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Futebol, seus bastidores e outras histórias

Opinião|Valorização do futebol feminino precisa passar também pela premiação das jogadoras

Clubes, como Corinthians e Palmeiras, abraçaram a modalidade e tentam fazer dela um esporte forte com suas bandeiras, a TV mostra mais jogos, os salários mantêm atletas no País e os times ganham estrutura; mas falta equiparação com os homens

Foto do author Robson Morelli
Atualização:

O futebol feminino vem dando passos largos e definitivos (tomara) em sua confirmação no calendário brasileiro. Nunca antes a modalidade teve tanto interesse. Não há um único fator capaz de explicar essa arrancada, mas alguns deles estão sendo bastante explorados. Os clubes abriram suas portas para o esporte. Vestiram e bancaram times fortes, repatriaram atletas, ofereceram melhores condições de trabalho e passaram a valorizar as meninas dentro de campo. É inegável que a presença de Pia Sundhage à frente da seleção brasileira também deu um outro patamar para a categoria. Pia é experiente, medalhista de ouro em Jogos Olímpicos com os EUA e figura presente nos estádios. As jogadoras se sentem mais abraçadas, importantes e conseguem se planejar numa temporada. Há competições no calendário. O Corinthians ganhou o Campeonato Brasileiro diante do seu maior rival de São Paulo. Isso também tem peso. Repercurte. O treinador corintianos Arthur Elias disse após a conquista que o clube está bem estruturado, mas não deixa de avançar no esportes. "São muitas pessoas que são importantes nesses anos todos. Temos tudo o que precisamos, mas sabemos que há um potencial enorme para desenvolver ainda, de mercado e de outras coisas. Essa visibilidade vai tornar o futebol feminino cada vez mais forte”, defende.

Corinthians superou o Palmeiras e se tornou tricampeão do Campeonato Brasileiro Feminino. Foto: Marco Galvão/Ag.Corinthians

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O jogo foi mostrado pela TV fechada às 21h de domingo. Ainda não está na grade em horário nobre do fim de semana, mas vai cavando seu espaço. Um marco dessa transmissão e do interesse dos apaixonados por futebol foi a Copa do Mundo da França, vencida pelo time dos Estados Unidos, liderado pela capitã Megan Anna Rapinoe, que, além de jogar bem, se tornou nos últimos anos uma voz no país e no mundo pelos direitos iguais entre homens e mulheres no esporte e na sociedade. Ainda falta muito para isso. A premiação do time do Corinthians, por exemplo, foi de R$ 290 mil. O campeão brasileiro neste ano no masculino vai ganhar R$ 33 milhões. A diferença se explica, em parte, por menos patrocinadores e direitos de TV.

Veja as premiações

Futebol masculino 2021

Campeão: R$ 33 milhões

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Vice-campeão: R$ 31,3 milhões

3º colocado: R$ 29,7 milhões

4º colocado: R$ 28 milhões

5º colocado: R$ 26,4 milhões

6º colocado: R$ 24,7 milhões

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7º colocado: R$ 23,1 milhões

8º colocado: R$ 21,4 milhões

9º colocado: R$ 19,8 milhões

10º colocado: R$ 18,1 milhões

11º colocado: R$ 15,5 milhões

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12º colocado: R$ 14,6 milhões

13º colocado: R$ 13,7 milhões

14º colocado: R$ 12,8 milhões

15º colocado: R$ 11,9 milhões

16º colocado: R$ 11 milhões

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Futebol feminino 2021

Campeão - R$ 200 milVice-campeão - R$ 100 mil​Terceira fase - R$ 35 milSegundo fase - R$ 30 milPrimeira fase - R$ 25 mil

A TV Globo acompanhou aquela competição de 2019 e mostrou as partidas em sua programação. A emissora transmitiu todos os jogos do Brasil, de Marta. Houve muito interesse e cobertura da mídia. A Fifa informou na época que 720 mil ingressos haviam sido vendidos para as partidas do Mundial. Nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, as seis partidas do time feminino de futebol geraram interesse de 111 milhões de pessoas, segundo dados da própria emissora. Boas partidas e gols bonitos também despertam nos torcedores a vontade de ver e acompanhar as partidas. Claro que há o envolvimento das torcidas dos clubes. Muitas vezes, os torcedores que acompanham o time de Sylvinho também vão dar uma forcinha para a equipe feminina de Arthur. Jogos preliminares do time masculino também ajudam a se mostrar, principalmente agora quando os torcedores voltarem para os estádios - o governo de São Paulo liberou a torcida parcial a partir do dia 4 de outubro, com 30% de sua capacidade; em novembro, as arenas serão totalmente abertas.

A atacante Marta e a técnica sueca Pia Sundhage são pilares da seleção brasileira feminina. Foto: Daniela Porcelli/CBF

As atletas, com salários razoáveis (ninguém revela o valor), não precisam mais sair do Brasil para jogar futebol, como foi por anos com as melhores jogadores, a começar por Marta, seis vezes a melhor do mundo. Recentemente, mesmo no hospital, Pelé postou uma foto sua assistindo um jogo de Marta e do futebol feminino da seleção brasileira contra a Argentina. Isso também ajuda a divulgar. Todos esses são fatores que empurram o futebol feminino para cima. A federações estaduais precisam entrar mais no jogo e facilitar a formatação de torneios regionais. A Federação Paulista de Futebol fará em breve uma peneira com garotas que queiram praticar a modalidade para tentar formar equipes e espalhar o esporte.

Uma das cobranças em relação às entidades que organizam o futebol diz respeito aos poucos lugares para se praticar. Meninas saindo da infância não têm muitas opções de chutar uma bola. Há as escolinhas particulares mistas e agora os clubes estão abrindo mais suas portas para a modalidade, tomara num caminho sem volta como se vê em outros países.  

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Opinião por Robson Morelli

Editor geral de Esportes e comentarista da Rádio Eldorado

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