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Estádios ingleses e alemães foram bases militares e sofreram com bombardeios na 2ª Guerra

Há 75 anos, guerra chegava ao fim, com a vitória dos Aliados sobre o Eixo e marcas gravadas nas praças esportivas da Europa

Foto do author Pedro Ramos
Por Pedro Ramos
Atualização:

Entre dezembro de 1940 e março de 1941, o estádio Old Trafford, em Manchester, sofreu dois bombardeios aéreos da Alemanha nazista, sendo que o segundo resultou em complicações graves à estrutura do local. Arquibancadas, vestiários, salas... Parte do estádio virou pó. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos estádios de futebol na Inglaterra e na Alemanha, países em lados opostos, foram bombardeados, enquanto outros serviram de bases militares.

Na Inglaterra, pelo menos 13 foram alvos de bombas alemãs durante a guerra: Anlaby Road (Hull), Boleyn Ground (West Ham), Bramall Lane (Sheffield United), Goodison Park (Everton), Highbury Stadium (Arsenal), Home Park (Plymouth Argyle), Meadow Lane (Notts County), Old Trafford (Manchester United), Roker Park (Sunderland), St Andrew’s (Birmingham City), The Dell (Southampton), The Old Den (Millwall) e Villa Park (Aston Villa). 

Estádios de futebol também sentiram os efeitos do conflito Foto: Army Air Forces – 1/1/1943

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A Alemanha nazista conduziu ataques aéreos em massa contra alvos considerados estratégicos para o Reino Unido, como centros industriais de Birmingham, Coventry, Manchester e Sheffield, além de cidades portuárias como Bristol, Hull, Portsmouth, Plymouth, Southampton, Cardiff e Swansea. 

Os estádios alemães também foram afetados durante a Segunda Guerra Mundial. Pelo menos cinco foram danificados ou destruídos: Stadion Rote Erde (antigo estádio do Borussia Dortmund), Grünwalder Stadion (antigo estádio do Bayern de Munique e 1860 Munique), Riederwaldstadion (antiga casa do Eintracht Frankfurt), Glückauf-Kampfbahn (antigo estádio do Schalke 04) e Bruchwegstadion (antigo estádio do Mainz 05).

Além disso, durante o período da Segunda Guerra, alguns estádios passaram a ser utilizados como bases militares. O Highbury Stadium, casa do Arsenal à época, em Londres, virou quartel-general das Precauções contra Ataques Aéreos (ARP) e um centro de treinamento de primeiros socorros. Também na capital inglesa, o Craven Cottage, do Fulham, foi usado como campo para treinamento de jovens do exército. 

Meadow Lane, em Nottingham, foi alvo de bombas durante o conflito Foto: Peter Cziborra/Reuters

Já o Bloomfield Road, em Blackpool, se tornou base da Força Aérea. Parte do Villa Park, em Birmingham, virou abrigo antiaéreo e depósito de munição. O estádio do Swindon Town foi utilizado pelo Departamento de Guerra para alocar prisioneiros de guerra em cabanas colocadas no campo. Durante a guerra, o governo britânico ressarciu os clubes ingleses pelos danos aos estádios causados por bombas e pela utilização deles como bases militares.

Já na Alemanha, o Weserstadion, estádio do Werder Bremen, foi usado pelo Partido Nazista a partir de 1935. Durante a guerra, armas antiaéreas estavam armazenadas no local. No mesmo período, uma empresa parceira do governo alemão operou uma unidade de produção de detonadores no subsolo do Estádio Olímpico de Berlim. 

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Estádios também foram utilizados com objetivos de perseguição, discriminação e local de morte, diz o escritor alemão Nils Havemann, autor do livro O Futebol Sob o Signo da Suástica, em entrevista ao Estadão.

