O futebol feminino vem dando passos largos e definitivos (tomara) em sua confirmação no calendário brasileiro. Nunca antes a modalidade teve tanto interesse. Não há um único fator capaz de explicar essa arrancada, mas alguns deles estão sendo bastante explorados. Os clubes abriram suas portas para o esporte. Vestiram e bancaram times fortes, repatriaram atletas, ofereceram melhores condições de trabalho e passaram a valorizar as meninas dentro de campo. É inegável que a presença de Pia Sundhage à frente da seleção brasileira também deu um outro patamar para a categoria. Pia é experiente, medalhista de ouro em Jogos Olímpicos com os EUA e figura presente nos estádios. As jogadoras se sentem mais abraçadas, importantes e conseguem se planejar numa temporada. Há competições no calendário. O Corinthians ganhou o Campeonato Brasileiro diante do seu maior rival de São Paulo. Isso também tem peso. Repercurte. O treinador corintianos Arthur Elias disse após a conquista que o clube está bem estruturado, mas não deixa de avançar no esportes. "São muitas pessoas que são importantes nesses anos todos. Temos tudo o que precisamos, mas sabemos que há um potencial enorme para desenvolver ainda, de mercado e de outras coisas. Essa visibilidade vai tornar o futebol feminino cada vez mais forte”, defende.
O jogo foi mostrado pela TV fechada às 21h de domingo. Ainda não está na grade em horário nobre do fim de semana, mas vai cavando seu espaço. Um marco dessa transmissão e do interesse dos apaixonados por futebol foi a Copa do Mundo da França, vencida pelo time dos Estados Unidos, liderado pela capitã Megan Anna Rapinoe, que, além de jogar bem, se tornou nos últimos anos uma voz no país e no mundo pelos direitos iguais entre homens e mulheres no esporte e na sociedade. Ainda falta muito para isso. A premiação do time do Corinthians, por exemplo, foi de R$ 290 mil. O campeão brasileiro neste ano no masculino vai ganhar R$ 33 milhões. A diferença se explica, em parte, por menos patrocinadores e direitos de TV.
Veja as premiações
Futebol masculino 2021
Campeão: R$ 33 milhões
Vice-campeão: R$ 31,3 milhões
3º colocado: R$ 29,7 milhões
4º colocado: R$ 28 milhões
5º colocado: R$ 26,4 milhões
6º colocado: R$ 24,7 milhões
7º colocado: R$ 23,1 milhões
8º colocado: R$ 21,4 milhões
9º colocado: R$ 19,8 milhões
10º colocado: R$ 18,1 milhões
11º colocado: R$ 15,5 milhões
12º colocado: R$ 14,6 milhões
13º colocado: R$ 13,7 milhões
14º colocado: R$ 12,8 milhões
15º colocado: R$ 11,9 milhões
16º colocado: R$ 11 milhões
Futebol feminino 2021
Campeão - R$ 200 milVice-campeão - R$ 100 milTerceira fase - R$ 35 milSegundo fase - R$ 30 milPrimeira fase - R$ 25 mil
A TV Globo acompanhou aquela competição de 2019 e mostrou as partidas em sua programação. A emissora transmitiu todos os jogos do Brasil, de Marta. Houve muito interesse e cobertura da mídia. A Fifa informou na época que 720 mil ingressos haviam sido vendidos para as partidas do Mundial. Nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, as seis partidas do time feminino de futebol geraram interesse de 111 milhões de pessoas, segundo dados da própria emissora. Boas partidas e gols bonitos também despertam nos torcedores a vontade de ver e acompanhar as partidas. Claro que há o envolvimento das torcidas dos clubes. Muitas vezes, os torcedores que acompanham o time de Sylvinho também vão dar uma forcinha para a equipe feminina de Arthur. Jogos preliminares do time masculino também ajudam a se mostrar, principalmente agora quando os torcedores voltarem para os estádios - o governo de São Paulo liberou a torcida parcial a partir do dia 4 de outubro, com 30% de sua capacidade; em novembro, as arenas serão totalmente abertas.
As atletas, com salários razoáveis (ninguém revela o valor), não precisam mais sair do Brasil para jogar futebol, como foi por anos com as melhores jogadores, a começar por Marta, seis vezes a melhor do mundo. Recentemente, mesmo no hospital, Pelé postou uma foto sua assistindo um jogo de Marta e do futebol feminino da seleção brasileira contra a Argentina. Isso também ajuda a divulgar. Todos esses são fatores que empurram o futebol feminino para cima. A federações estaduais precisam entrar mais no jogo e facilitar a formatação de torneios regionais. A Federação Paulista de Futebol fará em breve uma peneira com garotas que queiram praticar a modalidade para tentar formar equipes e espalhar o esporte.
Uma das cobranças em relação às entidades que organizam o futebol diz respeito aos poucos lugares para se praticar. Meninas saindo da infância não têm muitas opções de chutar uma bola. Há as escolinhas particulares mistas e agora os clubes estão abrindo mais suas portas para a modalidade, tomara num caminho sem volta como se vê em outros países.