Dono da DIS se diz traído e desabafa: 'Vestir a camisa do Neymar é apoiar a corrupção'

Sócio-fundador do grupo de investimento afirma que jogador arquitetou fraude em transferência para o Barcelona

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Por Nathalia Garcia
Atualização:

Sócio-fundador do grupo de investimento DIS, o empresário Delcir Sonda veio a público nesta quarta-feira, em entrevista coletiva em São Paulo, para dizer que se sente traído por Neymar e sua família. O empresário, de forma emocionada, desabafou: "Vestir a camisa do Neymar é apoiar a corrupção".

"Fui traído por Neymar Júnior, seu pai e sua mãe, a DIS foi traída. Houve fraude arquitetada entre Neymar, seus pais e Barcelona com o uso de contratos simulados, pagamentos escondidos, advogados e viagens escondidas", declarou. "Fiz tudo o que podia para esse menino, o sentimento que tenho é mágoa", afirmou.

Sócio-fundador do grupo de investimento DIS, Delcir Sonda acusa Neymar de ter arquitetado a polêmica transferência ao Barcelona Foto: Fernando Bizerra/EFE

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A DIS, que detinha 40% dos direitos econômicos de Neymar, alega a ocultação dos valores da venda do atacante para o Barcelona em 2013 de forma que o grupo de investimento teria recebido um montante menor ao que teria direito, caracterizando um caso de corrupção privada. Ele também é acusado de estelionato pelo Ministério Público espanhol. Na época, foi divulgado que o jogador foi vendido por 17,1 milhões de euros. A Justiça Espanhola, entretanto, estima que a negociação tenha cifras muito superiores.

"Neymar, seus pais e o Barcelona fraudaram o livre mercado, foi um golpe arquitetado. É lamentavel que a carreira de um jovem seja manchada por atos criminais. São esses os valores que vamos ensinar para as crianças? Eu acho que não", ressaltou Delcir Sonda. 

O debate inclui o pagamento de 40 milhões de euros do Barcelona para a empresa da família de Neymar, a NN Consultoria. Segundo a defesa do jogador, o valor refere-se à quebra de um pré-contrato de prioridade do clube espanhol ao negociar diretamente com o Santos para a transferência do atacante ao futebol europeu. Desse montante, o repasse de 10 milhões de euros foi justificado como empréstimo pelo contrato de preferência.

A DIS contesta essa versão e alega que houve fraude na tentativa de ocultar o valor total da transferência para prejudicar o grupo de investimento. No processo penal que tramita na Espanha, pede a prisão de Neymar por cinco anos e espera que ele fique impossibilitado de atuar durante esse período. Além disso, quer seis anos de suspensão para os dirigentes de Barcelona e Santos, multa equivalente a três vezes o benefício financeiro recebido por aqueles que participaram dos delitos investigados, seis anos de inabilitação para a mãe e pai de Neymar na administração das empresas da família. 

"Não estamos falando de interpretações contratuais. Contratos estão firmados, Barcelona e jogador são perfeitamente conscientes sobre os direitos econômicos. Decidem enganar o mercado, pagar por debaixo da mesa com a finalidade de fraudar os contratos escritos, enganar o mercado. Por isso, é acusado de dois delitos criminais", disse Eliseo Martinez, advogado da DIS na Espanha e sócio diretor do escritório lus+Aequitas Abogados. 

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O advogado da DIS no Brasil e sócio do escritório Miguel Neto Advogados, Paulo Nasser, nega que houve qualquer tratativa de acordo entre o grupo e os envolvidos. "Esse não é um tema exclusivamente de dinheiro, é justiça. A ação penal investiga potenciais delitos, a DIS quer que a lei seja aplicada de forma correta e indistinta, que a lei se aplique igual a todos. Qualquer tentativa de acordo passa apenas por valor financeiro e o que se discute não são apenas valores financeiros, discute-se justiça".

Apesar de as ações da DIS e da Promotoria espanhola serem distintas, serão julgadas em conjunto pela Justiça da Espanha. A data do julgamento ainda não está definida, a expectativa é de que ocorra ainda este ano.

No início do mês, Neymar foi julgado em processo fiscal no Carf, em Brasília, e teve o recurso negado no que diz respeito à transferência para o Barcelona. Segundo a Promotoria, os 10 milhões de euros pagos em 2011 caracterizava um adiantamento pela venda do promissor jogador de futebol ao clube catalão. Procurado pelo Estado, Neymar, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não vai se manifestar sobre o assunto.

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