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Empresa do Catar deu dinheiro à CBF por amistoso

Segundo apuração do Estado, partida contra a Argentina foi paga por GSSG, que hoje é responsável por obras da Copa

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Por Redação
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A CBF e a seleção brasileira foram financiadas pelas empresas responsáveis por construir a infraestrutura da Copa de 2022 no Catar e consideradas como um braço do emir do país do Golfo. O 'Estado' apurou com exclusividade que a empresa que pagou o amistoso entre Brasil e Argentina em 2010 em Doha foi a Ghanim Bin Saad Al Saad & Sons Group Holdings (GSSG), que hoje é a responsável por obras da Copa, inclusive por construir a cidade que vai sediar a final da Copa. A empresa é presidida por Ghanim Bin Saad, que também acumula a gerência de uma estatal do setor imobiliário que está erguendo algumas das principais obras da Copa do Mundo - a Qatari Diar Real Estate Investment & Co.

Brasil e Argentina se enfrentaram em Doha em 2010 Foto: Mohammed Dabbous/Reuters

Nesta semana, a Fifa revelou seu informe sobre a corrupção na escolha da sede da Copa de 2022. Apesar de absolver o Catar - ontem, o responsável pela investigação, Michael García, recorreu da decisão da Fifa de encerrar o caso -, a entidade deixou claro que o amistoso de 2010 entre brasileiros e argentinos foi pago por um "conglomerado" que usou o jogo para transferir dinheiro para cartolas sul-americanos. A Fifa chegou a sugerir que um processo seja aberto para investigar a transferência, mas indicou que o dinheiro "não tem conexão" com a suposta compra de votos do Catar para ganhar a disputa para ser sede do Mundial. Três semanas depois do amistoso, Brasil e Argentina votaram pelo Catar na Fifa. O Estado apurou que o financiamento da partida ocorreu por meio da GSSG, uma das maiores parceiras do futebol local e plenamente envolvida na organização da Copa. Quem também participou da operação foi uma empresa com sede em Zurique, a Swiss Mideast Finance Group, que ajudou a financiar a partida com seus parceiros ocidentais. A companhia é a mesma que presta consultoria para a Qatari Diar, construtora das obras da Copa do Mundo. Contactadas pela reportagem, as empresas se recusaram a comentar seu envolvimento no jogo do Brasil com a Argentina ou com a CBF. Mas, a um jornal do Catar em 1.º de novembro de 2010, um dos administradores da empresa confirmou o envolvimento tanto no jogo do Brasil como na Copa. "Como parte proeminente da comunidade do Catar, o GSSG valoriza os esforços de nosso país e os investimentos para fortalecer nossa juventude e o esporte, sediando a Copa do Mundo em especial", disse Mohammed Hassan Al Hamadi, vice-presidente da GSSG. "Nosso dever é dar apoio em todos os níveis para ajudar o Catar a conquistar o direito de sediar o evento", completou. Entre as obras da empresa de Ghanim Bin Saad na Copa está a pérola do projeto: a construção da cidade de Lusail, que vai sediar a final em um estádio de 80 mil lugares. Projetada para acolher 450 mil habitantes, a cidade vai custar US$ 45 bilhões (R$ 117 bilhões) e deve estar pronta em 2020. O financiamento para a realização das obras é destinado pelo governo. Fundo de jogadores. Além do estádio, a cidade vai contar com dois campos de golfe, um parque temático, uma lagoa e duas marinas - uma delas financiada pela GSSG. A empresa que financiou o Brasil também investiu US$ 10 milhões (R$ 26 milhões) em um fundo de jogadores sul-americanos na esperança de lucrar cada vez que um deles for transferido para o mercado europeu. O nome dos atletas não é revelado. Do lado da CBF, o jogo no dia 17 de novembro de 2010 foi ainda o palco da negociação com os árabes da ISE para começar a debater a prorrogação de um contrato milionário com a entidade para a venda dos direitos dos amistosos da seleção brasileira. O novo contrato tem validade até 2022, o ano em que será realizada a Copa no Catar. 

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