Doping em São Paulo triplica e Federação adota 'tolerância zero'

Entre 2015 e 2016, casos passaram de cinco para 15 em todas as divisões do futebol paulista

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Por Gonçalo Junior
4 min de leitura

A Federação Paulista de Futebol adotou política de tolerância zero em relação aos casos de doping, que triplicaram entre 2015 e 2016, passando de cinco para 15 jogadores que utilizaram substâncias proibidas pela Wada (Agência Mundial Antidoping).

 A primeira medida foi aumentar o número de amostras de urina analisadas. Em 2016, serão 1650 amostras coletadas em todas as divisões do futebol paulista. Isso significa um aumento de mais de 200 exames em relação ao ano passado. A Uefa, entidade que controla o futebol europeu, costuma analisar mil por ano. A Conmebol, 1500. A CBF é a “campeã mundial” com mais de 6000 testes por temporada.

Outra medida para coibir o uso de substâncias proibidas é a adoção de penas rigorosas. “Os auditores têm a mão pesada e geralmente recomendam a pena máxima”, diz Antonio Assunção Olim, presidente do Tribunal de Justiça Desportiva.

As substâncias mais comuns nos casos de doping no Paulistão Foto: Arte|Estadão

Fernando Solera, presidente da Comissão de Controle de Doping da Federação e da CBF, afirma que existe uma recomendação expressa da Federação Paulista de Futebol de buscar o jogo limpo a todo custo. “A orientação é tolerância zero com os casos de doping”, sustenta Solera, nomeado pela Fifa na semana passada como a maior autoridade de teste antidoping no Brasil. O argumento principal usado pela entidade, alinhada com as determinações do COI e da Wada, é a necessidade de se garantir uma disputa justa.

Wagner Peres, meia do Água Santa, é um dos jogadores suspensos do futebol paulista. Depois que foi encontrada a substância benzoilecgonina, derivada do metabolismo da cocaína, em seus exames, ele foi suspenso do futebol até 2020. Wagner diz que não sabe o que deu errado com os exames e que poderá voltar no fim do ano que vem, se tudo der certo, após pedir revisão do caso. Já tem acordo com uma equipe de Goiás. A suspensão, obviamente, traz problemas econômicos. Hoje, ele mora com a sogra para economizar. Conta que não procurou outra profissão porque tem esperança de voltar a jogar.

O meia Luiz Carlos Medina superou o doping e está no futebol mexicano Foto: JUAN BERAZATEGUI|UAEM

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Wagner foi um dos poucos a relatar sua história de doping ao Estado e, mesmo assim, a contragosto. Um traço marcante nos casos é o silêncio dos atletas. Os irmãos gêmeos Mario e Matheus Augusto Destro, que atuavam no São Carlos, estão suspensos até 2018 e foram proibidos por seu agente de comentar a pena. “Eles são meninos do bem, que deram vacilo com um medicamento não autorizado. Se ficarem expostos, será difícil empregá-los de novo”, diz o empresário Edson Khodor.

A palavra “doping” está diretamente associada à ingestão de substância para ter uma vantagem em relação aos oponentes. Os anabolizantes, por exemplo, provocam o crescimento dos tecidos musculares, resultando na melhoria do desempenho físico. O uso de qualquer substância presente na lista anual da Wada leva o atleta a julgamento. Ele pode ser advertido ou até banido do esporte.

O doping acidental, no entanto, não é raro. Aqui entra o terceiro tópico de atuação da Federação Paulista: a prevenção. Preocupada com a diminuição do doping involuntário, aquele em que o jogador não sabe que está tomando substâncias proibidas, especialistas percorrem os clubes para oferecer palestras gratuitas de conscientização. Uma dobradinha entre a CBF e a Federação resultou na visita de 40 agremiações.

Eles alertam para questões simples. Atletas não podem tomar analgésicos a base de isomepteno (como Neosaldina) ou remédios para hipertensão a base de clortalidona (como Higroton), por exemplo. Qualquer medicamento deve ser informado ao médico do clube. Nesse quesito, o vilão é o suplemento alimentar, que pode estar contaminado. “Os fabricantes não são obrigados a discriminar todos os componentes das fórmulas”, alerta Solera.

Alecsandro tinha recebidopunição de dois anos pelo doping Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras

CASO ALECSANDRO O atacante Alecsandro, do Palmeiras, foi condenado, mas depois absolvido em um caso de doping no ano passado. O primeiro julgamento, em agosto, terminou com a punição e suspensão de dois anos pela presença da substância proibida O-Dephenylandarine no seu organismo. A defesa do atacante alegou que o componente era fruto de uma reação química de produtos presentes em loções capilares, de uso pelo jogador na época. Em setembro, a Federação Paulista recebeu da Agência Mundial Antidoping (Wada) um comunicado que finalmente absolvia o atacante. “Há de se considerar que este é o primeiro caso relatado no mundo com esta interação metabólica em seres humanos”, esclarece o comunicado da Wada.

O volante Arouca foi suspenso preventivamente por um mês, também em 2016, pela presença da substância Hidroxytriamcinolone acetonide. O Palmeiras conseguiu sua liberação até o julgamento, que ainda não ocorreu.

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