Felipão se reinventa aos 70 anos e faz história com o Palmeiras

Técnico mais velho a ganhar o Brasileiro, comandante do Palmeiras celebra retorno feliz à equipe

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Por Robson Morelli
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Apostar em Luiz Felipe Scolari agradou a todos no Palmeiras, do torcedor saudosista que ainda o via como campeão da Libertadores de 1999, aos dirigentes que não estavam mais satisfeitos com Roger Machado. Desse ponto de vista, Felipão caiu do céu. Mesmo na China, o treinador sempre era lembrado por times brasileiros, mas não queria voltar. Estava prestes a se acertar com a Coreia do Sul para novo ciclo de Copa do Mundo quando foi chamado para socorrer o Palmeiras, um time endinheirado, com bom elenco, mas que não conseguia se impor diante de adversários mais fracos. 

A proximidade e o carinho com o Palmeiras mudaram os planos de Felipão, que deu meia-volta e rumou novamente para o Brasil a fim de atender o chamado. Os mais próximos dizem que apenas duas bandeiras seriam capazes de repatriar Scolari, uma delas era o Palmeiras.

Felipão acompanha Palmeiras em jogo decisivo contra o Vasco Foto: Wilton Junior/Estadão

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Foi tudo no fio do bigode, como nos velhos e bons tempos. Voltar para o futebol brasileiro e relembrar o fracasso da seleção na Copa de quatro anos atrás nunca desanimaram o treinador. Mas a distância também lhe fazia bem. Como era pelo Palmeiras, Felipão matou no peito a responsabilidade e se fez campeão mais uma vez.

O treinador, que nesta temporada completou 70 anos e chegou a dizer que ainda "faz tudo como os meninos de 20 anos", mudou a concepção generalizada de que técnico veterano havia perdido a mão. Ele furou a onda dos novatos que assumiram times grandes mesmo ainda sem estarem prontos, casos de Ceni, Barbieri, Jair Ventura, Osmar Loss e alguns outros mais que ficaram pelo caminho. 

Na mesma onda, alguns clubes mudaram a mão e trataram de correr atrás de técnicos mais experientes. O Atlético-MG, por exemplo, buscou Levir Culpi. O Santos se rendeu a Cuca. Dorival assumiu o Flamengo.

Felipe Melo e Deyverson comemoram o gol do tíulo, em São Januário Foto: Fábio Motta/Estadão

Felipão teve carta branca no Palmeiras. Mesmo se não tivesse, faria tudo do seu jeito. Ele é assim. A primeira providência foi abraçar os jogadores. Deyverson passou a jogar mais e ser protegido no grupo. "Se o Deyverson tomar uma “maracugina” antes do jogo, vai bem. Duvido que tenha um zagueiro que gosta de jogar contra ele. É muito chato, incomoda a toda hora, não perde bola por cima. Tem de aprender uma ou outra coisa na parte técnica, mas é jogador que dá o que o grupo precisa nos momentos decisivos", disse Felipão logo que percebeu que seu atacante entrava facilmente em confusões no campo.

Com o elenco nas mãos, Felipão tratou de dar algumas espinafradas nos jornalistas e recuperar a velha e boa condição de rabugento. Tudo dentro do seu enredo. Fechar treinos, detonar a arbitragem, bater e assoprar. Felipão não mudou nada da última vez que esteve no clube."Sou o mesmo de sempre", repetiu algumas vezes. 

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Quando não está na Academia, leva vida normal nas proximidades do estádio, onde mora e é visto com frequência pelo bairro, até em feira livre ele vai com a mulher, dona Olga."Felipão é amado por todos. Eu devo muito a ele", disse Deyverson.

O Brasileirão de 2018 aumenta a coleção de títulos do treinador. Poderia ter da Copa do Brasil e da Libertadores. Não deu.

Nos quase três anos na China, festejou sete taças. Mas na China... Na China, outros técnicos importantes não ganharam nada. Felipão vem de uma escola pragmática, que prega a conquista acima de tudo. Nada para ele é mais importante do que ser campeão. Questionado sobre o recorde de partidas sem perder neste Brasileirão, Felipão bufou para dizer que "nada adianta se o Palmeiras não ganhar o torneio". Ganhou. "É importante para mim e para o Palmeiras", disse Felipão no Rio.

Há quem discorde disso. Um bom time pode ser lembrado se jogar bem e encantar. Mas a maioria fechou com ele. Tinha de ganhar o Nacional. Para o torcedor, ele foi o maestro deste Palmeiras que o fez voltar. 

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