Fifa mantém suspensão de Del Nero por mais 45 dias

Entidade conclui fase de investigação contra o presidente da CBF e julgamento formal será iniciado

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Por Jamil Chade , correspondente e Genebra
Atualização:

A Fifa ampliou a suspensão de Marco Polo Del Nero do futebol por mais 45 dias, enquanto abre mais um procedimento contra o cartola brasileiro, num sinal claro de que caminha para uma punição mais rigorosa. 

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O ex-presidente da CBF já havia sido suspenso em dezembro por três meses, enquanto a Fifa prosseguia com as investigações sobre o brasileiro. Num comunicado nesta quarta, o Comitê de Ética indicou que, durante o novo período de suspensão, Del Nero continua sendo impedido de manter "qualquer tipo de atividades relacionadas com o futebol, tanto doméstico como internacional."+ Del Nero aumenta pressão para fazer de Caboclo seu sucessor na CBF+ 'O cartel político se mantém inalterado', denuncia ex-cartola da Fifa

Os 45 dias começam a vigorar a partir de quinta-feira, dia 15 de março. Na prática, a Fifa terá até o fim de abril para tomar uma decisão. A ampliação do prazo foi decidida "a pedido da chefia das investigações do Comitê de Ética". No fundo, a entidade quer mais tempo para julgar as informações já recebidas.

Del Nero, ex-presidente da CBF, foi banido para sempre do futebol nesta sexta (27) Foto: Wilton Junior/Estadão

O Estado apurou que a investigação concluiu seu informe e o repassou para que Marco Polo del Nero seja julgado. Agora, os órgãos da Fifa vão finalmente julgar o mérito da causa. Del Nero ainda pode levar o caso à Corte Arbitral dos Esportes se for finalmente condenado, assim como fizeram Joseph Blatter, Michel Platini e Jerome Valcke. Todos, porém, foram derrotados. 

Já sabendo que teria sua suspensão ampliada, Del Nero manobrou as eleições na CBF para que seus aliados se mantivessem no poder. A mesma estratégia havia sido adotada por Ricardo Teixeira, quando ele deixou a CBF em 2012 e escolheu a dedo seus sucessores, José Maria Marin, que cumpre prisão nos EUA. + Tite se esquiva de pergunta e evita polêmica envolvendo dirigentes da CBF

SETE CRIMES Del Nero foi indiciado nos EUA ainda em 2015 por corrupção e crime organizado, sete crime pesam contra ele. Mas ele se manteve no comando da CBF, evitando viajar ao exterior para não ser preso e extraditado aos EUA. Durante o julgamento de José Maria Marin em dezembro de 2017, Del Nero foi acusado de ter recebido US$ 6,5 milhões (R$ 21 milhões) em propinas, em troca de contratos comerciais com a CBF.

A Fifa, durante dois anos, não tocou em Del Nero, alegando que não tinha provas suficientes para o punir. Mas o brasileiro acabou suspenso temporariamente em dezembro, quando os documentos do FBI foram tornados público. Desde então, a entidade passou a investigar o cartola e agora chegou à constatação, às vésperas do fim do prazo, de que precisa continuar a apuração. 

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Isso significa que ele não pode nem entrar na CBF para eventos sociais, não pode presidir clubes de futebol nem fazer parte de organização de torneios por mais 45 dias. Del Nero chegou a ser interrogado pela Fifa, por meio de uma vídeo conferência. Cada um dos detalhes apresentados na corte americana contra Del Nero foi questionado, entre eles os acordos com José Maria Marin para repartir o dinheiro.Numa das evidências, os investigadores apontaram como revelou que Del Nero herdou a propina que, até 2012, era paga a Ricardo Teixeira. Mas o montante de US$ 600 mil (R$ 1,9 milhão) foi aumentado para um total de US$ 1,2 milhão (R$ 3,9 milhões).

Entre outros argumentos, Del Nero alegou que não esteve na reunião no Paraguai citada por testemunhas em que subornos foram supostamente negociados em relação a contratos de TV para torneios sul-americanos. Em Nova York, durante o julgamento dos cartolas do futebol em dezembro, o empresário argentino Alejandro Burzaco revelou na condição de testemunha que foi em outubro de 2014 ao Paraguai.La, negociou propinas com Del Nero e com o ex-presidente da Conmebol, Juan Napout. 

Mas, na esperança de reverter a decisão, Del Nero tentou provar com documentos de imigração que não viajou ao Paraguai para o suposto encontro citado por Burzaco, chefe de uma das empresas que pagava a propina em troca de contratos de TV.

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