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Empresas da Europa estão à frente das obras no Catar

Multinacionais terão contratos com lucros de US$ 15 bilhões até 2022

Por Jamil Chade e DOHA
Atualização:

Um engenheiro irlandês, que pediu para não ser identificado, confirmou as condições "terríveis" em que vivem os operários. "Se uma empresa fizesse isso na Europa, seria denunciada." Mas segundo a Confederação Internacional de Sindicatos (ITUC, sigla em inglês), a realidade é que a grande maioria das obras está sendo realizada justamente por empresas europeias. Juntas, as multinacionais do setor da construção terão contratos com lucros avaliados em US$ 15 bilhões até 2022, num projeto que vai custar US$ 220 bilhões. 

Trabalhadores fazem pequena pausa antes de retornar para as obras Foto: Jamil Chade|Estadão

A construtora espanhola ACS, por exemplo, emprega 6 mil operários no Catar. A americana Bechtel, que atua no aeroporto de Doha, usou em seu momento mais intenso cerca de 47 mil operários. Os contratos da belga Besix são realizados em 60% por operários indianos, contra 25% de Bangladesh e 6% do Nepal. A divisão de construção da francesa Bouygues opera com 5 mil pessoas nas obras no Catar.  Para o ITUC, os "maiores vencedores da Copa são as empresas de construção do Ocidente que ganharam contratos para erguer o projeto com parceiros do Catar."  "Nenhum CEO presidiria sobre um modelo de negócios que escraviza seus próprios filhos”, denunciou Sharan Burrow, secretário-geral da ITUC. “Fazer negócios no Catar significa aceitar o sistema kafala, em contradição com os direitos e liberdades dadas em nações democráticas das sedes das empresas atuando no Catar", insistiu.  Em um apelo, ele "clama às empresas que deem no Catar o mesmo tratamento que dão para seus operários em seus países de origem”. “O Catar é uma prisão a céu aberto", disse.  O governo catariano diz que novas regras vão entrar em vigor em dezembro, o sistema de vistos de saída vai ser abolido para partes dos operários e já estabeleceu um método de pagamento eletrônico para garantir que não haja serviço forçado. Mas, para os sindicatos, nada substitui à liberdade.  Para a ITUC, porém, essa pressão ainda tem feito pouco efeito. "Muito pouco tem mudado para os trabalhadores imigrantes, que continuam em um regime de escravidão moderna. O Catar continua a ser um estado escravagista", atacou. PRAZOS  Outra pressão contra o governo catariano veio, nesta semana, mais uma vez da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra. Numa reunião da entidade, diplomatas e sindicatos decidiram dar um prazo de um ano para que o Catar reforme suas leis trabalhistas. Caso não o faça, os governos estrangeiros irão instaurar uma comissão de inquérito para examinar e sancionar o país, algo que a entidade fez em apenas uma dúzia de ocasiões desde 1945.

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