É possível estabelecer a relação ‘custo-benefício’ em relação a uma partida de futebol? De acordo com a rede One Football, que produz conteúdo e distribui em aplicativos para celulares para torcedores de todas as partes do mundo, a resposta é ‘sim’. Em um estudo publicado semana passada em sua revista virtual e produzido em parceria com o site GoEuro.com, que analisa os melhores preços de passagens aéreas, trens, ônibus e ainda de hospedagens por toda a Europa, foi feito um levantamento das 25 maiores ligas de futebol do planeta.
Na análise, foram levados em conta o preço médio de um ingresso e o que pode ser chamado de “qualidade do espetáculo oferecido”. Esse “Índice de Preços de Futebol” leva em consideração além do custo da entrada para o jogo e do nível dos clubes detalhes como gastos com viagem, comida e bebida oferecida nos 25 países do ranking. De acordo com a pesquisa, o campeonato cujo ingresso é o mais caro do mundo é a Premier League – lá, assistir a um jogo de Chelsea, Manchester United, Arsenal, Liverpool, Tottenham e Manchester City, entre outros, sai por nada menos do que R$ 324,76 em média, de acordo com a cotação da libra na sexta-feira. Mas não é do Reino Unido o título de melhor custo-benefício do estudo. Essa honraria fica para o torneio dos atuais campeões mundiais, a Alemanha. Na Bundesliga, terra do Bayern de Munique, Borussia Dortmund e Wolfsburg, entre outros, o preço médio do ingresso é de R$ 139,06. Alia-se ao preço “justo” a qualidade dos times e as facilidades de deslocamento e alimentação pelo país. Brasil. O estudo, claro, contemplou o Brasileirão – obviamente, sob um olhar “europeu”. Este ano os principais clubes do País têm, em geral, apresentado grandes públicos e rendas altas, que deixam os cartolas felizes (leia mais ao lado). No levantamento, o Brasil aparece com ingresso médio ao custo de R$ 112,06 (somados Libertadores, Estaduais, Copa do Brasil e Brasileirão), na 10.ª posição entre os 25 campeonatos, atrás das ligas de Portugal (3.º lugar), Argentina (5.º), Bélgica (7.º) e Turquia (10.º). A posição do Brasil é justa? Para Marcos Alvito, historiador, antropólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), não. “O Brasil aparecer em 11.º está bom demais. Acredito ser muito complicado avaliar a relação de custo-benefício em nosso País. Se analisarmos o futebol como arte, é subjetivo”, diz Alvito. Ele usa a líder deste ranking, a Alemanha, como exemplo. “O poder de compra do torcedor brasileiro poderia ter sido levado em conta. Aqui, se levarmos em consideração a renda per capita, o ingresso sai cinco vezes mais caro para quem vai ao estádio do que na Alemanha.” Para ele, a análise pode ser usada para mostrar como o futebol no Brasil foi elitizado nos últimos tempos. “Podemos comparar os preços praticados aqui com os de países com economia similares à nossa e ver que aqui, agora, o esporte mais popular virou diversão para poucos, enquanto nesses outros locais o futebol continua um pouco mais acessível.” Alvito afirma que a Copa do Mundo de 2014 funcionou como um “cavalo de Tróia”, tirando do estádio torcedores para a entrada de “clientes”, principalmente por causa dos novos estádios espalhados pelo Brasil – são 14 novas arenas, as 12 usadas no Mundial e mais as de Palmeiras e Grêmio. “Estamos preparando uma geração acostumada a assistir jogos no pay-per-view, em bares, etc. Eles assistem a um espetáculo televisivo produzido a partir do futebol. A química do torcedor de estádio está morrendo por aqui.” Em mais um exemplo, ele cita a Premier League e diz que os dirigentes brasileiros copiaram modelos dos ingleses que sufocam os torcedores. “Acho temerário um estádio com 100% de sócios-torcedores. Podia ser uma relação mais justa, porque esse tipo de torcedor é o que pode pagar mais. Não é o cara da torcida organizada, que ganha pouco. Esse pessoal também precisa de espaço em nosso futebol. Esse é o ‘custo-benefício’ que não podemos deixar que desapareça do País.”
Relação custo-benefício(A metodologia usada no estudo levou em consideração o preço médio do ingresso, custos de viagem, hospedagem e alimentação nos países e ainda a qualidade dos times e jogadores das 25 ligas. Assim, chegou-se ao coeficiente utilizado na elaboração do ranking de ‘custo-benefício’.)
PAÍSCUSTO MÉDIO DO INGRESSO
1. Alemanha ---------- R$ 139,06
2. Espanha ------------ R$ 307,06
3. Portugal ------------ R$ 142,81
4. Inglaterra ----------- R$ 324,76
5. Argentina ---------- R$ 120,33
6. França ------------- R$ 168,36
7. Bélgica ------------ R$ 120,120,76
8. Itália ---------------- R$ 302,65
9. Turquia ----------- R$ 55,82
10. Brasil ----------- R$ 112,06
11. México ---------- R$ 46,09
12. República Checa --- R$ 69,77
13. Áustria ---------- R$ 103,06
14. África do Sul ---------- R$ 37,70
15. Holanda ---------- R$ 175,97
16. Tunísia ---------- R$ 57,81
17. Colômbia ---------- R$ 50,98
18. Polônia---------- R$ 96,47
19. Suíça ---------- R$ 207,50
20. Rússia ---------- R$ 147,40
21. Chile---------- R$ 72,43
22. Suécia ---------- R$ 106,08
23. Dinamarca ---------- R$ 121,60
24. Japão ---------- R$ 127,77
25. Estados Unidos ----- R$ 181,71