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FBI descobre contas de Ricardo Teixeira em banco da Suíça

Investigadores não precisam se valores fazem parte do montante de US$ 50 milhões bloqueados pela Justiça da Suíça

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Por Jamil Chade e correspondente em Genebra
Atualização:

O FBI detectou três contas secretas em nome de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, na Suíça e pediu oficialmente para a Justiça de Berna que repasse aos EUA detalhes das movimentações financeiras, extratos bancários e até mesmo pessoas que poderiam ter sido beneficiadas com o valor. A ação faz parte de uma ofensiva que congelou mais de US$ 50 milhões (R$ 192,4 milhões) em contas secretas mantidas pela Fifa e seus cartolas. A Justiça, porém, não dá detalhes se a conta de Ricardo Teixeira estaria entre as que tiveram seus ativos congelados.

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A informação foi revelada por jornais e televisões públicas da Suíça no momento em que Joseph Blatter, presidente afastado da entidade, comparecia a uma audiência diante do Comitê de Ética da Fifa. Se condenado, ele pode ser banido do futebol. Segundo os suíços, as contas bloqueadas tem relação direta com as investigações conduzidas nos EUA e que já indiciou 41 pessoas, entre elas Ricardo Teixeira, Marco Polo del Nero e José Maria Marin. Todos os três ocuparam a presidência da CBF.

Segundo documentos obtidos pelo Estado, o FBI identificou contas controladas por Teixeira em pelo menos três bancos: o UBS, Banca del Gottardo e BSI, comprado neste ano pelo banco brasileiro BTG Pactual. Em apenas duas dessas contas, um total de US$ 800 mil foram transferidos de contas nos EUA para a Suíça, envolvendo a Somerton, empresa controlada pelo também brasileiro José Margulies. Ele é suspeito de agir como testa de ferro para o empresário J. Hawilla e realizar os pagamentos de propinas para dirigentes do futebol mundial. A empresa de fachada de Hawilla, portanto, também teria abastecido as contas suíças de Teixeira.

A suspeita do FBI é de que Teixeira usaria um nome de fachada para não ter sua identidade revelada. Mas aparecia como beneficiário das contas. O "laranja" seria Willy Kraus, dono daKraus Corretora de Câmbio, no centro do Rio de Janeiro. Numa das transações suspeitas, o FBI registrou como a empresa Blue Marina, com contas nos EUA, pediu para transferir seus ativos para a Suíça. No dia 25 de setembro de 2008, a conta em território americano foi fechado e o dinheiro enviado a uma conta de Kraus, na Banca del Gottardo. O valor transferido era de US$ 478,2 mil.

Outro nome registrado pelos americanos era a da socidade Summerton, usada também pelo dirigente. Para o FBI, Teixeira mantinha o "efetivo controle" sobre essas contas.

Os nomes dos correntistas não foram divulgados oficialmente. Mas a Justiça indica que mais de 110 movimentações financeiras estão sob suspeita e que de fato congelou dezenas de contas. "As autoridades americanas pediram documentos relacionados com 50 contas de diferentes bancos, por onde o dinheiro teria circulado", indicou o porta-voz do Departamento de Justiça suíça, Folco Galli.

Segundo os jornais suíços Tages Anzeiger e o SRF, um canal público de Zurique, o brasileiro é um dos que tiveram sua conta bloqueada. A suspeita se refere ao dinheiro que ele recebeu no escândalo da ISL, empresa de marketing e que vendia os direitos de TV das Copas do Mundo. Essa informação não foi confirmada oficialmente. Teixeira teria recebido propinas para influenciar na escolha da emissora que transmitiria a Copa de 2002 no Brasil. O nome da emissora não foi revelado em um documento da Justiça que, em 2011, confirmou que Teixeira fraudou a Fifa, ao lado de João Havelange.

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No documento que solicita a cooperação dos suíços, o FBI inclui o nome de Teixeira, indicando para a existência de contas em seu nome. No indiciamento da Justiça americana, em 3 de dezembro, o nome de Teixeira também aparece ao ser citada uma propina da Nike e que seria compartilhada entre o brasileiro e o empresário J. Hawilla. Cerca de US$ 40 milhões teriam sido transferidos para uma conta na Suíça e divididos entre os dois.

No país, diversos bancos passaram a ser obrigados a colaborar com o caso, entre eles o UBS, Credit Suisse Julius Baer. O congelamento das contas ocorreu à pedido dos americanos. Na semana que vem, a Fifa vai anunciar a punição sobre os casos de Blatter e de seu pagamento para Michel Platini, envolvendo US$ 2 milhões. Mas nesta quinta, o dirigente suíço que garante que é inocente ganhou elogios.

HOMEM DO ANO 

Na Rússia, o presidente Vladimir Putin declarou em sua coletiva de imprensa de fim de ano que Blatter "é um dos homens que merecem o prêmio Nobel da Paz". Para ele, sua reputação não deve ser questionada e insiste que Blatter usou o futebol para fins "humanitários". Uma das principais revistas da Suíça, a Die Weltwoche, também elegeu Blatter como "o suíço do ano" em sua edição que foi às bancas nesta quinta. Ao justificar sua nomeação, a revista aponta que ele é "incompreendido, seus ideais são sub-estimados e seu sucesso é impressionante".

Ao receber o prêmio, Blatter aproveitou para criticar o governo suíço, acusando as autoridades de terem "abandonado" ele e a Fifa.

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