Endividamento cresce e clubes podem ter mais problemas, diz estudo

Nos últimos 12 meses, crescimento da receita dos principais times brasileiros foi de apenas 9%, contra 16% dos custos e despesas

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Por Diego Salgado
Atualização:

Os problemas do futebol brasileiro não estão restritos apenas à má campanha na Copa do Mundo e aos erros de arbitragem das últimas rodadas do Campeonato Brasileiro. Estar com as contas em dia é um dos grandes desafios dos clubes do País. Nesse cenário, o equilíbrio financeiro é quase inevitável. De acordo com um estudo realizado pelo Itaú BBA, a maioria dos times da Série A pode enfrentar mais problemas nos próximos anos.

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De acordo com o estudo, houve um maior equilíbrio nas contas durante dois anos. Além de uma evolução das receitas, os clubes brasileiros conseguiram ter um controle maior dos custos. A tendência, entretanto, não se confirmou na temporada passada. Entre 2011 e 2012, por exemplo, o aumento das receitas chegou a 31%. Nos últimos 12 meses, porém, o crescimento foi de apenas 9%. Já os custos apresentaram acréscimo de 16%.

"A situação a médio prazo é preocupante. Os clubes de futebol carregam o legado da má gestão nos últimos anos. As receitas nunca são certas, mas os custos são crescentes", disse Cesar Grafietti, coordenador do estudo, ressaltando que o fato está ligado a ajustes dos direitos de televisão.

Botafogo e Santos estão entre os clubes com dificuldades Foto: Vitor Silva/SSPress

Além disso, as bilheterias das partidas apresentaram queda no cenário nacional. Em 2013, alguns estádios não podiam ser usados - seis foram palcos de jogos da Copa das Confederações. "As principais receitas dos clubes caíram então. E isso não foi compensado. Os clubes gastam mais do que arrecadam", diagnosticou Grafietti.

Segundo o coordenador do trabalho, a pressão por títulos faz os dirigentes gastarem muito mais do que deviam. A receita atual nem sempre se repete no ano seguinte. Os contrato, por sua vez, duram temporadas, onerando a folha de pagamento. "Não é por acaso que, ao longo do ano, e mais fortemente em 2014, surgiram informações na mídia de atrasos de salários em muitos clubes do Brasil. Um dia a conta chega", aponta o documento.

CRISEO Botafogo é apontado como o clube com maior dificuldade de gestão no momento, com salários atrasados por mais tempo. O time carioca fechou 2013 com R$ 60 milhões negativo (a receita chegou a R$ 100 milhões, crescendo 25%, enquanto os custos aumentaram 58%). "Os custos são de longo prazo, mas as receitas nem sempre são recorrentes - e as de vendas de direitos de atletas são menos recorrentes ainda - logo fica claro que a situação de 2014 já estava comprometida no dia 1º de janeiro", descreve o estudo.

O rival Flamengo, em contrapartida, conseguiu fechar no azul. Os custos e despesas cresceram 28%, em linha com as receitas, de forma que a geração de caixa foi 36% maior, atingindo R$ 75 milhões. O estudo faz uma ressalva: evitar contratações caras e continuar apostando na base. "O difícil, além de lidar com uma torcida que quer sempre títulos, é competir contra clubes que ainda se utilizam das velhas práticas de gestão esportiva."

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Já o trio paulista, formado por Palmeiras, São Paulo e Santos, têm dificuldade para alavancar as receitas: acertar com um patrocinador master, por exemplo. Segundo Grafietti, o futebol passa por um período de baixa. "O mercado não ajuda. O futebol já teve mais apelo de marketing."

No caso do Palmeiras, os resultados dentro de campo também atrapalham. Para Grafietti, o clube paulista tem poder de marca, mas a oscilação dificulta as negociações nesse momento. Além disso, a pressão por bons resultados cria uma política descontrolada de gastos. O Palmeiras, por exemplo, já teve três treinadores diferentes nesta temporada (Gilson Kleina, Ricardo Gareca e Dorival Junior).

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