Uma Copa sem Brasil e Argentina após a fase de grupos seria um desastre. Para o Mundial, a ponto de afetar a Fifa e seu faturamento, o espetáculo e o nível técnico do certame. E sacaria dos gramados russos, repentina e simultaneamente, Messi e Neymar, duas das maiores estrelas do futebol na atualidade. E tal possibilidade, inimaginável há algumas semanas, hoje é um risco real.
+ Luis Fernando Verissimo - Fenômenos
+ Tá russo! As ‘noites brancas’ são lindas, mas atrapalham o sono
+ Rodrigo Cavalheiro - A mãe do VAR
A bagunça que se viu quando os argentinos estiveram em campo é reflexo do que se passa longe das quatro linhas. Os equívocos, as inseguranças e a indecisão de Jorge Sampaoli estão na ponta de um problema que começa na AFA (Associação de Futebol Argentino). As trapalhadas dos dirigentes criaram um cenário que às vezes faz a CBF parecer modelo de gestão.
Em tempos de Copa, ficou internacionalmente conhecida a robusta figura de Claudio “Chiqui” Tapia. Presidente do Barracas Central, minúsculo clube da terceira divisão, ele chegou à presidência da AFA em meio ao caos e funciona como uma espécie de testa de ferro do sogro, Hugo Moyano, polêmico líder dos caminhoneiros argentinos e que preside o Independiente.
Tapia parece funcionar como uma marionete com duas cordinhas. Uma é controlada pelo pai de Paola, sua mulher, e outra manejada por Daniel Angelici, presidente do Boca Juniors, homem ligado ao controverso Presidente da República, Maurício Macri. Por sinal, o clube mais popular do país foi fundamental para catapultá-lo até a prefeitura de Buenos Aires e depois alcançar a Casa Rosada.
Na imprensa argentina não faltam jornalistas sensacionalistas, “criativos”, mas isso não faz dela absolutamente sem credibilidade, como Tapia insinuou em entrevista neste domingo. Há, sim, boatos e exageros, mas inegavelmente a crise que já corroeu os gabinetes da AFA atinge o time. O grupo está dividido, sem comando, perdido, e a Argentina desperdiça Messi.
Se o maior craque da atualidade se abate, e por isso é criticado, ele sofre porque Sampaoli, que chegou à seleção um ano e 15 dias antes da Copa, jamais esteve próximo da montagem de um time. Tite, por sua vez, assumiu o Brasil 345 dias antes, mas também tardiamente, reflexo da bagunça na CBF. Contudo, foi mais objetivo, eficiente, se classificou antecipadamente e navegou longos meses em águas tranquilas.
Só que a Copa não tem como característica a calmaria das Eliminatórias Sul-americanas. E isso tem feito o Brasil sofrer um pouco. O empate com a Suíça deu o primeiro sinal e o sofrido triunfo sobre a Costa Rica ligou o alerta.
Com Neymar fora da melhor forma em função da lesão e demonstrando grande nervosismo em campo, o Brasil terá de buscar equilíbrio diante da Sérvia. Se os argentinos precisam vencer a Nigéria e torcer para que a Islândia não derrote a Croácia (ou vença por diferença menor de gols), ao Brasil basta um empate. Mas o adversário é perigoso, experiente, duro e capaz de vencer. Os dois gigantes estão ameaçados.