Estrangeiros perdem espaço no esporte brasileiro; futebol é exceção

Clubes e confederações têm importado menos mão de obra e número de autorizações de trabalho dadas a profissionais de fora do País vem caindo

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Por Raphael Ramos
Atualização:

O número de profissionais estrangeiros no esporte brasileiro vem despencando nos últimos anos. Na comparação entre 2013 e 2017, a queda foi superior a 60%. Mesmo com o País sediando Copa do Mundo e Jogos Olímpicos no período, clubes e confederações têm importado cada vez menos mão de obra.

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O Estado teve acesso a dados da Coordenação Geral de Imigração do Ministério do Trabalho que mostram que, após registrar alta entre 2011 e 2013, o número de autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros na área esportiva vem caindo ano a ano. Em 2013, a pasta emitiu 348 concessões. Na temporada passada, a quantidade caiu para menos de um terço – 115.

Borja foi um dos estrangeiros que chegou em meio à crise; teve ano ruim em 2017, mas agora deslanchou Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras

De maneira geral, a presença de profissionais estrangeiros no Brasil está em queda. Segundo a Coordenação Geral de Imigração do Ministério do Trabalho, em 2011 foram dadas mais de 68 mil autorizações de trabalho e, em 2017, esse número caiu para 24 mil.  Especialistas apontam que a redução no número de estrangeiros trabalhando no Brasil está diretamente relacionada à crise econômica vivida pelo País nos últimos anos, que provocou perda de competitividade no cenário internacional e desvalorização do real. 

“Como não houve endurecimento da legislação para estrangeiros, esses números são reflexo direto da crise por duas razões, o efeito cambial e o fato de nosso mercado ter esfriado. Esportistas têm maior mobilidade internacional do que outros profissionais e podem atuar em vários países. Por isso, ao comparar o salário no Brasil com outros lugares, o real se desvalorizou. O dólar estava na casa dos R$ 2 e chegou a R$ 4 no período”, explica Alan Ghani, professor de Economia e Finanças da Saint Paul Escola de Negócios.

Para profissionais do esporte, o ministério possui três resoluções normativas específicas. Duas são referentes à concessão de autorização de trabalho a estrangeiro na condição de atleta ou desportista e outra garantia visto a pessoas de fora do País que trabalharam exclusivamente na preparação, organização, planejamento e execução da Copa das Confederações, em 2013, da Copa do Mundo, em 2014, e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em 2016.

Entre 2012 e 2016, foram dadas 580 autorizações de trabalho a estrangeiros que atuaram nesses quatro eventos. As demais categorias totalizam 760 autorizações.

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Guinada. O time de basquete de Franca, um dos mais tradicionais do Brasil, exemplifica bem a queda no número de profissionais de fora do País. Em um esporte no qual, historicamente, os estrangeiros, sobretudo americanos e argentinos, sempre tiveram forte presença no Brasil, a equipe do interior paulista tem atualmente um elenco 100% brasileiro, sem nenhum gringo, e tem conseguido bons resultados. Franca terminou a primeira fase do NBB na terceira colocação geral e está classificado para as quartas de final da competição.

Além de ter optado por dar mais espaço para jogadores formados nas categorias de base, o clube aponta fatores econômicos para abrir mão dos estrangeiros. “O custo para viabilizar a contratação de um jogador de fora do País é muito alto. Sem contar que acordos feitos em dólar encarecem ainda mais o negócio por causa da variação da nossa moeda. Muitas vezes, um bom jogador estrangeiro custa o dobro se comparado com um bom brasileiro”, diz Lula Ferreira, supervisor de Esportes de Franca.

Futebol é exceção e bate recorde

Na contramão dos demais esportes, os estrangeiros têm ampliado a presença no futebol brasileiro. No ano passado, por exemplo, a Série A do Campeonato Brasileiro bateu recorde de atletas de fora do País: 69 jogadores entraram em campo por 19 equipes, superando os 68 atletas do ano anterior. Apenas o Atlético Goianiense não utilizou nenhum estrangeiro.

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O país com o maior número de representantes foi a Argentina (23). Na sequência, vieram Colômbia (13), Equador (9), Paraguai (5), Chile, Peru e Uruguai (4), Venezuela (3). Tiveram um jogador cada Bolívia, Camarões, Turquia e Alemanha. A maior presença de estrangeiros no futebol brasileiro foi um pedido dos clubes à CBF. Em 2013, a entidade resolveu aumentar o limite de jogadores de fora do País por equipe, passando de três para cinco gringos em uma mesma partida.

Dois anos depois, a CBF chegou a estudar a possibilidade de restringir o número de estrangeiros no Brasil, mas o projeto não foi bem aceito pelos clubes. A proposta debatida durante encontro de ex-técnicos da seleção brasileira era seguir o modelo inglês, no qual para atuar em um clube do país o jogador de fora da comunidade europeia precisa ter um número mínimo de convocações para a seleção. No caso do futebol, jogadores sul-americanos acabam sendo contratados, muitas vezes, por aceitarem receber salários mais baixos do que os brasileiros.

Se há clubes onde a presença de estrangeiros aumentou, em outros houve diminuição. É o caso do Sport Recife, que tinha em 2017 três atletas de fora do País e, nesta temporada, conta apenas com o zagueiro colombiano Henríquez

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