Publicidade

Há 30 anos, Bragantino venceu 'final caipira' e conquistou o Campeonato Paulista

Time viveu auge no início da década de 1990 e foi comandado por Vanderlei Luxemburgo em começo de carreira

PUBLICIDADE

Por André Carlos Zorzi
Atualização:

Há 30 anos, o Bragantino, atual Red Bull Bragantino, conquistou o principal título de sua história. Em 26 de agosto de 1990, com jogadores como Mauro Silva, Biro-Biro, Mazinho, Nei e Tiba e sob o comando do técnico Vanderlei Luxemburgo, o time de Bragança Paulista derrotou o Novorizontino e conquistou o título paulista, uma façanha e tanto diante dos grandes do Estado.

Naquela época, um de seus principais jogadores, o volante Mauro Silva, hoje diretor da Fedareção Paulista de Futebol, se tornaria referência na conquista do Brasil de seu quarto titulo mundial. Ao lado de Dunga, ele foi titular e peça importante na Copa do Mundo de 1994, quando a seleção brasileira superou a Itália e se sagrou tetracampeã depois de 24 anos. 

Jogadores do Bragantino comemoram o título do Campeonato Paulista em 1990 Foto: Arquivo / Estadão

PUBLICIDADE

A campanha

À época, o Paulistão de 1990 contava com 24 times divididos em dois grupos de 12. No 1º turno, os times enfrentavam os rivais do outro grupo, e no 2º, os adversários da mesma chave. O Bragantino estava no grupo com os principais times do Estado, e os três melhores de cada um avançavam direto à próxima etapa. Além deles, os de melhor pontuação no geral e os vencedores de uma repescagem, também. Apenas o líder de cada um dos grupos da fase seguinte, com sete times cada, teriam lugar na final. A equipe de Bragança chegou à última rodada dependendo de um empate contra o Corinthians para avançar. O jogo foi 0 a 0, mas o Bragantino perdeu seu capitão, o zagueiro Nei, por lesão. No outro grupo, mais uma surpresa: o classificado foi o Novorizontino. Nos confrontos com os quatro principais times de São Paulo ao longo da campanha, o Bragantino perdeu apenas para o Santos por 1 a 0. Contra Corinthians (1 a 1, 2 a 2 e 0 a 0), Palmeiras (0 a 0) e São Paulo (0 a 0) empatou seus jogos. Ainda houve vitória contra o Santos por 2 a 0.  Outros jogos de destaque foram o 4 a 0 sobre o Juventus e 3 a 0 diante da Ponte Preta. Segundo o presidente do Bragantino à época, Jesus Abi Chedid, a folha de pagamento girava em torno de 6 milhões de cruzeiros por mês, sem contar as premiações.

Jogadores do Bragantino antes da final do Campeonato Paulista de 1990 Foto: Arquivo / Estadão

'Final Caipira'

No jogo de ida, em Novo Horizonte, Édson abriu para os donos da casa aos 42 minutos. No 2º tempo, uma falta de Barbosa próxima à grande área, aos 22, originou cobrança ensaiada que culminaria no gol de Gil Baiano. O Bragantino ainda teve outro bom lance, pela direita, em que o goleiro foi driblado, mas a zaga salvou quase na linha. O 1 a 1 ainda dava a vantagem do empate para o time de Bragança na volta. Eram duas partidas. Antes do jogo derradeiro, os técnicos das duas equipes buscaram exemplos do passado para incentivar seus comandados. "Vocês lembram da decisão de 1988 entre Guarani e Corinthians? O Guarani tinha mais time e só precisava empatar. Mas o Corinthians não desistiu, foi guerreiro até o fim e Viola marcou o gol do título na prorrogação", dizia Nelsinho Baptista. Já Luxemburgo foi mais longe. "Vocês conhecem a história da Copa de 50? Não caiam nessa armadilha de que o Novorizontino está satisfeito com o vice. Se for preciso, vamos suar sangue."

