A crise econômica vivida pela Rússia que fez o rublo (moeda do país) se desvalorizar quase 40% em relação ao dólar durante 2014 colocou a Fifa em estado de alerta. A preocupação é que, com a moeda do país valendo quase metade do que valia há um ano, a Rússia enfrente problemas com as obras dos 12 estádios da Copa do Mundo de 2018.
“A Fifa está tão preocupado como qualquer outra entidade que tem negócios na Rússia e grandes projetos de infraestrutura em curso no país. A Fifa continua monitorando a situação e está em contato regular com o Comitê Organizador Local”, diz trecho de nota enviado ao Estado pela entidade.
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Em 2012, o orçamento previsto para a Copa do Mundo de 2018 anunciado foi de 664 bilhões de rublos, quantia que correspondia a US$ 20,5 bilhões à época. Se convertido para a taxa de câmbio atual, esse número cai para US$ 10 bilhões.
Um exemplo do impacto da desvalorização do rublo na organização do Mundial é o estádio Luzhniki, em Moscou, que ficará 16% mais caro do que o calculado inicialmente. Entre 20% e 30% do material usado na reforma do estádio, palco da decisão da Copa, é importado, o que acabou encarecendo a obra. Inaugurado em 1956 e sede dos Jogos Olímpicos de 1980, o Luzhniki está fechado desde agosto de 2013 e deve reabrir apenas em 2017.
Apesar de o choque da crise na Copa do Mundo ainda não ter sido calculado, a queda do rublo já afeta fortemente o esporte do país. O Ministério das Finanças russo, por exemplo, anunciou que o Ministério do Esporte terá redução nas despesas de pelo menos 10% em 2015 “devido à otimização do orçamento do Estado”. Corte semelhante deve sofrer o Comitê Organizador Local do Mundial, que já trabalha com o cenário de terminar o ano com déficit.
A Federação Russa de Futebol também enfrenta dificuldades financeiras e o técnico da seleção, o italiano Fabio Capello, está com seis meses de salários atrasados. A dívida com o treinador chega a US$ 11 milhões. Árbitros e auxiliares não recebem há três meses e chegaram a fazer uma reclamação pública contra a federação.
A curto prazo, o cenário não é animador. Em seu tradicional discurso de final de ano, em dezembro, o presidente Vladimir Putin disse esperar que a crise dure até dois anos. Ele, no entanto, garantiu que “o governo não poupará dinheiro” para organizar a próxima Copa do Mundo. A justificativa do presidente é que “necessário criar a cultura do esporte” no país.
A previsão de alguns analistas é que Putin desloque verbas de outros áreas para conseguir viabilizar a Copa do Mundo por causa do significado político que o torneio tem para o seu governo no cenário nacional.
Para organizar os Jogos de Inverno de Sochi no ano passado, Putin gastou US$ 50 bilhões, o maior orçamento de um competição esportiva de história. A fim de evitar um vexame internacional, os organizadores chegaram a usar máquinas para fazer neve para as competições de esqui e snowboard.
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, sempre defendeu que a Copa do Mundo fosse disputada em 10 estádios, mas acabou convencido por Putin a realizar a competição em 12 sedes (Moscou terá duas arenas). Também receberão partidas do Mundial São Petersburgo, Samara, Saransk, Rostov-on-Don, Sochi, Kazan, Kaliningrado, Volgogrado, Nizhny Novgorod e Yekaterinburgo.
Há, ainda, a possibilidade, de inclusão de mais uma estádio. Os russos querem que a cerimônia de abertura seja um dia antes da partida inaugural do torneio no estádio do Dynamo de Moscou, que não vai ter nenhum jogo da Copa.
Para convencer a Fifa, a Rússia alega que três estádios já estão prontos. O do Spartak Moscou foi inaugurado em agosto e nas arenas de Sochi e Kazan restam apenas adaptações para receber partidas de futebol.