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Opinião|Enfim, uma partida sóbria do Brasil

Estou para dizer que Philippe Coutinho é hoje muito mais importante do que Neymar na Copa

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Atualização:

O Brasil estava precisando de uma partida sóbria na Copa, sem firulas de seus personagens, jogando com inteligência e seriedade como foi na vitória de 2 a 0 sobre a Sérvia nesta quarta-feira – resultado que levou a equipe para as oitavas contra o México. Na base da conversa e dos treinos fechados, a seleção se arrumou para o jogo de Moscou. Colocou a bola debaixo do braço e correu pelos caminhos simples do campo, como deveria ter sido desde a estreia diante da Suíça, passando ainda pelo sufoco que foi contra a Costa Rica. O time amadureceu.

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Isso também tem a ver com a postura de alguns jogadores. Philippe Coutinho contagiou a todos, inclusive Neymar. Ambos têm a mesma idade, 26 anos, mas comportamento até então totalmente diferente. Um é mais centrado. O outro é mais fanfarrão – no bom sentido. Um começou a Copa fazendo gol e sendo decisivo para a seleção. O outro quis apenas se aparecer. Um sempre atuou em nome do grupo. O outro jogava por sua própria imagem. Um chorou. O outro não chorou.

Robson Morelli é editor de Esportes e colunista doEstadão Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Que ótimo então que Neymar tenha sido contagiado por Coutinho ainda nesta primeira parte da competição. Porque o principal jogador do Brasil, de quem se espera sempre mais, mudou da água para o vinho, e tenho certeza que isso nada tem a ver com o seu cartão amarelo – o segundo o deixaria fora da próxima partida até a fase de quartas de final, quando tudo é zerado. Neymar foi contra a Sérvia um jogador elegante. Não xingou o juiz, estendeu a mão para os adversários, pediu e aceitou desculpas de jogo. Um verdadeiro cavalheiro.

Digo isso muito à vontade porque o critiquei nas outras atuações na Rússia. Então, para ser honesto como ele e comigo mesmo, devo esse reconhecimento. O que o brasileiro viu em Moscou, pela primeira vez nesta Copa do Mundo, foi um Neymar despido de todos os seus penduricalhos e outras intenções. Vimos um Neymar sóbrio. Focado em apenas jogar futebol. Alguém deve ter falado para ele que nada significa mais do que ganhar a competição. Não tem gol, drible ou jogada mais memorável do que erguer a taça. Podemos até discutir lá na frente, sem o calor da disputa, aquela carretilha que ele deu no rival costa-riquenho. Haverá os que vão defendê-lo e os que continuarão a condená-lo. Bem diferente da avaliação que teve na vitória por 2 a 0 contra os sérvios. Neymar manteve a tranquilidade, ganhou e perdeu bola, participou mais do jogo, driblou quando esse era o melhor fundamento e fez tudo o mais que se esperava dele sem simular nada.

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Outros jogadores também apareceram mais para esse jogo, caso de Paulinho, defendido por Tite na véspera porque, pelas partidas anteriores, ele poderia deixar o time num consenso comum. O treinador decidiu mantê-lo e se comprovou que a decisão fora acertada. Paulinho fez um primeiro tempo mais participativo, com boas penetrações. O gol apenas resumiu seu trabalho nesta partida.

Pela terceira vez em três jogos, Philippe Coutinho fez a diferença. O jogador do Barcelona é nosso único armador, e não se ganha jogo sem bons armadores. Foi dele, por exemplo, a enfiada de bola quando a disputa estava empatada. Achou Paulinho correndo nas costas da marcação. O meia assumiu a seleção e tem feito dela uma vitrina de sua qualidade e liderança técnica. Estou para dizer que Philippe Coutinho é hoje muito mais importante do que Neymar na Copa.

*EDITOR DE ESPORTES DO ‘ESTADÃO’

Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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