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Dois toques na bola e o gol

Em uma final tão medrosa, com cautela excessiva, nada mais autoexplicativo como o valioso gol de Breno Lopes

Por Mauro Cezar Pereira
Atualização:

Dizem que as partidas decisivas são amarradas, truncadas, quase sempre feias. Faz sentido, o medo de tomar um gol e não conseguir reagir, de perder tudo, leva, inúmeras vezes, à excessiva cautela. Mas há um limite para isso. Ou deveria haver. Palmeiras e Santos fizeram um dos piores jogos dos últimos tempos, e não o calorão no Maracanã justifica o nível tão baixo de futebol visto. Com dois minutos de jogo já haviam sido despejados dois inúteis arremessos laterais na área adversária, um de cada lado. O Palmeiras esperando e o Santos com mais iniciativa. Não muito mais, por sinal. Aos 9, Lucas Veríssimo levou amarelo por falta em Rony, na primeira bola recuperada pelo Palmeiras com espaço para acelerar o jogo. O Santos já tinha 67% da posse de bola aos 10, pelas estatísticas do SofaScore.

Em novembro, mês em que Breno Lopes chegou ao Palmeiras, apenas negociações nacionais eram permitidas Foto: Wilton Junior/Estadão

Falta perto da área santista e uma série de escanteios proporcionaram aos palmeirenses a primeira, tímida, pressão. Repertório até ali: bola parada. Jogo tenso e fraco nos primeiros 20 minutos. E tome ligação direta. Quando aos 25 uma falta na intermediária ofensiva do Palmeiras gerou cruzamento sem consequências, foi possível lembrar o time campeão da Copa do Brasil em 2012, com Luiz Felipe Scolari. A diferença é que as batidas de Marcos Assunção costumavam ser perigosas. O Santos tentava construir, mas faltavam jogadas. Muitos erros e um jogo fraco na primeira meia hora. Aos poucos, o time alvinegro chamava o Palmeiras para seu campo, mas não conseguia articular ações de ataque, mesmo com espaço. Aos 36, um lateral na defesa do Santos gerou recuperação de bola e chute cruzado de Raphael Veiga. Roubar no ataque e finalizar era um caminho ante tamanha falta de criatividade.  Uma bola cruzada na área aqui, outra ali, e assim foi o primeiro tempo fraquíssimo. Nem o calor justificava futebol tão pobre dos dois times, com nenhuma finalização no alvo. Depois de 10 minutos do segundo tempo, mais um lateral na área do Santos. Até então, após o intervalo, uma bola cruzada havia assustado os palmeirenses é uma falta ameaçara os santistas.  Aos 32 do segundo tempo, o Santos finalizou pela primeira vez na direção do gol. Weverton finalmente trabalhou. Assim, mesmo com a temperatura caindo, a peleja seguia arrastada, fraca, absolutamente distante do que se espera de uma final. Era uma final que tinha tudo para ser decidida de maneira aleatória, pois os treinadores pareciam realmente mais preocupados em não perder. Os times não se soltavam, não agrediam, não buscavam o gol com o mínimo de coragem. Até que nos instantes finais, um dos técnicos entrou em ação, e da pior maneira possível. Quando a bola parou na área técnica, Cuca tentou segurá-la, se embolou com Marcos Rocha e foi expulso. Após alguns minutos de confusão, a partida, que aparentemente terminaria sem gols, seguiu mais alguns minutos com os santistas sem seu treinador à beira do campo. Por uma tolice. Enquanto Cuca se acomodava no meio dos torcedores (sim, havia perto de 7 mil pessoas no estádio em plena pandemia, absurdo, mas real), Rony, de apagada partida, cruzou na área, Pará não subiu e Breno Lopes cabeceou. O gol do jogador que chegou ao Palmeiras há pouco tempo, como o técnico Abel, valeu o título. Aquela foi sua única finalização em 20 minutos no campo. Ele tocou na pelota apenas duas vezes. Em uma final tão medrosa de lado a lado, com cautela excessiva, nada mais autoexplicativo como o valioso gol de Breno. Aleatório como os laterais na área. Parabéns ao Palmeiras que “jogou” melhor esse “jogo”.*COMENTARISTA ESPORTIVO

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