O ginásio e o estádio do Eintracht Dortmund foram o 'ponto de coleta' da Polícia Secreta do Estado para 800 judeus em 1942, nenhum dos quais sobreviveu à deportação. Após o ataque aéreo em 6 de abril de 1945, o Probstheidaer Stadion de VfB Leipzig serviu como campo mortuário

Nils Havermann, Escritor

"O ginásio e o estádio do Eintracht Dortmund foram o 'ponto de coleta' da Polícia Secreta do Estado para 800 judeus em 1942, nenhum dos quais sobreviveu à deportação. Após o ataque aéreo em 6 de abril de 1945, o Probstheidaer Stadion de VfB Leipzig serviu como campo mortuário", disse..

Sem Copa do Mundo e mudança nas competições nacionais

Devido à Segunda Guerra Mundial, a Copa do Mundo também foi suspensa, e as edições de 1942 e 1946 não foram realizadas. A Alemanha nazista, que já havia sediado os Jogos Olímpicos de 1936, queria receber o Mundial de 1942, mas a guerra começou antes mesmo de a Fifa determinar um país-sede. A Copa do Mundo teve sua última edição em 1938 e só retornou em 1950, no Brasil.

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Na Inglaterra, todas as principais competições esportivas foram interrompidas já no primeiro mês em que a guerra foi declarada. O governo britânico introduziu medidas para restringir aglomerações em cinemas, teatros e estádios. Muitos jogadores, além de funcionários dos clubes, se alistaram para servir as forças armadas do Reino Unido. 

Como os bombardeios eram esperados ainda naquele mês e eles não aconteceram, o Ministério do Interior permitiu que amistosos fossem disputados. Em pouco tempo, a liga inglesa realizou uma reunião de emergência e apresentou um plano de realizar várias competições.

O Campeonato Inglês e a Copa da Inglaterra foram suspensos. A liga deu lugar a torneios regionais, enquanto a copa foi substituída por outra competição com formato similar. Com as equipes desfalcadas, os clubes convidaram outros jogadores para entrarem em campo. 

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Arsenal, Manchester United e Southampton precisaram realizar partidas na casa de seus grandes rivais, Tottenham, Manchester City e Portsmouth, respectivamente, devido aos bombardeios em seus estádios. 

Só na temporada 1946/1947, após o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, as quatro principais divisões do futebol inglês, assim como a Copa da Inglaterra, foram retomadas. 

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Na Alemanha, as mudanças ocorreram seis anos antes da guerra. A partir de 1933, o futebol alemão se transformou, com a ascensão dos nazistas ao poder. A organização dos campeonatos nacionais foi reestruturada pelo Partido Nazista até 1945, com o fim da Segunda Guerra. 

O futebol alemão só foi paralisado no fim de 1944. Até 1947, todas as competições foram suspensas e retornaram em 1948.

"Os crescentes problemas de viagem, a falta de jogadores e equipamentos, ataques a bomba e outros efeitos da guerra tornaram as operações de jogo quase impossíveis. Mesmo assim, ainda havia confrontos ocasionais entre times de futebol, mas esses não eram tão relevantes", destacou Havemann.

Bombas descobertas nos últimos anos

Nos últimos anos, artefatos explosivos da 2ª Guerra Mundial foram descobertos tanto na Inglaterra como na Alemanha, inclusive, em estádios de futebol. Em 2015, a polícia britânica fechou estradas e evacuou centenas de casas perto do estádio de Wembley, em Londres, quando uma bomba de 50 quilos foi descoberta por construtores que trabalhavam perto do local. 

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Em 2002, trabalhadores encontraram uma bomba enterrada abaixo do setor da arquibancada do Estádio Olímpico de Berlim. Já em 2009, 18 bombas não detonadas foram descobertas durante obras na Mercedes-Benz Arena, em Stuttgart. Em 2012, no Stadion An der Alten Försterei, em Berlim, um projétil de tanque militar foi retirado do local. Há cinco anos, uma bomba de 250 quilos foi descoberta em um local próximo ao Signal Iduna Park, casa do Borussia Dortmund.

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