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É apenas um sonho?

Fluminense oferece partidas agradáveis e devemos ao clube a recuperação de Ganso

Por Ugo Giorgetti
Atualização:

O controle remoto é uma invenção demoníaca. Pode abolir, numa fração de segundos, uma imagem que nos desagrada no futebol. Eu cada vez mais utilizo essa invenção para rapidamente me ver livre de imagens que abomino. Toques de bola laterais que não acabam são prioridade absoluta. O problema é que, ao me livrar da imagem nefasta, caio em outro jogo onde essas mesmas imagens se repetem com outras equipes em campo. A mediocridade parece contagiosa como epidemia e independe do clube, de seu poderio, de suas tradições e de sua torcida. É assim. Quem quiser que espere sentado por um lance de sorte ou habilidade surpreendente ocorrer durante 90 minutos, fora os acréscimos. É realmente um desespero. Vou me defendendo, e, entre a opção de desligar todos os jogos e todas as transmissões e aceitar a ilusão e o delírio, fico com esta última atitude.

Consiste em ver outro jogo, perdoar o imperdoável, confiar no inconfiável, ser indulgente com atletas que em outras épocas estaríamos vaiando desde os quatro minutos iniciais da partida.

Ugo Giorgetti. Foto: Paulo Liebert/Estadão

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Esse expediente não vale muito. Não serve para uma partida inteira. Mas é o que tenho. Às vezes essa atitude de defesa me abre outras possibilidades. Outro dia, caí, mais ou menos inadvertidamente, no jogo entre Fluminense x Botafogo. Fiquei vendo, muito por curiosidade sobre o Fluminense, dirigido por uma pessoa que admiro faz alguns anos, Fernando Diniz. E fui largamente recompensado. Finalmente pude ver uma partida agradabilíssima com um time mostrando um futebol agressivo, de qualidade, e, principalmente, sem medo. A maneira como o Flu se comporta em campo, veloz, sem tomar conhecimento do rival é, acima de tudo, divertida e alegre. Parte para cima em contra-ataques, com numerosos jogadores, toma conta do jogo e procura o gol. Não tem medo de proporcionar ao seu adversário oportunidades de ameaçar seu gol. Isso parece fazer parte do jogo para Diniz.

Devo dizer que, na minha opinião, a atitude do Flu melhorou até o time do Botafogo, fazendo-o resistir e contra-atacar perigosamente, obrigado pelo oponente. O jogo terminou empatado.

O Fluminense não ganhou, mas que importa? Foi ele quem deu as cartas, foi ele que ameaçou mais, e a ameaça é uma arma terrível no futebol, mesmo quando não alcança os resultados esperados. Quem ameaça é porque não teme e esse destemor incomoda profundamente o medíocre. Fiquei feliz de ver esse jogo agradável, de passes verticais, onde zagueiros tem de jogar sem tentativas de passes longos que não sabem fazer, onde avança quem pode e nunca dando chutões mesmo sob sério risco de perder a bola, ainda que perto do próprio gol. Esse é o estilo de Diniz e torço mais do que nunca que se saia bem no Fluminense, time aristocrático, elegante desde sua fundação, que já abrigou um Didi em suas fileiras. Lugar ideal para Diniz dar certo.

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Fiquei tão entusiasmado que vi até o teipe do jogo. Pode ser o resultado dessa ilusão a que me referi, que me faz ver coisas melhores onde na realidade não existem. Mas certas coisas eu vi e não estou ainda completamente louco. Vi Paulo Henrique Ganso e sua classe voltando ao futebol, sem alterar nada de sua postura habitual, meio parado no meio-campo, saindo só de surpresa, sempre com passes requintados. 

Ganso é o rei. Não perde quase nenhuma enfiada de bola para jogadores que se deslocam à procura de seus passes. De quebra ainda fez um gol. Recuperar o Ganso para o futebol por si só já é um enorme serviço prestado que vamos dever ao Flu. Infelizmente, o número de torcedores no Maracanã esteve aquém do jogo. Mas algo me diz que o Fluminense x Botafogo que vi foi mais do que um sonho de noite de verão chuvosa. A conferir no Brasileiro.

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