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Do terrão ao society: campos de várzea em São Paulo sofrem transformação

Gramado artificial já é maioria nos 250 campos dos Clubes da Comunidade administrados pela Prefeitura

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Por Guilherme Amaro
Atualização:

Os campos de várzea em São Paulo estão em transformação. A cor tem mudado ao longo dos anos: sai o marrom para a entrada do verde. As chuteiras também mudam: não há mais a necessidade de ter cravos altos no solado. O chamado "terrão" está virando gramado sintético. Hoje, o society é maioria nos 250 campos dos Clubes da Comunidade (CDCs) administrados pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SEME) da Prefeitura de São Paulo. São 129 gramados sintéticos e 121 de terra batida.

A mudança, na teoria, beneficia a prática do futebol. A realidade, porém, não é bem assim. Muitos campos sintéticos sofrem com a falta de manutenção. O "terrão" sem cuidado continua sendo terrão. O gramado sintético sem cuidado se transforma em um piso praticamente impraticável, com descolamento do gramado artificial - embaixo, normalmente o revestimento é de cimento, o que gera mais calor. Muitos atletas amadores ouvidos pela reportagem preferem jogar na terra.

Campo da Xurupita ainda é terrão, mas será transformado em sintético Foto: Alex Silva/Estadão

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A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer informa que a gestão de cada CDC "é feita por entidades da comunidade local com reconhecida vocação no trabalho esportivo, legalmente constituídas em forma de associação comunitária e/ou eleitos pela própria população do bairro".

Cabe à SEME coordenar o processo de eleição das entidades que farão a gestão, fiscalizar o uso, implementar políticas públicas e inserir atividades no calendário destes espaços. A eleição de cada diretoria é realizada de dois em dois anos. Se a prefeitura achar que o espaço não está sendo bem administrado, a concessão é perdida.

O dinheiro para a mudança de gramado vem principalmente de emendas parlamentares. Para a construção de um campo sintético de 7.140 m² (medida padrão adotada pela Fifa), por exemplo, é preciso investir em torno de R$ 600 mil. Como envolve muitas pessoas, entre jogadores e torcedores, ser o vereador responsável pela reforma dos campos de várzea atrai votos. Os políticos costumam aparecer na inauguração dos locais. As outras receitas são obtidas com a cobrança para a utilização do espaço e eventos realizados.

ANÁLISE

Jeferson Sabino dos Santos, coordenador do projeto do Oeste Barueri no campo do Fazendinha, na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo, comentou sobre a mudança nos campos de várzea de São Paulo. Sua avaliação segue abaixo. Tem muita gente do pessoal de várzea que prefere mais a grama sintética do que o terrão. Se chover, você consegue jogar, por exemplo. O terrão vira um barro e fica mais complicado de se jogar. No meu caso, sou suspeito para falar. Prefiro mais a terra do que a grama sintética, porque com o tempo o society vai ficando ruim sem manutenção.

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O campo do Fazendinha virou society há quatro anos. Essas mudanças que acontecem tem muita questão política, ainda mais quando é ano de eleição na cidade. Acaba sendo uma forma de os políticos conseguirem votos.

No nosso projeto, fazemos um trabalho com crianças de 8 a 13 anos às segundas, quartas e sextas-feiras, com a prática de fundamentos. De 15 aos 23 anos, treina todo mundo junto entre segunda e sexta".

Campo sintético é maioria na várzea paulistana Foto: Divulgação
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