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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Grande Irmão

Futebol está na contramão de outros esportes, que usam a tecnologia para auxiliar arbitragem

Por Antero Greco
Atualização:

As câmeras nos vigiam. Cada vez mais somos envolvidos e seguidos pelo olhar eletrônico onipresente – na rua, no elevador, na portaria de casa, no ambiente de trabalho, nas salas de teatro. Embutidas nos celulares, elas captam desde os passinhos do bebê às estripulias do bicho de estimação; da festa de aniversário à tentativa de assalto; do flagra do beijo da celebridade ao desabamento.

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Nada escapa ao Grande Irmão.

Não seria diferente no futebol. Sobretudo nas transmissões dos jogos. Os aparelhinhos se esparramam no alto, embaixo, nas laterais, nas linhas de fundo, nos bancos dos reservas, na linha de impedimento, nos túneis à beira do campo, nos vestiários. Canhões com lentes potentes esmiúçam as caretas dos jogadores nas divididas, denunciam agarrões imperceptíveis, nos permitem fazer leitura labial impecável dos diálogos que ocorrem dentro das quatro linhas.

O excesso de imagens massacra – e árbitros e auxiliares são alvos preferenciais da frieza das engenhocas. A vida deles virou um inferno, desde que se multiplicaram as câmeras em cada canto do estádio. Raros os jogos em que não se notem imperfeições da turma de preto. Eles não escapam.

Os erros são escancarados na hora. Os “lances polêmicos” proliferam, fazem a alegria dos debates, atormentam suas senhorias e engordam as teorias de conspiração. “Mancham os campeonatos”, como dizem alguns técnicos, e azucrinam carreiras.

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Por isso, o pessoal do apito anda com medo. Juízes e bandeirinhas têm consciência de que suas decisões são checadas em segundos. Não é à toa que se comunicam freneticamente pelos fones de ouvido, substitutos da conversa ao pé do ouvido. Não estranha que, vira e mexe, vacilem e modifiquem marcações, antes apontadas com convicção.

Em português claro: sabem que a interferência externa cresce – e, em muitos casos, não têm como driblá-la. Não é nem por má-fé, mas por insegurança, que voltam atrás, tão logo notam – ou são avisados – que aquele pênalti não foi, que o gol aparentemente legal foi impedido, ou que o atacante meteu a bola nas redes com a ajuda da mão.

Bate o pavor: fincamos pé na decisão original ou fazemos marcha à ré? A segunda alternativa tem prevalecido. Como tudo leva a crer ocorreu na quinta-feira no Fla x Flu. Sandro Meira Ricci ignorou a sinalização do auxiliar, que viu off side no segundo gol de empate tricolor, e apontou o meio do campo.

Depois, com a chiadeira rubro-negra, se deu conta da mancada, e levou uns dez minutos para desdizer-se. No fim das contas, livrou-se de mancada, mas armou enorme lambança. Assim, irregularmente anulou um gol irregular. Como ainda não está em vigor o juiz de vídeo, Meira Ricci não poderia basear-se em nenhuma opinião, exceto a de seus diretos colaboradores, para definir se foi ou não legítimo o gol.

Claro que o apitador jamais admitirá que uma voz do além lhe assoprou o caminho mais justo a seguir. Ninguém é sonso a tal ponto. Preferível vender a ideia de que houve equívoco e arcar com a “geladeira” como punição e humilhação menores. Ricci não é o primeiro nem será o último a ver-se sob o peso das imagens da televisão.

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O futebol está na contramão de outros esportes populares e que mexem com fortunas, como o tênis, a NBA, a NFL. Estes há muito recorrem ao tira-teima para resolver episódios duvidosos. No mundo da bola, pode mudar o ritmo da disputa? Sim. A medida reduzirá a zero a possibilidade de erros? Não. Mas diminuirá distorções escabrosas em lances capitais e contribuirá para transparência do esporte. O que a maioria quer, para desespero de alguns.

Noves fora a chiadeira de quem se sentiu prejudicado, o Brasileiro embolou pra valer e promete, nestas oito rodadas restantes, um final eletrizante. O domingo embute riscos para Palmeiras e Fla, que saem de casa para enfrentar Figueirense e Inter, ambos na zona de rebaixamento. Não descarto zebras à solta e nova liderança.