Assim como no jogo de ida, o Novorizontino saiu na frente, aos 22 da etapa complementar. O gol de empate veio quatro minutos depois. O herói do título foi Tiba, então um jovem de 21 anos, vindo de Araguaina, no Tocantins, onde tinha trabalhado como peão de lavoura. Na época, seu passe pertencia ao Vasco. Aos 26 minutos, ele arrancou em velocidade pela direita e chutou cruzado, fechando os olhos, achando que a bola bateria na trave. Ao ouvir a comemoração da torcida, abriu os olhos de novo. "Acho que foi o momento mais longo da minha vida. Mas Deus está comigo", contou. "Precisamos administrar corretamente esse título. A vinda de um craque seria o pulo do gato para mostrar que somos realmente grandes", disse Luxemburgo em entrevista após a conquista. O técnico, porém, prometia sair do clube no máximo até dezembro. "Técnico não deve ficar mais do que dois anos num time para não viciar a estrutura".

Publicidade

Jogadores do Bragantino comemoram o título do Campeonato Paulista em 1990 Foto: Arquivo / Estadão

Período áureo

O Bragantino já vinha apresentando campanhas de destaque desde 1988, quando foi campeão da segunda divisão do Paulista, liderando seu grupo nas duas fases iniciais e superando o Grêmio Esportivo Catanduvense na final por um placar agregado de 5 a 0. Na inchada Série B de 1989, com 96 participantes, o time avançou com folga graças a uma 1ª fase invicta. Foram oito vitórias e apenas dois empates num grupo com seis equipes de São Paulo, Rio e Minas Gerais. No mata-mata, superou o próprio Catanduvense (1 a 0 e 1 a 1), Juventus (1 a 0 e 3 a 2), Criciúma (0 a 1 e 3 a 0) e Remo (0 a 0 nos dois jogos, com vitória por 4 a 1 nos pênaltis) até chegar à grande final, quando venceu os dois jogos contra o São José (1 a 0 e 2 a 1). Logo após o título do Paulistão em 1990, o Bragantino fez sua estreia na elite nacional com o pé direito: chegou às quartas de final, e esteve à frente do Bahia no placar tanto na ida (1 a 1) quanto na volta (derrota por 3 a 2), mas acabou eliminado.

São Paulo e Bragantino na final do Brasileirão em 1991 Foto: Orlando Kissner / Estadão

A principal campanha, porém, viria em 1991, com Carlos Alberto Parreira como técnico. Na 1ª fase, avançou às semifinais com a mesma pontuação do líder São Paulo, 26 pontos, na 2ª colocação. Um gol de Franklin no fim do jogo surpreendeu o Maracanã com mais de 70 mil pagantes na vitória do Massa Bruta por 1 a 0 sobre o Fluminense. Na partida de volta, em Bragança, o time saiu atrás no placar, mas Franklin, novamente, empatou, garantindo a vaga na decisão. Como o São Paulo havia empatado suas partidas contra o Atlético-MG, a vantagem de decidir em casa ficou com o Bragantino, que na ida acabou derrotado por 1 a 0, no Morumbi. Na volta, no Marcelo Stefani, os times não saíram do 0 a 0, deixando o título com o Tricolor de Telê Santana, Zetti, Cafu, Raí e Müller.

Por pouco o alvinegro não chegou à final também em 1992: após uma boa 1ª fase, na 3ª colocação, o Bragantino ficou apenas um ponto atrás do Botafogo em um quadrangular que dava vaga na decisão. Na segunda metade dos anos 1990, porém, a equipe entrou em decadência e enfrentou rebaixamentos. Nos anos 2000, vagou pelas Séries B e C do Brasileirão e retornou à primeira divisão apenas em 2020, após firmar parceria com a Red Bull e receber investimentos.

Bragantino 1 a 1 Novorizontino - Ficha Técnica

Bragantino - Marcelo; Gil Baiano, Júnior, Carlos Augusto, Biro-Biro; Mauro Silva (Franklin), Tiba e Mazinho (Robert); Ivair, Mário e João Santos. Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

Novorizontino - Maurício; Odaria (Edmilson), Fernando, Márcio Santos e Goiano; Tiãozinho, Marcão e Édson; Barbosa, Roberto Cearense (Flávio) e Róbson. Técnico: Nelsinho.Árbitro - José Aparecido de OliveiraRenda - Cr$ 8.505.470,00Público: 15 mil pagantes

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.