Fifa e polícia do Rio entram em confronto após escândalo dos cambistas

Entidade critica a postura das autoridades brasileiras ao revelar detalhes do caso na mídia

PUBLICIDADE

Por Tiago Rogero e Jamil Chade
Atualização:

A Fifa e a polícia do Rio entram em confronto aberto por conta do escândalo dos cambistas. Hoje, a entidade máxima do futebol criticou o comportamento dos policiais por revelar detalhes das operações contra cambistas à imprensa e diz que o nome da pessoa que as autoridades estão buscando não trabalha para a entidade e é, na verdade, um cambista que já está preso e que atuava dentro do Copacabana Palace. Mas, ao Estado, a polícia negou a versão da Fifa e diz que a pessoa que estão buscando sequer é conhecida ainda da entidade. 

PUBLICIDADE

Hoje, a Fifa ainda descartou punir Julio Grondona, vice-presidente da Fifa, depois da revelação de que um de seus ingressos foi pego com cambistas.

Na terça-feira, a polícia revelou que prendeu onze cambistas em uma mega-operação e que mostrava a ligação dessas pessoas com funcionários da Fifa. Se não bastasse, um ingresso em nome de Grondona acabou aparecendo nas mãos de cambistas. 

Líder de esquema de vendas de ingressos, o franco-argelino Lamine Fofana posa ao lado do presidente da Fifa, Joseph Blatter Foto: Reprodução

A irritação da Fifa com a polícia é escancarada. Segundo Thierry Weil, diretor de Marketing da Fifa, a polícia entregou para ele apenas uma parte das informações do processo da operação, enquanto vaza pela imprensa detalhes do caso que sequer os cartolas conhecem. 

A polícia busca uma pessoa que estaria trabalhando dentro da entidade e que era o contato da quadrilha. Mas as autoridades tem resistido em dar o nome do suspeito, justamente para poder desvendar o esquema. 

Pressionado pela imprensa a dar explicações, Weil não poupou as autoridades e decidiu que revelaria ele mesmo nome da pessoa que a polícia está buscando. "Ele se chama Roger", disse o diretor da Fifa. Mas ele rejeitou a tese de que a pessoa seja funcionário da entidade. Para a Fifa, essa pessoa já foi presa pela própria polícia e era um cambista que também atuava dentro do Copacabana Palace, onde a Fifa mantém seus escritórios.

"Acho que a polícia não se fala entre si", ironizou Weil. "Eles estão buscando alguém que já está preso", disse."Há uma discrepância entre o que diz para a imprensa e para nós", declarou. "Se a polícia fala sobre uma investigação que está sendo feita, não sei se é a forma mais correta. Na Europa isso não ocorre", atacou Weil, que garante que, até agora, ninguém de dentro da Fifa foi procurada pela polícia. 

Publicidade

O Estado apurou que o nome dado por Weil para a imprensa sequer é a identidade real da pessoa que a polícia está procurando. As autoridades estão mantendo o nome em sigilo justamente para evitar que o suspeito deixe o Brasil ou tenha qualquer tipo de colaboração com a Fifa para escapar. 

Fifa fará verificação de ingressos apreendidos com cambistas Foto: Yasuyochi Chiba/AFP

Grondona - A Fifa ainda reagiu negando qualquer envolvimento de Grondona com grupos de cambistas. Um ingresso para a partida Argentina x Suíça foi identificado no mercado ilegal, o que seria um crime. 

Mas a Fifa fez questão de abafar o caso. Primeiro, Weil declarou aos jornalistas que a família Grondona seria questionada pela notícia. Logo depois, admitiu que eles já haviam conversado com o vice-presidente. Mas não sabia dizer o que foi a resposta. "Questionamos ele", admitiu. "Perguntamos a ele o que ocorreu", declarou. 

A entidade, ao contrários das evidências, preferiu apenas acreditar nas palavras da família de que o ingresso havia sido "dado" a amigos. "Se ele disse que deu a alguém, você precisa acreditar nisso", disse. Mas a uma rede de televisão na Argentina, o filho de Grondona admitiu que havia revendido a entrada. 

PUBLICIDADE

Segundo Weil, o ingresso de Grondona não faz parte da operação do Rio. O Estado, em sua edição de ontem, havia feito essa revelação. 

A Fifa, porém, insiste que vai abrir ações legais contra as empresas que compraram pacotes de camarotes da Match, a única empresa com direitos de vender os ingressos VIP. Na operação, companhias que foram identificadas como parte do esquema compravam o pacotes e depois revendiam com preços bem superiores. 

"Vamos tomar ações legais contra essas empresas", declarou Weil. Segundo ele, entre as empresas está a Reliance, com 58 pacotes, a Jetset, da Rüssia, e a Atlanta de Dubai, companhia do cambista Lamine Fofana. 

Publicidade

Segundo ele, os ingressos apresentados pela polícia para a Fifa somam 141, dos quais dez são para jogos de 2010 e 2013. 60 deles ainda foram comprados pelo sistema de internet. "Não havia nenhum de ingressos de cartolas", garantiu. 

Dos 131 ingressos para a atual Copa, 129 são para jogos que já ocorreram. 71 ingressos eram de camarotes, um deles era da CBF.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.