia, e é o meu primeiro e único esporte em toda a minha vida até me mudar para os Estados Unidos e ver a diversidade de esportes aqui. Você não conhece toda a nossa equipe, mas muitos de nós estão trabalhando em clubes e diria que temos uma quantidade razoável de conhecimento. Mas obviamente estamos nos relacionando com pessoas em meio a entrada desses investimentos colocando especialistas nos clubes que temos trabalhado, por enquanto só o Genoa, já que temos uma participação minoritária no Sevilla. Mas no Genoa nós colocamos pessoas que são especialistas nos seus campos de atuação, acredito que os melhores de cada área, e é assim que acredito que teremos sucesso.

Quais foram os primeiros aprendizados desde que a empresa começou a investir no futebol e que vocês provavelmente não sabiam antes?

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Eu acho que um aprendizado obtido foi a real necessidade de estar presente e para os torcedores entenderem que você é um investidor presente. Por vários motivos você quer estar, mas também porque é importante estar próximo do trabalho sendo feito, especialmente no futebol. Estar próximo e entender como funciona por dentro é crucial para ter um clube de sucesso, se não tiver essa presença, eu acho muito difícil dar certo.

O futebol brasileiro ainda não tem uma liga. Há uma nova tentativa em curso, mas caminha lentamente. Por que o mercado brasileiro, além do talento e da paixão local, é atrativo?

Bem, por várias razões. Mas vamos começar com uma que você citou que, embora ainda não tenha acontecido, nós achamos que é uma incrível fonte de potencial para a liga, os torcedores e os investidores. Para qualquer desfecho que a discussão sobre a liga caminhe, eu realmente acredito que centralizar e criar uma liga é a solução no futuro próximo para aumentar as receitas dos clubes e acho que isso tem de acontecer. Quanto mais investidores como nós chegarmos ao futebol brasileiro, mais vozes estarão a favor da importância de dar esse passo. Sou muito favorável a isso. O Brasil é onde o futebol mais bonito é jogado. É o lugar mais empolgante para se estar no futebol, eu penso. Eu não poderia estar mais animado em fazer parte disso. Tomara que a gente consiga finalizar tudo para tornar oficial muito em breve. 

Você disse em uma entrevista recente que a empresa está interessada em comprar clubes da Europa Ocidental e Oriental. Que tipo de planejamento multiclubes vocês pensam?

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Nós queremos ter uma quantidade gerenciável de clubes que compartilham características semelhantes, como estar situados em grandes cidades, com grandes populações, com muitos torcedores e é isso que vai ser o que vai sustentar esses times para sempre, contanto que você respeite a tradição e os torcedores. Eles vão te ajudar nos altos e baixos momentos que naturalmente vem no futebol. (Olhamos) times de mercados que têm possibilidade de crescimento. Até agora, nós investimos em lugares que acreditamos. O maior é o Brasil. Mas não temos um número específico em mente de clubes. Nós temos de ter cuidado na possibilidade de esses clubes se enfrentarem em competições, então precisa ser inteligente para saber em qual mercado entrar. Não podem ser muitos times, a não ser que você esteja comprando vários pelo mundo, como o City Football Group fez. Não há um número mágico.

O acordo entre a 777 e o Vasco prevê investimento de R$ 700 milhões e o projeto é de longo prazo. Muitos torcedores se perguntam quanto desse valor será usado nos próximos anos?

Todo o dinheiro deve ser investido nos próximos, eu diria, quatro anos, mais ou menos. Depende de algumas coisas. Parte do dinheiro para infraestrutura, uma parte diferente será para pagamento de dívidas, etc. Em termos de planejamento, a previsão é de quatro anos, mas saber se realmente todo esse valor será usado está um pouco fora do nosso controle. Porém, temos já um bom avanço de como esse investimento será alocado.

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Vocês já têm nomes definidos para alguns cargos?

Não, ainda não. Basicamente, nós temos, em pouco menos de três meses, que ter a confirmação da due diligence. Com todo o trabalho que já tivemos até agora, é difícil agora achar alguma surpresa. Parte desse processo vai ser o de entender a composição da direção, de todo o clube e compreender como podemos ajudar em termos de pessoal ou conselhos estratégicos. Então, não temos planos de retirar ou integrar alguém específico de uma função. Nós queremos trabalhar com a direção e ver o melhor para o clube e usar a nossa competência e a de nossos parceiros.

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Até que ponto se pode esperar a 777 envolvida no dia a dia do clube?

Acho que são duas formas. Uma é nós, eu e Josh, estarmos visitando o Brasil, indo a jogos, conversando com a direção, seja por telefone, videoconferência ou pessoalmente. A outra seria contratar pessoal em tempo integral para aumentar nossa equipe e ter profissionais que possam trabalhar muito tempo em cada clube que temos. Não precisa ser necessariamente eu, pois preciso estar aqui na sede (em Miami), mas um profissional exclusivamente focado no clube, um representante nosso lá. Então será uma combinação disso. Não podemos estar em todos os times ao mesmo tempo, mas acho importante estar presente, mostrar aos torcedores isso. Sentimos que a recepção da torcida do Vasco e do Genoa também foi muito positiva e somos muito gratos por isso.

No Genoa, o investimento feito foi mais voltado em jovens atletas porque o elenco era considerado velho. No Brasil, o modelo da Red Bull é focado em promessas em ascensão. Vocês têm um perfil de jogador em mente?

É preciso respeitar e admirar muito o trabalho do modelo da Red Bull. Aliás, algumas das primeiras pessoas com quem fizemos parceria saíram do sistema deles, como o Johannes Spors e Alexander Blessin, atual diretor de futebol e técnico do Genoa, respectivamente. Eles vêm dessa mentalidade. Tem vários motivos para gostarmos desse modelo. O primeiro é, como você disse, contratar jovens que podem ser desenvolvidos e que, quando as duas partes consentirem em uma mudança, o clube possa capitalizar no valor gerado. Mas também é sobre jogar um estilo de futebol de pressão alta. Para atuar nesse modelo, você precisa de atletas de características específicas e muito bem fisicamente. Então é preciso estabelecer metodologia de treinos e nutrição consistentes com isso. Acho que os princípios da pressão alta pode ser aplicados em qualquer lugar, mas penso que isso precisa se ajustar com o futebol local. Fizemos isso na Itália, onde o futebol tem um estilo completamente diferente de jogo. Muita gente nos alertou contra isso. 'Você não pode colocar um técnico que não é italiano' (o atual técnico é alemão). Nós fizemos mesmo assim. Tivemos azar com seis empates seguidos até agora, embora nós tenhamos dominado quase todos os jogos. Entendemos que é preciso ter um plano consistente, um modelo sustentável de que não exija investimento adicional todo ano.

O Vasco vai jogar novamente esse ano a segunda divisão nacional. Onde você projeta o clube nos próximos três ou quatro anos?

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Claro que esperamos que esteja novamente na primeira divisão. Queremos que dispute competições sul-americanas e, no Brasil, há várias vagas para esses torneios, comparado aos outros países do continente. Tem muito trabalho ainda a ser feito. Não é algo da noite para o dia. Queremos estar no top 5 do futebol brasileiro, mas não podemos garantir isso a curto prazo porque ainda estamos na segunda divisão. Então precisa de um tempo para chegarmos ao topo.

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