
16 de junho de 2018 | 04h00
Um pouco de história antiga. Na seleção que ganhou a Copa de 1958, a nossa primeira, todos os jogadores convocados atuavam no Brasil.
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Se não me falha a memória, o que eu duvido, só um, o centroavante Mazzola, estava em vias de deixar o Palmeiras, com o passe vendido para a Itália.
No time de 1962, a mesma coisa: só jogadores daqui, conhecidos da torcida.
Quando o João Saldanha, na sua primeira entrevista como técnico da seleção de 1970, anunciou o time titular que já estava pronto na sua cabeça, houve quem discordasse de uma ou outra posição, mas todos acompanhavam os campeonatos locais e conheciam as “feras” escaladas pelo Saldanha.
Entre parênteses: como todos se lembram, ou pelo menos todos os velhos, João Saldanha durou pouco como técnico da seleção, derrubado, diz a lenda, pelo presidente Emílio Garrastazu Médici, que queria o centroavante Dario no time. Foi o Saldanha que também anunciou que o Pelé estava com problemas de visão. Fecha parênteses.
Na seleção que está na Rússia e estreia amanhã contra a Suíça, a maioria joga fora do Brasil. Quem acompanha os campeonatos europeus vê os expatriados jogarem, mas não tem a mesma intimidade com eles que tinha com os jogadores de casa.
O Brasil hoje exporta matéria prima futebolística como minério de ferro. Em muitos casos, os expatriados fazem toda a sua carreira, de infantil a veterano, fora de casa. Não nos identificamos com nenhum deles.
Às vezes, ouvimos notícias de um jogador brasileiro que está brilhando no Afeganistão e só podemos dizer “Quem?”, pois não temos a menor ideia de onde saiu.
O que pode explicar o relativo pouco interesse no Brasil pela Copa do Mundo russa.
Ouve-se falar que camisetas e outros produtos ligados à seleção brasileira estão encalhando nas lojas, e nem a 10 do Neymar está saindo como esperado. Mas nada que uma campanha vitoriosa a partir de amanhã não possa resolver.
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Entreouvido na torcida portuguesa, depois do empate com a Espanha:
- O Cristiano Ronaldo não fez nada durante todo o jogo.
- Ó pá. O Cristiano Ronaldo fez os três gols de Portugal!
- Sim, mas fora isso...
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É sempre um prazer ver a Espanha jogar. Mas não posso evitar o pensamento que é o mesmo prazer que se tem vendo os Harlem Globetrotters jogar...
*LUIS FERNANDO VERISSIMO É ESCRITOR E COLUNISTA DO ‘CADERNO 2’
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