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‘Há o futebol e os outros futebóis’, aponta pesquisadora

Silvana Goellner alerta que é preciso muito cuidado ao comparar qualquer esporte ao futebol masculino dos grandes clubes

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Foto do author Gonçalo Junior
Por Catharina Obeid e Gonçalo Junior
Atualização:

Silvana Goellner, pesquisadora sobre gênero, esporte e futebol feminino, alerta que é preciso muito cuidado ao comparar qualquer esporte ao futebol masculino dos grandes clubes da primeira divisão. “Nenhuma outra modalidade esportiva tem estrutura, visibilidade e a questão salarial igual ou ao menos que se aproxime dessa matriz espetacularizada”, pontua a especialista.

A realidade do que ela chama de “outros futebóis” é muito diferente da elite masculina e inclui até mesmo o fato de que muitas jogadoras precisam ter outras profissões para conseguir estabilidade financeira, uma vez que não contam com o salário garantido os 12 meses do ano. “Nesse sentido, o futebol acaba sendo uma ocupação”, analisa a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Pesquisadora aponta que comparar qualquer modalidade ou esporte com o futebol masculino dos grandes clubes é irreal em um País como o Brasil Foto: Bruno Teixeira/Corinthians

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Outro ponto levantado por ela é que o futebol feminino no Brasil foi proibido durante 40 anos, o que não justifica a ausência de um planejamento estratégico de desenvolvimento da modalidade a curto, médio e longo prazo. Pelo contrário, essa falta de investimento desde os anos 1980, quando caiu o decreto, mostra a falta de oportunidade e de espaço, fruto de um ciclo sexista no qual o futebol é de domínio dos homens. “Ele é dos homens porque a elas não são dadas oportunidades”, diz.

Alguns avanços como jogadoras em peças publicitárias e um uniforme elaborado de acordo com as necessidades femininas foram vistos na última edição da Copa do Mundo da França, vencida pelo EUA de Megan Rapinoe. Além disso, jogos da seleção foram transmitidos pela TV aberta. “Cria a chance que outras meninas se reconheçam nesse futebol e vejam que ele pode ser uma profissão delas, se assim desejarem. A questão de representatividade que as atletas têm no cenário da criação de novas jogadoras é fundamental”, explica a especialista.

Silvana exalta ainda a importância de dar o mérito desses pequenos progressos às atletas, por não desistirem ou deixarem de acreditar sequer por um segundo. “Aquilo que elas conseguiram no futebol não foi concedido, foi conquistado mediante muita luta, de provar que são capazes e mostrar resiliência, pois, apesar das adversidades, elas continuam no futebol.”

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