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Gil: O grande jejum do atacante

Por Agencia Estado
Atualização:

Que clube importante do mundo teria paciência de manter na equipe um atacante que fica seis meses sem marcar gol? E esse atleta continuar com o apoio da torcida, dos companheiros e do técnico. Apesar de ameaçado de demissão, Oswaldo de Oliveira o manteve na equipe do Corinthians ? quando seria muito mais fácil tirá-lo. Afinal, qual é a aura que protegeu Gil nos últimos seis meses? ?Tive a retribuição por tudo que fiz pelo Corinthians. Ninguém pode reclamar da minha aplicação em campo. Procuro em todos os momentos o melhor para o time. Sei que estou sendo cobrado pelos gols, mas tenho até mais prazer em dar um passe que resulte em gol do que eu mesmo marcar?, diz o ?intocável? Gil. O cuidado com o jogador tem várias explicações. A primeira é que o Corinthians ainda espera ganhar muito dinheiro com ele, que passou por uma fase sensacional do ano 2000 até a metade de 2002. Depois, um período decadente. Mas ninguém no clube admite que a situação seja permanente. ?O Gil tem um potencial maior que o do Kaká. Ele é uma das maiores revelações da história do Corinthians. O que está acontecendo se trata de fase. Quando ninguém esperar ele volta a ser aquele jogador que todos estavam acostumados a admirar. Não tenho a menor dúvida sobre isso?, afirma o vice-presidente Roque Citadini. Citadini sabe melhor do que ninguém que, com a longa má fase de Gil, sumiram os empresários interessados no jogador. Não há ninguém disposto a pagar nem um décimo do que o Milan pagou por Kaká ? os criticados US$ 8,2 milhões. ?O São Paulo vendeu barato. Quando no futuro distante formos vender o Gil, conseguiremos muito mais?, prometia Citadini. Só que a sua previsão não se concretizou. Gil e Citadini viram as promessas corintianas como Edu, Ewerthon e Kléber seguirem para a Europa. E, apesar das sondagens de equipes espanholas e francesas, o atacante ficou no Tatuapé. Vários conselheiros dizem que esse seria um dos motivos da desestabilização do atacante. Com personalidade toda particular, Gil segue a tendência de demonstrar estar abalado, desanimado diante das dificuldades. ?Muita gente disse que eu gostaria de ter sido vendido para o exterior. E por isso meu futebol caiu. Mas não é nada disso. Estou contente que os meus amigos foram vendidos. Sou muito feliz no Corinthians. Tenho apenas 23 anos e tudo irá acontecer na hora certa. Não é por esse motivo que deixei de jogar?, assegura. As suspeitas caíram sobre as inevitáveis baladas. Gil gosta de pagode e andou indo a shows. Principalmente no começo do ano. Com o clube despencando no Campeonato Paulista, ele se tornou um alvo mais do que fácil para as críticas. Torcedores que o encontravam não só o criticavam como ligavam para as redações ?denunciando? a vontade de festejar do jogador, que já acumulava meses sem marcar. ?Não sou de balada. O que acontece é que sou uma pessoa normal que tem o direito de ir aonde quiser. Sou profissional, um dos primeiros a chegar no clube e um dos últimos a ir embora. Ninguém pode me criticar por estar deixando de fazer as minhas obrigações. Ao contrário. Por isso não considero justas as críticas e acusações de baladeiro. Baladeiro é quem perde noite e abandona os treinos?, se defende Gil, irritado. ?Essa história de baladas é em outro clube. Aqui no Corinthians, não. Temos plena certeza de que o Gil leva vida de atleta e por isso tem crédito conosco. As pessoas têm uma fixação desesperada em encontrar explicação pela falta de gols do nosso jogador e ficam falando um monte de besteira. A diretoria confia plenamente nele?, encerra o assunto Citadini. É evidente que os dirigentes conversaram com todo o cuidado com Gil. E pediram sutilmente para o jogador parar de se expor tanto. Enquanto isso, Oswaldo de Oliveira, ameaçado de demissão, se questionava sobre o que poderia fazer para recuperar o atleta. Conversou muito com ele. Fez o papel de psicólogo que a diretoria se negou a contratar para o jogador. O treinador insistiu em saber como o atleta gostaria de atuar. ?Tive e tenho todo o apoio do Oswaldo. Ele tem a plena noção que nunca foi o jogador definidor que as pessoas cobram. Eu sempre atuei com um centroavante de área. Como o Corinthians ficou muito tempo sem esse atleta, as cobranças sobre o meu futebol se multiplicaram. Mas foi tudo administrado?, garante o atleta. Oswaldo decidiu radicalizar para ajudar Gil e o seu time. Decidiu investir não apenas em dois, mas em três atacantes. Colocou Jô e Marcelo Ramos para atuar junto dele. ?Com a entrada dos dois, a marcação sobre mim ficou menos rígida. Eu fiquei à vontade para partir com a bola dominada desde o meio-de-campo para cima dos zagueiros. Recebendo no meio-de-campo e enfrentando os zagueiros de frente, meu futebol tende a crescer. A mexida que o Oswaldo fez na equipe foi ótima para mim?. Com a instabilidade dominando a sua carreira, convocações para a seleção brasileira passaram a ser raríssimas. Sua última chance foi na Copa das Confederações, no ano passado. Começou atuando com seus companheiros que formavam o ?melhor lado esquerdo? do mundo no Corinthians: Kléber e Ricardinho. No final da pífia participação da seleção no torneio, todos haviam perdido a posição de titular. ?Não me abalo. Acho que tudo é mesmo uma fase. Quando der a volta por cima, voltarei a pensar em seleção. Antes, não tem jeito. Sinto que a fase ruim está perto de acabar?, diz.

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