Gabriel Jesus, o filho mais ilustre do Jardim Peri

Mesmo na Inglaterra, a presença do atacante do Manchester City e da seleção ainda é muito forte no bairro onde o ex-palmeirense cresceu

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Por Rodolfo Mondoni
4 min de leitura

Mesmo na Inglaterra, a presença de Gabriel Jesus no Jardim Peri, zona norte de São Paulo, local onde o garoto cresceu, ainda é muito forte. Basta dar uma volta pelo bairro para sentir essa presença de seu mais ilustre filho. Foi lá que o ex-palmeirense, hoje com 20 anos, cresceu e tem seus melhores amigos, além de alguns parentes, como o primo Luís Henrique, que exibe ao ‘Estado’ sua camisa do City, número 33. Muito antes de se tornar o 9 da seleção e titular do City, de Guardiola, o moleque franzino e de lábios grossos já fazia seus gols nos campinhos de asfalto improvisados na Avenida Maria Antônia Martins.

Histórias do menino bom de bola circulam pelo bairro como verdadeiras lendas, algumas bem difíceis de acreditar até. “A gente estava brincando na rua e ele deu oito “chapéus” em um amigo nosso. O moleque ficou tão bravo que foi embora”, conta Weslley Nascimento, de 18 anos, apontando para o lugar exato onde o lance ocorreu.

Gabriel Jesus é uma das referências do Jardim Peri, na Zona Norte de São Paulo Foto: Sérgio Castro/Estadão

Gabriel Jesus não é apenas uma lembrança para os moradores do Peri. Ele continua visitando o bairro, pobre e de gente alegre, mesmo depois de ter sido vendido para o City por R$ 121 milhões, após conquistar o ouro olímpico no Jogos do Rio, ser campeão brasileiro pelo Palmeiras e escolhido o melhor do torneio, com 19 anos. O menino cumpre a profecia de jamais negar sua origem depois de virar jogador de futebol profissional.

Ele chegou no time inglês em janeiro, mas se lesionou na quinta partida. Depois de 68 dias fora, voltou para ajudar o clube a se classificar para a Liga dos Campeões. Terminou a temporada com sete gols em 11 jogos.

Não à toa, em suas primeiras férias depois da transferência do Palmeiras para o City e antes de se apresentar a Tite para dois amistosos na Austrália, Gabriel Jesus passou alguns dias no bairro, reviu amigos e visitou familiares. Em vídeo publicado em suas redes sociais, apareceu dando um “rolinho” em seu amigo Guilherme Silva, na mesma rua que jogava quando criança.

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  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO

“Mas não publicou o chapeuzinho que deram nele”, provocou o amigo Weslley. Gabriel também foi visto andando de bicicletas pelas ruas do Jd. Peri.

O orgulho pelo seu morador mais ilustre é tão grande no bairro que faz até torcedor do Corinthians usar camisa do Palmeiras – presente do próprio ‘Tetinha’, como Gabriel é conhecido por ali. A origem do apelido tem duas versões. Uns dizem que surgiu porque ele era chorão. A outra explicação está ligada ao futebol, claro. Segundo relatos, ele passou a ser chamado assim porque sempre dizia que o jogo estava fácil, uma ‘tetinha’.

Na rua dos Camarões, Gabriel Jesus ganhou um grafite em sua homenagem, logo depois que foi campeão olímpico pelo Brasil no Rio. No desenho, o jogador veste a camisa da seleção, com o nome do bairro tatuado no braço. Do lado, está escrita a frase: “Posso até sair do Peri, mas o Peri nunca sairá de mim”.

No muro pintado de laranja a imagem do atacante está em destaque, acompanhada de outros dois brasileiros famosos, o piloto Ayrton Senna e o rapper Sabotage. A pintura foi feita para o Dia das Crianças, quando os moradores organizaram a festa.

  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO

“Estava difícil fazer a última festa, mas o Gabriel ajudou. Fechamos a rua, teve piscina de bolinha e futebol de sabão. Cada ano fazemos um bolo maior, o próximo vai ter oito metros”, diz Rui da Silva Lopes Júnior, que teve a ideia de fazer a homenagem ao craque juntamente com seu irmão e um amigo.

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A casa onde Gabriel morava fica em rua íngreme de paralelepípedos e calçada estreita. A residência parece pequena, apesar de ser difícil ver os detalhes por cima do portão de ferro que toma conta da fachada. No imóvel vizinho ainda mora o tio do jogador, Luís Antônio Diniz.

“A mãe (Vera Lúcia) separou do marido antes de o Gabriel nascer. Ele só conheceu o pai quando tinha 14 anos. Foi apresentado a ele. Ela teve de cuidar de quatro filhos sozinha. Mas sempre trabalhou fazendo faxina. Saía de casa de manhã e voltava só à noite. Teve um repórter que perguntou uma vez para ela se o Gabriel corria risco de entrar para o crime se não tivesse virado jogador. Tenho certeza que não. Ele é menino bom.”

Questionado se gostaria de morar em Manchester com o sobrinho, o tio sorriu. “Não, meu lugar é aqui no Jardim Peri.”