20 de setembro de 2017 | 04h00
Nossos clubes não nadam em dinheiro nem têm elencos generosos em diversidade e qualidade como os grandes europeus. Os técnicos não se permitem o luxo de fazer rodízio na escalação, sem abrir mão de brigar por títulos em várias frentes. O contrário do que ocorre com Barcelona, Real Madrid, Juventus, Bayern e tantos outros, que giram atletas constantemente e continuam fortes, competitivos e ávidos por conquistas.
Por aqui, não se pode apostar em dois títulos expressivos ao mesmo tempo. Raros os exemplos de quem é campeão brasileiro e da Libertadores numa temporada. No máximo, dá para pensar num dos dois e, quem sabe, num Estadual ou numa Sul-Americana. Ainda assim com riscos de no fim das contas ficar de mãos abanando.
Eis a prova com que se defrontam nesta quarta-feira Grêmio e Santos. Ambos fazem boa campanha na Série A e mostram potencial para tirar a tranquilidade do Corinthians. Não é por acaso que ocupam, há várias rodadas, o segundo e o terceiro lugares. Não são inferiores ao líder, embora o percam de vista.
No entanto, deixaram a competição nacional em plano inferior para se concentrarem na corrida pela hegemonia continental. A obsessão de ambos é a América – para os gaúchos, vale o sonho do tri; para os paulistas, o tetra, que seria inédito no País. (Santistas e são-paulinos são os únicos brasileiros que venceram o torneio três vezes.)
A chance de sucesso nesta etapa, que vale vaga para a semifinal, é grande. Ao menos na teoria. O Santos bateu o Barcelona em Guayaquil, na semana passada, e precisa de empate para avançar. O Grêmio ficou no 0 a 0 c0m o Botafogo, no Rio, e tem de ganhar, para fugir dos pênaltis, em caso de igualdade semelhante, ou da eliminação, se houver empate com gols. Tem grupo mais bem composto do que o rival carioca.
Mas há riscos, como em tudo na vida. E o principal é o de cair na Libertadores e não recuperar terreno dispensado no Brasileiro. Mesmo que passem para o desafio seguinte, certamente um dos dois será eliminado, pois o emparceiramento prevê novo clássico doméstico. Quer dizer, só um chegará à finalíssima. Escolhas difíceis.
O Grêmio viu escapar o Campeonato Gaúcho, a Primeira Liga e a Copa do Brasil, da qual é o maior vencedor. Como reagirá, na eventualidade de falhar também no restante dos compromissos? O Santos ficou a ver navios no Paulista e na Copa do Brasil, sempre por dar mais importância à Libertadores.
Faturar a taça deste lado da América virou obsessão brazuca desde os anos 1990 – e deu certo em muitas ocasiões. Ela dá prestígio, algum dinheiro e possibilidade de jogar o Mundial de Clubes, outra fixação. Todo troféu vale a pena, vira motivo de festa para torcedores e de valorização para jogadores.
Mas, já que temos os europeus sempre como parâmetro, prefiro o título local ao continental, se for necessário optar. Para ganhar o mundo, antes de mais nada é preciso ser potente e vencedor na própria terra.
Jô elogiou o colega, afirmou que o futebol deveria ser mais honesto, “a partir de atitudes dos jogadores”, e garantiu ter aprendido lição de vida. Por isso, se esperava que, ao final do jogo de domingo, admitisse a falha – e não o fez. Perdeu uma chance de cavalheirismo, embora ontem tenha recuado ao dizer que viu o lance em casa e só então percebeu o erro.
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